Mudanças no ministério não respondem ao clamor das ruas – Maurílio Fontes

Em tempos de paixões exacerbadas, as percepções submergiram e o lugar comum analítico se tornou regra, como se a crise pudesse ser resolvida por intermédio de embates no Facebook e de outras ferramentas do ciberespaço. A crise é profunda e não diz respeito apenas a uma sigla, revelando que o modelo político é vetusto, recalcitrante e infenso às novas abordagens pretendidas pela sociedade.

Governos, quase sempre paquidérmicos, nunca estão na vanguarda daquilo que demanda a sociedade. Discursos ziguezagueantes demonstram instabilidade e pouca capacidade de fazer frente às reivindicações sociais, que acumuladas ao longo do tempo, colocam na ordem do dia a necessidade dos governos – e não apenas o poder central – mudarem seus rumos.

No entanto, a medida mais costumeira é a mudança no ministério. Getúlio ganhou a eleição de 1950 com um discurso voltado para as classes trabalhadores, mas montou uma equipe conservadora com nomes da direita. Ao longo do mandato, até seu suicídio, operou diversas movimentações nas cadeiras ministeriais para enfrentara as crises intermináveis do governo.

Jango, ao estilo de seu mentor político, que lhe deu espaço e o colocou na ribalta da política nacional, também usou a fórmula para fazer frente às pressões que sofreu deste quando voltou a governar sob o regime presidencialista, após a esmagadora vitória no plebiscito. Mudanças ministeriais não foram capazes de reacomodar sua base parlamentar e ele sofreu derrotas em importantes votações (aprovação do estado de sítio solicitada pelo Executivo e negada pelo Congresso Nacional).

Sarney fez o mesmo e os outros governantes da Nova República também agiram de forma similar. Modus operandi idêntico para problemas nem sempre iguais.

Diante do crescente isolamento de seu governo, a presidente Dilma acena com uma reforma ministerial para tentar minimizar seus problemas políticos, principalmente com as duas Casas do Congresso Nacional, que se deslocam do eixo do Palácio do Planalto e definem a pauta legislativa, com impactos diretos no cotidiano da administração dilmista.

No Brasil, a hipertrofia histórica do Executivo vai de encontro à liberdade constitucional do parlamento. Estranha-se quando os papéis são exercidos em plenitude.

No afogadilho, a presidente Dilma e seus operadores políticos acenam com um pacote anticorrupção açodado e, mais do mesmo, com uma reforma ministerial que certamente não responderá à complexidade dos desafios a serem enfrentados por seu governo.

Busca a acomodação e a recauchutagem de sua base parlamentar. Terá que trocar os pneus com o veículo em movimento.

Passará para a história com a estatura de líder e condutora de um projeto político ou como mera ocupante da principal cadeira do Palácio do Planalto? Só a história, em seus meandros nem sempre inteligíveis, dará as respostas.

Maurílio Fontes

Proprietário, jornalista, diretor e responsável pelo Portal Alagoinhas Hoje

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