Padre Kelmon faz uso indevido de vestimentas religiosas
“Tem candidatos aqui que vestem uma roupagem para te enganar”, afirmou Padre Kelmon (PTB), durante o debate no SBT entre candidatos a presidente da República, na última semana. Em eventos públicos — como o debate da TV Globo, nesta quinta-feira (29) —, o baiano de 45 anos sempre aparece com batina, touca e crucifixo. Especialistas explicam que as vestimentas não são compatíveis com a figura de um padre, de acordo com as convenções religiosas.
Kelmon se diz padre ortodoxo, mas nunca foi sacerdote das igrejas da comunhão ortodoxa no Brasil, como revelou a colunista do GLOBO Malu Gaspar. Se fosse, de fato, padre ou sacerdote — e se seguisse corretamente as diretrizes eclesiásticas —, Kelmon não utilizaria alguns dos acessórios que costuma ostentar publicamente. Tradicionalmente, os chapéus são usados por figuras de hierarquia superior. Os colares longos com um crucifixo (ou “cruz peitoral”, como costumam ser chamados) também são elementos associados à função hierárquica de bispo ou cardeal.
Especialistas apontam que o uso indevido da cruz peitoral e do chapéu — ou de uma touca estampada com cruzes, acessório que não é reconhecido por cristãos ortodoxos no país — acaba criando a falsa imagem de liderança religiosa.
— Parece-me que esses elementos estão sendo usados de modo não convencional — afirma Rodrigo Coppe, historiador e professor do Programa de Pós-graduação em Ciências da Religião da Pontifícia Universidade Católica de Minas Gerais. — Kelmon usa símbolos de hierarquias mais altas. E sobre o chapeuzinho, não dá para saber o que ele quer mostrar com isso.
Entre adeptos da igreja ortodoxa, não há registros da utilização de toucas de pano como as utilizadas por Kelmon. Normalmente, os sacerdotes usam um chapéu em formato cilíndrico, de cor preta, com um pequeno véu que recai sobre as costas. Essa é a tradição.
— Nunca tinha visto um chapéu como o que ele usa. Esse é um acessório que não é conhecido — explica Coppe. — A tradição diz que esse chapéu era usado por monges da Antiguidade, do século IV ou V, quando se apareceu o que é chamado de “padre do deserto”.
Símbolo de diferenciação nas igrejas, a batina — outra vestimenta usada por Kelmon — representa a negação para a vida terrena e secular. A roupa que se estende até os pés é marcada por 33 botões, número que representa a idade que Jesus Cristo teria quando foi morto.
— Essa vestimenta, junto com todos os acessórios, relembra aspectos eclesiásticos da Igreja Católica ou mesmo da Igreja Ortodoxa para quem tem funções de comando e liderança — acrescenta Coppe. — O máximo que um padre usa hoje é uma roupa preta com um clérgima, aquele detalhe branco no pescoço. Um padre não usa uma cruz. E também não usa uma touca.
Fonte: O Globo