“Ou Bolsonaro se alia a esses partidos [do Centrão] ou ele vai cair”, afirma Roberto Jefferson

Responsável pela denúncia do mensalão, no governo Lula, o presidente nacional do PTB, Roberto Jefferson, diz que o Supremo Tribunal Federal fez interferências “descabidas” nas ações do governo federal e que isso está provocando uma crise sem precedentes, com ameaças à estabilidade da política do país e à paz social. De acordo com ele, ou Bolsonaro reage, “ou vão subir no cangote dele”, como fizeram com seus antecessores. Como alternativa para isso, ele defende a negociação do Planalto com os partidos que integram o Centrão. Condenado pelo STF por corrupção passiva e lavagem de dinheiro, Roberto Jefferson emendou: “Eu assevero a você, que o Bolsonaro não rouba e não deixa roubar”.

Que avaliação o senhor faz do cenário atual? Vivemos um momento tenso?

Eu vejo com muita preocupação as constantes intervenções inconstitucionais e ilegais que vem fazendo os ministros do Supremo de maneira autônoma, às vezes de maneira coletiva, nos deveres constitucionais da Câmara dos Deputados e da presidência da Republica. São muito preocupantes. Os ministros do STF têm procurado legislar e têm procurado decidir como se presidentes fossem eles. Essa crise institucional vai acabar desembocando numa crise social de dimensões continentais, vai ser uma coisa muito grave e é culpa do Supremo, por que é uma intervenção absolutamente descabida que ele vem fazendo, desestabilizando a política do País e a paz social.

Como o senhor viu a decisão do STF de suspender a nomeação do novo diretor-geral da Polícia Federal?

Eu vi ainda a decisão do ministro Alexandre Morais, quando impediu a posse do Dr. Ramagem, chefe da Abin, que ele fosse indicado para o cargo pelo presidente da República, como uma indevida intromissão do ministro Alexandre Moraes, em usurpar poderes que são prerrogativas legais e constitucionais do presidente da República. Um absurdo a atitude dele. Ele errou, se equivocou, ele abusou dos seus poderes e das suas prerrogativas. Eu, se fosse o Bolsonaro, sabe o que eu faria com aquele mandato de segurança? Eu rasgava e jogava no lixo. Publicava a nomeação do Dr. Alexandre Ramagem para a direção-geral da Polícia Federal, dava a posse e mandava o ministro Alexandre Moraes ir reclamar com o papa, lá em Roma. Eu não acataria essa decisão arbitrária que ele tomou.

Isso abriria uma crise institucional sem precedentes no país…

É claro, mas é a resposta aos abusos excessivos e permanentes de ações isoladas, autônomas de ministros do Supremo. Ou se põe um ponto final a isso ou ninguém mais governa este país em paz. Eles vão querer interferir no orçamento, na política sanitária, na saúde. O ministro Marco Aurélio Mello impediu o presidente de agir na crise de saúde, amarrou as mãos dele, e disse: “olha, você só pode assinar cheque. A competência da política de saúde para estados e municípios é apenas dos governadores e dos prefeitos, você está fora. Quem vai falar sobre lockdown, quem vai falar sobre isolamento parcial, quem vai falar que remédio usar são os prefeitos e os governadores. Você está fora, Bolsonaro, você assina apenas o cheque e manda o dinheiro do orçamento para os estados”. Então uma interveniência no governo na ação do Ministério da Saúde. Isso vai parar aonde? Então o Supremo está provocando uma crise institucional e, para você testar até onde vai a ameaça dos ministros do Supremo, você tem que reagir, porque o Temer não reagiu e os ministros subiram no cangote dele. A Dilma não reagiu e os ministros subiram no cangote dela. E se o Bolsonaro não reagir, eles vão subir no cangote dele. Então o meu conselho ao presidente Bolsonaro é o seguinte: corcoveia, joga no chão este ministro, desafia ele a tomar uma atitude depois que você desobedecer este mandado, que é inconstitucional, que é ilegal. Rasga, joga fora e manda ele ir lá recorrer ao papa lá em Roma, pra tentar mudar uma decisão sua.

