Nomes tradicionais da política brasileira anunciam fim da carreira
Políticos tradicionais que hoje estão no Congresso Nacional anunciaram o fim de suas carreiras políticas. Dois deles nem virão para a reeleição neste ano, casos do ex-governador do Mato Grosso Júlio Campos (DEM) e do deputado Inocêncio Oliveira (PR-PE). Outros dois disputarão, mas para aquele que será o último mandato de suas carreiras, casos dos ex-prefeitos de São Paulo Luiza Erundina e Paulo Maluf. Ambos admitem que as eleições deste ano serão suas últimas empreitadas eleitorais. O ex-presidente da República José Sarney (PMDB-AP) é dúvida, já se publicou que ele para e que ele continua num misto de informações que confunde até seus assessores parlamentares.
Aos 75 anos, um dos maiores símbolos da política nordestina sucumbiu. Inocêncio Oliveira é deputado federal desde 1º de fevereiro de 1975, iniciando sua carreira na Arena, partido oficial do governo militar. Ao final da atual legislatura, completará 40 anos de mandato na Câmara dos Deputados. Durante esse período, ocupou quase todos os cargos na Mesa Diretora da Casa, sendo uma vez presidente e duas vezes secretário. Médico de formação, ainda em 1975, presidiu a sociedade de medicina de Pernambuco.
Inocêncio chegou a assumir a Presidência da República em algumas oportunidades durante a gestão do ex-presidente Itamar Franco. Na ocasião, ele era presidente da Câmara e Itamar havia tomado posse depois da renúncia de Fernando Collor de Mello. Também se viu envolvido em processo que o acusou de usar trabalho análogo a escravo em uma fazenda de sua propriedade, em Caraíbas, no Maranhão. Terminado o atual mandato, Inocêncio pendura o paletó e pretende dedicar-se a escrever um livro de memórias.
Outro símbolo da política nacional que pode se despedir do Congresso Nacional é o senador José Sarney (PMDB-AP). Ex-presidente da República, Sarney começou a dar sinais de que deixaria a política já no ano passado. O senador enfrentou três semanas de internação depois de se sentir mal durante uma festa familiar. Ficou internado no Hospital Sírio-Libanes, em São Paulo, enfrentou uma dengue e pneumonia. Numa rara oportunidade falou brevemente sobre o futuro político ao deixar o Plenário do Senado. Com a voz fraca e semblante calmo, disse de forma lacônica ao ser perguntado sobre o futuro eleitoral: “Vou definir isso no próximo ano”, resumiu Sarney. Sobre sua saúde, o ex-presidente disse na época que estava “lutando”.
Aos 83 anos, Sarney ainda flerta com a aposentadoria, mas não deixa isso claro. Chegou a dizer que pararia, chegou a retirar o que havia dito. A dúvida é tamanha que seus próprios assessores andam confusos. Ninguém fala oficialmente, mas uma rápida conversa e a conclusão é que Sarney só decidirá seu futuro político às vésperas do prazo final para homologação das candidaturas. Há quem aposte numa nova disputa ao Senado, para um mandato de oito anos que provavelmente seria o último, entregando a cadeira aos 91 anos. Há quem acredite que o destino do ex-presidente é mesmo a dedicação total às atividades na Academia Brasileira de Letras e à família.
Ex-governador do Mato Grosso, Júlio Campos (DEM-MT) anunciou aos correligionários sua decisão de não concorrer no começo deste ano, em reunião da bancada. O partido discutia a troca do seu líder, Ronaldo Caiado passaria o bastão para Mendonça Filho, e o DEM queria debater sua estratégia na oposição. Também havia a discussão sobre quem o partido indicaria para presidir a comissão a que tinha direito. Neste momento, Campos pegou o microfone e pediu a indicação, alegando ser uma justa homenagem na sua despedida. Naquele encontro, disse ainda que apoiaria a eleição de um de seus filhos para o seu lugar na Câmara.
Meses mais tarde, Campos explicou os motivos para colocar fim a sua carreira política que começou em 1979 na Arena, o partido oficial da ditadura. “Não me sinto útil aqui no Congresso. Não se aprova nada aqui, não se vota. É só Medida Provisória. É a ditadura das lideranças. Estou perdendo tempo aqui”, criticou o deputado. Para Campos, a existência dessa “ditadura das lideranças” não permite a todos os parlamentares a oportunidade de aprovar suas propostas. Nem a reeleição ele pretende tentar e aos 68 anos se despede do Congresso Nacional.
Última vez
Se ainda não abandonarão a vida política, Maluf e Erundina deverão concorrer pela última vez em 2014 a um mandato na Câmara dos Deputados. Um dos maiores símbolos da Arena, Maluf chegou a disputar a presidência da República no colégio eleitoral em 1985, pelo PDS, partido cuja origem está no grupo político que deus sustentação para a ditadura militar. Foi derrotado por Tancredo Neves. O próprio Maluf diz que sua carreira política começa ao assumir o comando da Caixa Econômica Federal em 1967, totalizando 47 anos de atividade política.
Secretário-geral do PP de São Paulo, Jesse Ribeiro, braço direito de Maluf é quem faz as vezes de porta-voz da aposentadoria do aliado. Ele diz que será sua última empreitada eleitoral. “Ele já cumpriu o papel dele. É bom dar um descansada”, diz Ribeiro. Maluf foi prefeito de São Paulo e governador do mesmo estado, biônico indicado pelo regime militar.
Já no período democrático, voltou a ser prefeito, desta vez eleito. Antes da regra que permitiu a reeleição, foi o primeiro prefeito da capital paulista a emplacar um correligionário para sucedê-lo, oportunidade em que ajudou a eleger Celso Pitta com a célebre frase “se o Pitta não for um bom prefeito, nunca mais vote em mim”. Coincidência ou não, depois disso, Maluf nunca mais seria eleito para nenhum cargo majoritário. Em 2005, puxou 40 dias de cadeia junto com o filho Flávio, na Superintendência da Polícia Federal em São Paulo. Depois disso, no ano seguinte, Maluf decidiu voltar a disputar assento na Câmara dos Deputados, cargo para o qual uma vez eleito, passaria a ter foro privilegiado. Foi reeleito em 2010 e promete, agora aos 82 anos, disputar sua última eleição. Se eleito, Maluf completará seu próximo mandato aos 87 anos.
Também ex-prefeita de São Paulo, Luiza Erundina completa 80 anos em novembro. Assistente social, Erundina foi a primeira mulher eleita prefeita de São Paulo, numa disputa marcada pela grande virada da então petista que disputava a sucessão de Jânio Quadros. Ela não liderava as pesquisas, mas saiu vitoriosa do pleito. Em 1997, Erundina rompe com o PT e filia-se ao PSB, partido que representa até hoje. Foi eleita deputada federal e reeleita sucessivamente desde 1998.
Erundina é a favorita de muitos socialistas para a disputa ao governo do estado neste ano. Avisou, porém, que não quer concorrer ao mandato estadual. Ela admite que a atual legislatura tinha tudo para ser a última de sua carreira política, mas que tem recebido cobrança de movimentos sociais a respeito de algumas demandas e que pretende concorrer ao último mandato para acompanhar questões como a reforma política e o desfecho dos trabalhos da Comissão da Verdade. “Depois vou para casa, vou ler, estudar”, diz ela sorrindo. Se reeleita, Erundina fechará seu último mandato aos 84 anos.
Fonte: iG