Operação Offerus e a reconfiguração do cenário político de Alagoinhas – *Maurílio Fontes

Ainda é cedo para fazer análises futuristas, mas não se pode secundarizar os impactos imediatos e mediatos da Operação Offerus, deflagrada na última terça-feira (21) pela Polícia Federal e Controladoria Geral da União (CGU), cujos técnicos já conheciam as instalações do Centro Administrativo Municipal (CAM) da Prefeitura de Alagoinhas em razão de auditoria realizada nos processos de contratação e pagamentos do prestador de serviço do transporte escolar.

Lideranças políticas e seus núcleos duros estão na berlinda e as consequências, mais cedo ou mais tarde, se concretizarão, independentemente da momentânea fuga da realidade e a autonegação dos personagens envolvidos, alguns descambando para garrafas de whisky, como se o legítimo escocês fosse capaz, em um passe de mágica, de fazer desaparecer as supostas provas em poder da PF e da CGU.

A linha de defesa se assentará, pasmem caros leitores, na argumentação de que o quase inexorável empresário, custodiado nas dependências da Polícia Federal em Salvador, mantinha relação comercial privada com agentes públicos por meio de empréstimos mensais regulares, sem juros e nenhum tipo de correção.

Não sou especialista em adivinhações, não domino aquilo que as cartas “dizem”, mas é possível afirmar que a reconfiguração do cenário político de Alagoinhas está em curso e os desdobramentos, ao final, poderão varrer da política nomes que por muito tempo estiveram presentes nas disputas eleitorais no município.

Até mesmo um neófito, que pela primeira vez terá sua foto e número nas urnas eletrônicas, corre sério risco de desaparecer de Alagoinhas na mesma rapidez com que apareceu. Ele seria personagem relevante dos relatórios produzidos pela Polícia Federal.

Como não sou repórter policial e me considero inábil para elaborar análises nesta seara, movimento meu farol analítico para a política local, que nunca mais será a mesma após a Operação Offerus, há muito tempo esperada e que pareceu impossível de acontecer, mas, afinal, concretizada em um dia aziago para algumas pessoas.

Hipóteses

Se houver comprovação de que dinheiro do empresário (não contabilizado) foi usado na campanha de Joaquim Neto a chapa (JN/Iraci) cairá em razão da configuração (ainda a ser provada ou nunca possível de provar) de crime eleitoral.

Neste cenário, o presidente da Câmara de Vereadores, Roberto Torres, assumiria o comando da Prefeitura de Alagoinhas.

Se Torres assumir até dezembro, menos da metade do mandato da chapa vitoriosa em 2016, novas eleições serão convocadas e ele poderá ser candidato.

Ocorrendo um suposto afastamento da chapa vitoriosa a partir de janeiro de 2019, Torres assumiria e se manteria no cargo até 31 de dezembro de 2020, podendo articular sua candidatura à reeleição em 2020 no exercício do mandato de chefe do Executivo.

Com grande capital eleitoral e considerado antecipadamente (avaliação sempre perigosa) imbatível na disputa municipal, o ex-prefeito Paulo Cezar terá que resolver seus imbróglios com órgãos federais aos quais precisa convencer de sua plena inocência.

Para ele, a operação foi ruim de início e “melhor” na sequência (se é que se pode definir qualitativamente o envolvimento do seu nome em operação com grande exposição midiática): o nome citado na imprensa e a suposta montagem do esquema de desvio de recursos públicos nos meses iniciais do primeiro mandato cezista; de outro lado, a delegada responsável pelo caso afirmou, em coletiva na sede da Polícia Federal, não haver comprovação de que o ex-prefeito tenha sido destinatário de dinheiro do esquema “Movelaço”.

Os depoimentos dos convidados, ao que se supõe, serão colchas de retalhos e terão muito menos durabilidade do que os móveis de aço vendidos na velha loja da Movelaço, situada na Rua D. Pedro II.

Na verdade, da palavra Movelaço ficará apenas o laço que manterá alguns personagens na prisão. Alex Huaro se enrolou em seu próprio laço.

Laço tal qual o nó górdio, aquele que é quase impossível de desatar.

*Editor dos sites Alagoinhas Hoje e Bahia Hoje News, especialista em marketing político, mídia, comportamento eleitoral e opinião pública e consultor político 

Maurílio Fontes

Proprietário, jornalista, diretor e responsável pelo Portal Alagoinhas Hoje

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