PT tenta se descolar de política econômica de Dilma para evitar mais desgaste
A dificuldade em convencer os petistas a aprovarem o pacote fiscal proposto pelo governo na Câmara expôs a indisposição do partido da presidente Dilma Rousseff em “engolir” a política econômica conduzida pelo ministro Joaquim Levy. Além de não concordarem com o ajuste, a forma com que o governo conduziu as conversas preliminarmente irritou o partido, que reclama de sempre pagar mais pelos erros de condução do governo.
O descontentamento não se restringe às correntes de esquerda do partido. É generalizada. Os petistas se queixam de que o governo não explicou as medidas, não conversou de forma satisfatória com as centrais sindicais e que as peças publicitárias sobre o pacote saíram tardiamente. Desta forma, considerou um dirigente, o ônus ficou com o partido, acusado de trair a causa trabalhista.
O governo só lançou as peças publicitárias no início de maio, quando criou a página “ajustar para avançar”, com um vídeo de um minuto sobre o tema, uma hashtag com o slogan nas redes sociais. Antes disso, havia lançado somente uma cartilha sobre o tema.
Embora no último momento, o partido tenha votado na Câmara, segundo a orientação do governo para aprovar as duas medidas provisórias, petistas, em reservado, falavam sobre a contrariedade de se votar o ajuste sobre direitos dos trabalhadores. “Ninguém aqui votou feliz”, disse um dos deputados.
A contrariedade ficou explícita na fala do deputado Carlos Zaratini (PT-SP), que renunciou ao cargo de vice-líder do governo, após se posicionar a favor de mudanças no fator previdenciário, contrariando o próprio relatório que mantinha a posição governista de continuidade das regras atuais.
O deputado, que foi relator da medida provisória 664, na qual foi incluída a emenda, disse que a maioria da bancada petista era favorável à mudança do fator, mas acompanhou a orientação do governo. No último momento, ele apoiou a emenda do PTB.
Além de Zaratini, o próprio ex-presidente Luiz Inácio Lula da Silva emitiu sinais de insatisfação com a condução das medidas por parte do Planalto, ao falar em um congresso de sindicalistas em São Bernardo do Campo na semana passada. “Foi um erro ter feito isso por medida provisória”, criticou Lula.
A cúpula do partido já espera que a posição contrária à condução do governo já se manifeste com força na segunda etapa do congresso do partido marcada para os próximos dias 11, 12 e 13 de junho, em Salvador.
A reunião marcada para esta segunda-feira (18), da executiva do partido, que trataria da preparação para o congresso acabou adiada para o início de junho.
Fonte: iG