Instalação de catracas na Câmara causa reação de deputados

Deputados contrários ao uso da catraca argumentam que equipamento pode atrapalhar fuga em caso de incêndio

Mudanças na estrutura da Câmara dos Deputados pretendidas pelo presidente da Casa, deputado Eduardo Cunha (PMDB-RJ), têm provocado polêmica entre os membros do Legislativo.

Cunha tem investido em projetos para restringir acessos ao Plenário e a áreas que tradicionalmente sempre foram frequentadas por parlamentares, assessores, jornalistas e até mesmo lobistas, Muitos deles, levados pelos para dentro do Plenário pelos próprios parlamentares.

“Verdadeira zona”

O primeiro secretário da Câmara, deputado Beto Mansur (PRB-SP) é o encarregado de tocar o projeto. Segundo o parlamentar, a restrição de acesso é importante, já que o plenário da Câmara é uma “verdadeira zona”.

“Você tem dentro da Câmara dos Deputados uma verdadeira zona. Entra quem quer”, justifica o deputado. “Estamos procurando limitar este numero enorme de pessoas que não tem nada a ver com a Casa, que são, muitas vezes, lobistas”, considera o deputado que tem a função de ser uma espécie de prefeito da Câmara.

Veja as opiniões dos parlamentares sobre a catraca que vai controlar o acesso na Câmara:

O deputado Chico Alencar (PSOL-RJ), no entanto, contesta os argumentos de Mansur. “A maior bagunça dentro do plenário sabe quem que produz? Nós deputados. Não nos ouvimos, bagunçamos, gritamos, raramente há silêncio quando alguém fala”, pondera. O parlamentar recorre a um neologismo para definir a ideia. “É um atraso, uma ‘catrástrofe”, compara o deputado.

“Eu acho que isso é completamente fora de lugar. É uma ideia estapafúrdia, que não vai dar certo. Pior, pode ser que se constate isso depois de gastar dinheiro público para se comprar as tais catracas”, diz.

Companheiro de partido, o deputado Ivan Valente (PSOL-SP) compara a atitude a um jardim de infância. “Acho uma péssima ideia. É mais uma restrição. Se as pessoas que adentram o plenário não são adequadas para estarem lá, para isso existe a segurança da casa”, avalia.

“Colocar catraca aqui no plenário é tratar o deputado e o plenário como jardim de infância. Cada dia mais, estamos colocando travas e trancas aqui na Câmara. O pessoal não aceitará este tipo de medida que julgamos antidemocrática”, diz Valente.

Segurança

A proposta de instalar catracas nas entradas do Plenário tem provocado reação de deputados, que se dizem indispostos a ter de passar pelo obstáculo. Há ainda a preocupação com a segurança, já que em casos de alguma emergência, as catracas funcionariam como obstáculos para o esvaziamento rápido do plenário.

“Qualquer ambiente deste que tenha catraca em um caso de acidente ou algum problema maior, a presença da catraca pode ser um fator de risco”, pondera o deputado Hugo Leal (PROS-RJ).

“Acho um absurdo o presidente querer colocar catracas. Isso criará uma série de transtornos para nós. Imaginemos uma situação de emergência em que nós precisaríamos sair rapidamente deste plenário”, avalia o deputado Helder Salomão (PT-ES). “Eu considero uma ideia absurda, arbitrária e eu espero que consigamos reverter isso”, diz.

Acessibilidade

Além disso, a instalação, que segundo o primeiro secretário da Câmara, deputado Beto Mansur, ocorrerá já para o início de agosto, joga por terra, toda reforma realizada na Câmara há quatro anos, para dar acessibilidade aos deputados com deficiência.

É o caso da deputada Mara Gabrilli (PSDB-SP), que é tetraplégica. Para que ela tivesse acesso aos elevadores privativos, de forma autônoma, foram instalados leitores faciais que ao detectar a face da parlamentar, faz com que as portas se abram.

A deputada Mara Gabrilli, que é cadeirante, deverá ter dificuldades com o uso de catracas na Câmara

A última reforma concluída em outubro de 2014 custou R$ 48,3 mil e tornou o plenário totalmente acessível com a instalação de rampas de acesso, elevadores nas tribunas que permitiram parlamentares usuários de cadeira de rodas, pela primeira vez, terem a oportunidade de discursar na tribuna da Casa. O projeto, que havia sido pensado em 2006 recebeu o aval do próprio arquiteto Oscar Niemayer.

Com a instalação das catracas de Cunha, a deputada Mara Gabrilli perderá sua autonomia. De acordo com Mansur, não haverá leitor facial para que ele tenha acesso ao Plenário. Ela dependerá de um assessor para digitar um código numérico para que seu acesso seja liberado.

A deputada, que quer garantir seus direitos à autonomia, disse que havia recebido a garantia da direção da Casa de que todas as reformas seriam acertadas com ela, no entanto, diante da informação sobre os rumos da reforma, disse ao iG que se algo sair diferente, afetando sua locomoção, não aceitará.

“Escolinha”

A instalação de catracas e o custo da reforma são assuntos que estavam sendo tratados de forma mais reservada na Câmara, Ao ser perguntado sobre o assunto, o deputado Júlio Delgado (PSB-MG) disse que não sabia sobre a instalação dos equipamentos. Logo após conversar com o IG, Delgado questionou Cunha e Mansur durante a sessão da última quinta-feira (24).

Fonte: iG

Maurílio Fontes

Proprietário, jornalista, diretor e responsável pelo Portal Alagoinhas Hoje

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