Inflação tira carne e misturas do prato das famílias pobres

Ao comentar a atual crise e seu impacto sobre os mais pobres, o ex-presidente Lula acertou em cheio na semana passada ao dizer que, “em vez de comer carne todos os dias, (eles) vão comer arroz”.

Isso já acontece em algumas regiões do país onde a inflação corrói rapidamente o valor de benefícios como o Bolsa Família e a renda do trabalho, cada vez mais raro.

A inflação para as famílias mais pobres (renda até 2,5 salários mínimos) corre acima dos 11% ao ano. A demanda doméstica acumula queda de 4% em quatro trimestres, a maior da série do IBGE.

“Se puder comer uma carcaça, a gente come. Se não puder, come puro com pimenta”, diz Iranildo Souza, marido de Maria Vanessa e pai de Patrícia, 7, e Tauane, 4.

Na semana passada, sua caçula dividia com uma prima uma panela com arroz e feijão puros no bairro de João de Deus, em Petrolina (PE).

A principal renda dos Souza vem do Bolsa Família: R$ 209 mensais. “No ano passado, trabalhei o ano inteiro na safra da manga. Neste, se chegou a quatro meses foi muito”, diz Iranildo.

Na casa vizinha, Maria Gonçalves recebe R$ 400 do Bolsa Família pelas quatro filhas. É a única renda da família. “Se não fosse esse dinheiro, a gente já não tinha nem couro nem cabelo.”

MISTURA E LUZ

A maior queixa das duas famílias é com a inflação, que “tirou a mistura da mesa” e “aumentou a luz”.

Em Petrolina, 31,6 mil famílias recebem o Bolsa Família (total de R$ 4,9 milhões/ano). “O programa aqui foi fundamental para a queda da desigualdade”, diz Célia Regina Carvalho, secretária de Desenvolvimento Social.

Outros programas federais já sofrem cortes. As bolsas de R$ 100 por aluno do Pronatec, por exemplo, caíram de 2.000 para 600 neste ano.

Em Recife, o bairro de Brasília Teimosa foi pioneiro do Fome Zero, que depois se converteria no Bolsa Família. Recém eleito, Lula foi ao local em 2003 com 29 ministros para lançar o programa.

Além de distribuir renda no local, seu governo patrocinou a retirada de cerca de 500 famílias que viviam em palafitas e reurbanizou toda a orla do bairro.

Hoje, comerciantes reclamam da recessão e as palafitas voltaram em outro local.

Propícios para a proliferação do Aedes aegypti, dezenas de recipientes de água doce de seus novos moradores também fazem parte da paisagem.

Fonte: Folha de São Paulo

 
 

 

Maurílio Fontes

Proprietário, jornalista, diretor e responsável pelo Portal Alagoinhas Hoje

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