Projeto para elaboração da biografia de Judélio Carmo começa a ser implementado – Maurílio Fontes

Há muitos anos pretendia enveredar pelos desafiadores caminhos do trabalho biográfico. Sou leitor assíduo de biografias.

Nos últimos anos li a biografia do baiano Carlos Marighella, do jornalista Mário Magalhães, a trilogia sobre Getúlio Vargas, do jornalista Lira Neto, que desvendou, não sem polêmicas, a trajetória do ditador e presidente eleito, e mais recentemente a biografia (primeiro volume) escrita pelo jornalista e professor aposentado da Universidade Federal da Bahia (UFBA) Emiliano José, ex-deputado estadual e ex-deputado federal, sobre o ex-deputado estadual, ex-deputado federal, ex-governador da Bahia, ex-ministro da Previdência Social, da Controladoria Geral da União e da Defesa Waldir Pires, nascido no município de Acajutiba em 1926 e falecido no ano em curso. Waldir foi secretário de Governo de Régis Pacheco aos 24 anos. 

Anteriormente, havia lido a biografia de Frank Sinatra, calhamaço de mais de 1.200 páginas, escrita pelo romancista e roteirista James Kaplan.

Outros trabalhos, também biográficos, sobre Einstein e Benjamin Franklin (um dos pais fundadores dos EUA, como dizem os americanos), de autoria de Walter Isaacson, ex-presidente da CNN e ex-editor executivo da revista Time, foram lidos nos últimos dois anos. 

A narrativa biográfica, assim como qualquer estilo literário, apresenta grandes desafios. Mário Magalhães relatou em entrevista:  “Uma das maiores armadilhas para um autor, quando ele tem muita matéria-prima, é que essa quantidade de informação destrua a qualidade narrativa. E um personagem que viveu uma vida tão intensa quanto o Marighella, eu não tinha o direito de transformar a vida dele num relato enfadonho. 

Parte da obra de Laurentino Gomes, jornalista e escritor prolífico, que escreveu sobre personagens importantes da história política do Brasil, também já foi lida (1808, 1822,1889).

A biografia de Judélio Carmo exigirá entre dois e três anos para sua conclusão. Trabalho de fôlego em razão de sua complexa personalidade, da atuação no jornalismo por várias décadas (jornal A Tarde e revista O Cruzeiro), do ingresso precoce na política e do exercício de mandatos eletivos (um de vereador, dois de prefeito de Alagoinhas e um de vice-prefeito), além de sua participação efetiva na política baiana por mais de 30 anos e dos muitos relacionamentos que construiu.

Judélio Carmo dava importância à coisas aparentemente sem relevância para muitas pessoas, mas que agradavam seus amigos. Ficaram famosos os sacos e sacos de laranja que enviava para a redação de A Tarde no período das festas juninas, bem como para secretarias de estado e órgãos públicos. Ele sabia fazer amizades. E também adversários. 

Este projeto que me proponho fazer, nesta primeira fase, exigirá a realização de centenas de entrevistas com pessoas que conviveram com Judélio Carmo em Alagoinhas, Salvador, Brasília, Rio de Janeiro, São Paulo. O primeiro passo é identificar os futuros entrevistados. 

Minha opção será começar pelos companheiros de Judélio Carmo de A Tarde. O jornalista Levi Vasconcelos me disse recentemente, após ser informado sobre meu desejo de escrever a biografia: “Corra, pois os companheiros da época dele já morreram ou estão morrendo”. Isso me fez apressar o passo.

Obviamente, a história oral tem grande relevância na construção biográfica. Mas não se pode descurar da importância da pesquisa em arquivos de A Tarde e da revista O Cruzeiro como forma de construir o perfil profissional do jornalista e político Judélio Carmo. considerado um dos melhores de sua geração, mas que de alguma forma ficou em segundo plano em função do exercício de mandatos eletivos concedidos pelo povo de Alagoinhas. 

Documentos oficiais da Prefeitura de Alagoinhas terão, necessariamente, que ser objeto de pesquisa. 

Entre nós, nos segmentos sociais contemporâneos do prefeito Judélio Carmo, sua atividade jornalística ficou em segundo plano, embora ele tenha sido considerado um dos melhores profissionais de sua geração. 

É válido salientar a importância, o prestígio e o peso de A Tarde na política, economia e sociedade da Bahia nos anos 60, 70 e nas décadas subsequentes. A revista O Cruzeiro representou grande inovação no jornalismo brasileiro e atingiu recordes em suas tiragens semanais. 

Ser jornalista de A Tarde, assinar matérias (algo não tão comum lá atrás) e ter acolhimento de “Dona Regina”, Regininha para Ernesto Simões Filho, fundador do jornal, eram sinais de grande prestígio.

Judélio Carmo foi amigo do jornalista Sylvio Simões de Mello Leitão, filho de “Dona Regina” e seu braço forte no periódico. 

Neste momento, é impossível ter a exata dimensão do trabalho e plena noção do resultado final.

Não sem polêmicas, a biografia de Judélio Carmo, um dos políticos alagoinhenses mais importantes da segunda metade do século XX, será um encontro com parte da história do município.

Minha formação em história, o rigor que o jornalismo exige e me ensinou, a busca pela neutralidade, sempre de bom alvitre, a constante autocrítica, a boa desconfiança sobre as fontes, o entendimento acerca da memória coletiva e individual e a definição dos caminhos metodológicos que precisam ser trilhados ajudarão muito na elaboração da biografia de Judélio Carmo.

O trabalho não poderá ter tons laudatórios, meramente elogiosos, e nem tão pouco enveredar para críticas acerbas. 

Além de Judélio Carmo, dois personagens da história política e empresarial da Bahia me interessam pela grandeza de suas realizações. Ambos não tiveram nenhuma vinculação com Alagoinhas. 

Planejo, à medida que as entrevistas forem gravadas e as pesquisas se tornarem consistentes, escrever artigos no site Alagoinhas Hoje sobre fatos da trajetória de Judélio Carmo no jornalismo e na política. 

 

Maurílio Fontes

Proprietário, jornalista, diretor e responsável pelo Portal Alagoinhas Hoje

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