Número de jesuítas, ordem do papa Francisco, encolhe no mundo
Quando Jorge Mario Bergoglio, o atual papa, terminou sua formação jesuítica e assumiu sua primeira posição de destaque na Companhia de Jesus, a de provincial da Argentina, em 1973, havia 30 mil jesuítas no mundo.
Quarenta anos depois, eles são menos do que 18 mil, de acordo com o mais recente levantamento realizado pela ordem religiosa, documento de divulgação restrita obtido pelaFolha.
A queda acentuada de membros, processo contínuo nas últimas décadas, é um dos fatores que estão levando a Companhia de Jesus a uma ampla reestruturação, que prevê a unificação de províncias, como são chamadas suas unidades administrativas.
O Brasil, por exemplo, é dividido atualmente em três províncias (Brasil Meridional, Nordeste e Centro-Leste), além de uma subdivisão chamada Região Dependente Brasil Amazônia.
Até julho de 2014, os jesuítas brasileiros têm de apresentar ao superior geral, padre Adolfo Nicolás, espanhol que é o líder mundial da Companhia de Jesus desde 2008, uma proposta para a unificação em uma só província, responsável por todo o país.
“É um fato importante a diminuição, não só na Companhia de Jesus. A crise diz respeito a todas as congregações religiosas e em todo o mundo. É um fenômeno global”, diz o padre Carlos Alberto Contieri, diretor do Pátio do Colégio, em São Paulo.
Na Companhia de Jesus desde 1982, Contieri é um dos 552 jesuítas brasileiros, segundo os dados do “Catálogo Jesuítas Brasil 2013”, publicação concluída em fevereiro deste ano.
Em relação ao último levantamento feito pela ordem houve a diminuição de 24 jesuítas no país, uma das mais significativas do mundo.
Em termos mundiais, a queda é de 296 membros, sendo a África a única grande região onde houve um acréscimo, com seis integrantes em 2012 a mais do que em 2011.
Se considerada a divisão entre províncias, a maior redução no mundo foi na Itália, onde está a sede mundial da Companhia (o decréscimo foi de 29 jesuítas).
“Essa crise de vocações deve ser situada num contexto muito mais amplo, que está além das fronteiras da própria Igreja”, diz Contieri.
“É uma crise de sentido que atinge todos os âmbitos da existência humana. O desenvolvimento do neoliberalismo e a ideologia do individualismo são fatores preponderantes para isso.”
Editor na principal casa editorial jesuíta no Brasil, as Edições Loyola, o professor Marcelo Perine afirma que este processo se iniciou há mais de 40 anos. “No ano em que entrei na Companhia, em 1970, fui o único noviço em toda a minha província”, diz.
O processo completo dura no mínimo dez anos, entre os estágios chamados de noviciado e juniorado e os estudos de filosofia e teologia.
Perine, que foi jesuíta por 24 anos, testemunhou os primeiros passos de reestruturação da Companhia no país, com a criação de centros de formação unificados.
“Além da diminuição do número de jesuítas, o projeto buscava potencializar obras que são comuns, trabalhar em rede com os colégios jesuítas no Brasil inteiro.”
A ordem administra cerca de 200 universidades e 180 escolas no país, incluindo colégios tradicionais como São Luís (SP), Santo Inácio (Rio) e Anchieta (Porto Alegre) e faculdades como PUC (RJ), FEI (SP) e Faje (Belo Horizonte).
Segundo Perine, que além de editor é professor de filosofia na PUC-SP, ainda é cedo para avaliar, mas o papa Francisco pode alterar a curva decrescente da companhia.
Fonte: Folha de São Paulo