Há espaço pra se falar em impeachment hoje?

O grande feiticeiro, o grande mago dos impeachments no Brasil é o Fernando Henrique, e ele, no dia 20 de abril, no mês passado, deu uma entrevista, na página 6 do jornal Estado de São Paulo, onde pedia abertamente o impeachment do presidente, dizendo que o Bolsonaro já não governava mais, que havia uma grave crise social com a pandemia de covid-19, uma crise financeira com o fechamento de vagas de empregos, de fechamento de empresas, que nós já vivíamos no Brasil um governo compartilhado. Que o governo era compartilhado entre ministros do Supremo, o presidente da Câmara e do Senado. Ali ele startou um movimento que vinha sendo feito no Congresso para fazer o impeachment do presidente Bolsonaro. Quem era o cabeça, o maestro, como no passado foi no impeachment Collor? O mesmo Fernando Henrique Cardoso. Aí o que ele faz neste acordo com o Rodrigo Maia, com o Doria, Witzel, com Alcolumbre, com Alexandre de Moraes, com Celso de Mello, na tentativa de provocar o impeachment naquela hora, naquele momento. Eles começaram a negociar uma PEC 101, de 2003, do ex-deputado Benedito de Lira que permitia a reeleição na mesma legislatura para a presidência da Câmara. Então, todos os partidos, aí liderados pelo o DEM, pelo PSDB, mais os partidos de oposição, da esquerda, votariam essa PEC 101 aprovando a reeleição e o Rodrigo entregaria a cabeça do Bolsonaro, recebendo contra ele o pedido de impeachment, e isso foi tentado. E por que o Fernando Henrique Cardoso? Porque o Fernando Henrique Cardoso conhece isso. Eu fui da CPI do Collor, eu fiquei ao lado do Collor até o final e vi na CPI que o principal articulador era o Fernando Henrique, junto com o Mário Covas. Foi a mesma ação, a mesma operação, a mesma concentração de forças, os mesmos modos operantes do FHC com as forças políticas. Eles estão repetindo agora no presente momento contra o presidente Bolsonaro.

O próprio Collor disse que Bolsonaro estava repetindo erros, que levaram à saída dele do Planalto. Como o presidente deve se comportar a partir de agora?

Vamos lembrar ao povo da Bahia esse episódio. Collor foi acusado de tudo, renunciou, foi absolvido por 10 x 1 no Supremo das acusações que tinham contra ele. O Collor era cheio de empáfia, não falava muito bem com a imprensa, era meio casca grossa, durão, tinha um gravíssimo defeito: não fazia política, não recebia os políticos em seu gabinete. Esse foi o principal erro que Collor confessa. Ele colocou na Casa Civil o Jorge Bornhausen, que foi o principal articulador da sua queda, alinhado com Itamar Franco, a favor do impeachment e depois, a favor da renúncia. São coisas do passado, que fazem parte da história. Aí o Collor está dizendo que o Bolsonaro comete o erro de enfrentar a classe política, sem fazer concessões. Foi o que aconteceu no começo do governo, quando ele enfrentou o Congresso Nacional, sem fazer concessões ao Congresso Nacional. O presidente Bolsonaro tem incidido nesse erro. Ele tem ojeriza à velha política do toma lá, da cá.

O presidente se elegeu sob esse discurso de acabar com a relação promíscua entre o Planalto e o Congresso. No entanto, agora fragilizado, ele começou a estabelecer diálogo com os partidos do Centrão. Isso não é um contrassenso?

