Indecisos somam 10%, mas podem definir resultado presidencial

Eles são poucos, mas podem decidir se a corrida ao Planalto termina domingo. Mesmo com o nível mais baixo de indecisos desde 1989, os 10% que responderam “não sei” na pergunta espontânea para presidente na última pesquisa Ipec são suficientes para mudar as eleições —Luiz Inácio Lula da Silva (PT) teve 52% dos votos válidos, contra 34% de Jair Bolsonaro (PL), e, para não haver segundo turno, o primeiro colocado precisa de 50% mais um.

Desde maio, O GLOBO acompanha dez eleitores indecisos, em todo o país, selecionados para refletir o perfil desse grupo, mais concentrado entre mulheres, menor escolaridade e renda mais baixa. Cinco meses depois, apenas três se decidiram: dois apertarão o 22 de Bolsonaro e uma o 13 de Lula. Os outros sete dizem que não anularão o voto, mas ainda não sabem em quem confiar o comando do Executivo.

Mãe de dois filhos, separada, cuidadora de idosos e no fim do curso técnico de enfermagem, a “brizolista-raiz” diz ter buscado, sem sucesso, “a pegada do engenheiro” nos candidatos. Domingo, no Rio, Lula disse que, se vivo, “Brizola estaria do nosso lado”. O gaúcho disputou a Presidência contra o petista em 1989 e foi vice de sua chapa em 1998.

— Pesará (na decisão) se acreditar que meu voto ajudará a derrotar Bolsonaro no primeiro turno. Perdi uma irmã pra Covid-19, a resposta dele à pandemia foi terrível— diz Rejane. — E o machismo não dá. Seus ataques às jornalistas e não ter ido à posse da juíza Rosa Weber na Presidência do STF foram as gotas d’água.

A pesquisa do Ipec divulgada na segunda-feira revelou que o índice de indecisos no questionamento espontâneo é maior entre mulheres (13%) do que entre homens (6%). Também identificou que há mais eleitores sem candidato certo à Presidência com renda familiar de até um salário mínimo (12%) e que completaram apenas o ensino fundamental (12%).

— Como o segundo turno está por um fio de cabelo, entender como conquistar esses “indecisos até a última semana” tornou-se crucial — diz Renato Dorgan, diretor do Instituto Travessia e que selecionou com sua equipe os eleitores em todo o país para a reportagem. — Com a desidratação do Ciro Gomes por causa da campanha de voto útil do PT, a tendência é a de que esses votos serão divididos entre Lula, Bolsonaro e, para os que não conseguirem escolher entre o menos pior no entendimento deles, Simone Tebet (MDB). A questão é em que proporção — diz.

Neste cenário, estados com fatia modesta do eleitorado, como Mato Grosso e Amazonas, podem, alerta Dorgan, ter relevância inédita. Um dos ex-indecisos que repetirão o voto em Bolsonaro é o auxiliar financeiro João Vitor de Oliveira, de 22 anos, de Cuiabá. Evangélico, branco, curso superior completo, ele tinha torcido o nariz para “a inconsistência na escolha de ministros e de cargos no comando da Petrobras” e “reviravoltas, especialmente a saída do (ministro da Justiça) Sergio Moro do governo”. Mas, em setembro, uma “economia mais forte” e a pauta de valores o fizeram decidir.

— Princípios como liberdade religiosa e a defesa da família (tradicional) eu não negocio. E Bolsonaro reconheceu erros, como os do combate à pandemia, baixou o preço da gasolina e se tornou um candidato melhor ainda — diz.

Assim como o mato-grossense, o corretor Allan Alencar, de 50 anos, de São Bernardo do Campo (SP), decidiu por Bolsonaro. Eleitor de João Amoêdo (Novo), e do atual presidente no segundo turno em 2018, pesou em sua decisão o “alavancar da economia durante a pandemia” e evitar “a roubalheira do PT”.

Já o funcionário público José Elinaldo da Silva, de 53 anos, de Manaus, pai de sete filhos de dois casamentos, pardo, com ensino médio completo e renda familiar de cerca de R$ 4 mil, trocou o PT por Bolsonaro em 2018 e viu “as coisas não darem certo”. Está entre os que buscavam o novo, mas não encontrou. Entre as preocupações está o aumento da sensação térmica, “por causa do desmatamento”.

— Vi o efeito da destruição da floresta e do desastroso combate à pandemia em primeira mão. E a economia piorou muito. Mas não acho que a saída seja voltar ao passado. Tendo a votar no Ciro, mas decidirei após o debate — diz.

 Fonte: O Globo

Maurílio Fontes

Proprietário, jornalista, diretor e responsável pelo Portal Alagoinhas Hoje

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