Polêmico, gás de xisto terá leilão no Brasil em outubro

Uma fonte de energia polêmica nos EUA e proibida em países como a França e a Bulgária está prestes a começar a ser explorada no Brasil: o gás de xisto, também chamado de gás não convencional.

A ANP (Agência Nacional do Petróleo) marcou para os dias 30 e 31 de outubro o primeiro leilão de blocos de gás -normalmente, eles estão incluídos nos leilões para exploração de petróleo.

Segundo a diretora-geral da ANP, Magda Chambriard, as reservas de gás em terra podem ultrapassar as do pré-sal. Projeções da ANP indicam potencial de reservas de 500 TFC (trilhões de pés cúbicos), o dobro dos 226 TFCs conhecidos até hoje.

Entre as áreas ofertadas há algumas com potencial para extração de gás não convencional, que não está livre nos reservatórios subterrâneos como o gás comum. Para extraí-lo é preciso “explodir” as rochas, injetando no subsolo grandes quantidades de água, areia e produtos químicos. Esse método gera questionamentos sobre os seus impactos ambientais.

A descoberta de grandes reservas nos EUA levou a uma queda significativa no preço do insumo, atraindo a instalação de novas indústrias.

Enquanto no Brasil o preço do gás convencional gira em torno de US$ 12 o milhão de BTU (medida britânica de energia), nos EUA ele custa em torno de U$ 3.

RISCOS

Empresas como Petra, OGX , HRT, Orteng, Cemig e Petrobras avaliam oportunidades na produção do gás não convencional.

O secretário de Minas e Energia, Marco Antônio Almeida, diz que a técnica de fraturamento não é nova na indústria de petróleo. “Teremos algumas exigências adicionais [em relação aos leilões habituais], como fraturamento com poço revestido, cimentação mais adequada e projeto aprovado pela ANP.”

Ambientalistas afirmam que a técnica de fraturamento do subsolo amplia os riscos de contaminação do lençol freático e de explosão por vazamento de metano. Possíveis terremotos também são apontados como danos relacionados à exploração.

Segundo Luis Antonio Menzes da Silva, da Villemor Amaral Advogados, esse tipo de exploração gera milhares de ações judiciais nos EUA e no Canadá. No Brasil não deverá ser diferente. “A atividade tem especificidades próprias e não se pode apenas reproduzir o que é feito nas licitações de petróleo e gás.”

A polêmica sobre o gás de xisto chegou a Hollywood. Em dezembro, estreou nos EUA “Promised Land” (“Terra Prometida”), no qual o ator Matt Damon interpreta um executivo de uma produtora do gás que tem sua atuação questionada quando o rebanho de uma cidade começa a morrer após beber água possivelmente contaminada.

O filme segue a linha do documentário “Gasland”, de 2011, que mostra um morador “incendiando” a água da torneira com um fósforo.

Para o ex-deputado federal Fabio Feldmann (PV) a falta de debate é o maior problema para a realização do leilão já neste ano. “Não existe nada específico sendo estudado pelo Ibama, Ministério do Meio Ambiente ou ANA (Agência Nacional de Água).”

O Ministério do Meio Ambiente confirmou que não está envolvido no assunto.

Segundo a ANP, o leilão seguirá o mesmo trâmite dos demais, com as áreas “previamente analisadas quanto à sensibilidade ambiental pelo Ibama e pelos órgãos estaduais competentes”.

Para o presidente do conselho de administração da consultoria Gas Energy, Marco Tavares, os riscos ambientais do gás não convencional já foram equacionados.

No leilão de outubro serão oferecidos blocos nas bacias do Paraná, Parecis, Parnaíba, Recôncavo, Acre e São Francisco.

Fonte: Folha de São Paulo

Maurílio Fontes

Proprietário, jornalista, diretor e responsável pelo Portal Alagoinhas Hoje

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