Se ele não fizer, ele vai cair. Ou Bolsonaro se alia a esses partidos ou ele vai cair. O Collor mesmo já está dizendo. Agora o presidente Bolsonaro não rouba e não deixa roubar. Não vai ter PC Farias na vida dele. Não vai ter Pedro Collor, que vá dar uma entrevista na Veja acusando o irmão. Você repare que há diferenças, pois o irmão vomitou na Veja todo o caixa dois de campanha, que era gerenciado pelo PC Farias naquela época, o que levou àquela violenta pressão e à CPI do Collor no Congresso. Mas o presidente Bolsonaro se elegeu com R$ 2 milhões, sem tempo de rádio e televisão, o que é uma soma ridícula para uma eleição presidencial. Ele não rouba, isso eu assevero a você, que não rouba e não deixa roubar. Isso tem levado ao desespero a velha política do Congresso Nacional. Os velhos políticos, com aquela velha maneira do toma lá, dá cá. Política de coalizão, nomeia um carguinho e faz caixa dois para a eleição. Isso não está havendo no governo do presidente Bolsonaro. E olha onde a crise chegou, nas vésperas das eleições municipais. Ele conseguiu tocar até agora assim, sem troca de cargos. Durante o ano passado inteiro ele fez reformas seríssimas, como a da Previdência, que nenhum outro presidente teve coragem de fazer e ele fez. Você veja que na véspera do prazo de filiação partidária, 4 de abril, a crise eclode. Foi o Rodrigo Maia, o Alcolumbre, é o Doria, o Witzel. Mas qual é a razão disso? Não tem dinheiro para fazer campanha de prefeito e vereador. Eleger prefeitos e vereadores é a base da política, o pilar. Quem não construir bases agora não se elege em 2022. E aí tocou o desespero na velha política, pois isso é um vício, é igual a viciado em cocaína, se não cheirar dinheiro, não sai de casa. É igual ao Geddel Vieira Lima, que tinha quase R$ 52 milhões escondidos em malas de dinheiro num apartamento em Salvador. A velha política quer assim, ter o dinheiro na mão para financiar o vereador e o prefeito. E aí o presidente Bolsonaro que não rouba e não deixa roubar… Ele está de pé na porta do cofre do tesouro nacional, o que tem gerado essa monstra crise de insatisfação e abstinência da velha política, que não vê dinheiro na véspera da eleição. Mas o presidente tem que sobreviver. Não tem partido santo.

O PTB não faz parte do centrão, e qual o objetivo do senhor em ter feito o convite para o presidente Bolsonaro se filar ao partido?

Pois é, eu quero fazer parte do governo através do presidente da Republica, o PTB quer. Nós não queremos indicar cargo nenhum, nós queremos um cargo: o cargo de presidente da Republica. O presidente Bolsonaro não tem partido, então, ele pode vir para o PTB. Vem para o PTB que ele vai encontrar no PTB homens que pensam como ele, que creem em Deus, que creem no Brasil, que são conservadores, que defendem a pátria, que defendem a família. Nós, do PTB, temos essas convicções pessoais, programáticas e estatutárias. Então, ele vindo para o PTB, ele vai encontrar homens da mesma estirpe, do mesmo tamanho intelectual e da mesma base filosófica que ele tem e que vão protegê-lo na sua caminhada. É um partido que se concilia com a sua maneira de pensar e com a sua maneira de agir. Nós não queremos indicar cargo nenhum no governo do presidente Jair Bolsonaro, não fomos convidados para conversar porque não integramos o Centrão e nem nos oferecemos a conversar, estamos emprestando apoio a ele. Se ele me perguntar “ô, Roberto Jefferson o que você quer?”, eu digo: volta pro PTB, presidente, você já foi do PTB. Eu era o líder do PTB e ele foi meu liderado na bancada do partido. Homem honrado, homem sério, homem de palavra, homem limpo de princípios e de atitudes, que seria um prazer tê-lo de novo no PTB, porque ele nos engrandeceria e nos daria de novo as dimensões nacionais que o PTB merece.

 

Fonte: A Tarde

Maurílio Fontes

Proprietário, jornalista, diretor e responsável pelo Portal Alagoinhas Hoje

Menu de Topo