Governador da Bahia diz que protestos ‘vão atrapalhar a democracia’

O governador da Bahia, Jaques Wagner (PT), disse no início da tarde desta sexta-feira (21) que os protestos que vêm tomando as ruas do país, do jeito que estão acontecendo, “vão atrapalhar a democracia brasileira”.

Wagner afirmou ainda que é preciso “organizar a pauta de reivindicações”, mas não vê uma “tentativa de golpe” contra os governos. “É uma coisa muito pulverizada. Não acho que é a direita conservadora”, disse.

As declarações aconteceram em entrevista coletiva, um dia após confrontos em Salvador entre policiais e manifestantes no entorno do estádio da Fonte Nova, antes de um jogo pela Copa das Confederações.

O dia terminou com um jovem baleado no braço, saques a lojas, agências bancárias destruídas e três ônibus incendiados.

O governador baiano admitiu existir hoje uma “crise de representação” da população em relação aos políticos. Mas que seria “impossível dialogar quando não há uma bandeira objetiva”.

Para ele, a falta de líderes do movimento e a ausência de bandeiras específicas para serem colocadas numa mesa de negociação não ajudam. “A classe política tem que saber para onde esse rio está correndo. E, na minha opinião, não corre para um caminho bom, da forma como está correndo.”

Wagner criticou as depredações relacionadas à mobilização desta quinta (20). “Quando participei da passeata dos cem mil [em 1968], com 16 para 17 anos, ninguém quebrou nada e queríamos algo claro: o fim da ditadura”, disse.

“Quero me colocar à disposição da juventude baiana para dialogar em nome do governo, mas esse despertar da cidadania não pode servir de guarda-chuva para os que não querem a democracia. Qual é a bandeira? É o fim da Copa? Precisa saber o que é que é. Senão, não tem como dialogar”, afirmou.

Em tom provocador, o governador chegou a falar em eventual retorno ao regime militar. “Nós vivemos numa democracia, no momento de maior inclusão social do país. A alternativa para isso é o retorno de um governo autoritário? Eu acho que não”.

“A manifestação está registrada. O grito está dado. A rua gritou. E é bem-vindo. Eu em minha vida inteira sempre estimulei. Mas qual é a consequência que nós queremos dar pro grito?”, declarou.

Wagner reconheceu falhas no policiamento de um hotel com membros da Fifa, perto de uma área do tumulto, e disse que os excessos da PM, “se confirmados”, serão punidos. Falou ainda já existir investigação para um caso de uma pessoa, de dentro de um carro do governo do Estado, que atirou para cima rodeado pelos manifestantes.

Um novo protesto está marcado para este sábado (22), dia de Brasil x Itália na Fonte Nova. Wagner prometeu uma operação semelhante, embora reforçada.

“O diálogo com a massa é a prioridade, mas tenho a incumbência de garantir o Estado Democrático. Se as pessoas dizem ‘vamos entrar na Fonte Nova’, eu digo que não vão. Não tem lógica isso. Quem quebra Itamaraty não está atrás de democracia, está atrapalhando a democracia”.

Fonte: Folha de São Paulo

Maurílio Fontes

Proprietário, jornalista, diretor e responsável pelo Portal Alagoinhas Hoje

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