‘Getúlio’ retrata os últimos 19 dias de vida do ex-presidente do Brasil
Em geral, os filmes biográficos ficam em desvantagem perante as obras ficcionais por um simples motivo: o final já é de domínio público. Assim, se sua narrativa não for envolvente, o longa pode não passar da reconstituição de uma história já sabida. Não é o caso da cinebiografia Getúlio, já em cartaz. Nele, o retrato dos últimos 19 dias de vida do ex-presidente Getúlio Vargas (1882-1954) vai além de um simples recorte temporal. É um detalhamento minucioso sobre os últimos passos do ditador, que ganham certa sensibilidade na primorosa criação do diretor João Jardim.
A trama se desenvolve a partir do atentado, em 5 de agosto de 1954, ao jornalista Carlos Lacerda (Alexandre Borges), porta-voz da oposição e principal rival de Vargas, que pedia renúncia e incitava sua deposição. Esse é o início da contagem regressiva na vida do presidente, encerrada no dia 24 do mesmo mês com um tiro contra o próprio peito.
No filme, Getúlio Vargas ganha irretocável interpretação de Tony Ramos. Sua caracterização também impressiona. De cabelos grisalhos e vestindo uma lycra revestida de espuma, que dá o aspecto roliço ao seu corpo, o ator mostra um lado completamente diferente do personagem conhecido pelos livros: um homem calmo e sereno, mas bastante preocupado com sua reputação. “Ele era simples, de gosto refinado e sem arroubos políticos. Assumia a postura política somente nos palanques”, diz Tony Ramos, em entrevista ao Estado. “É o segundo divisor de minha carreira, justo no ano em que faço 50 anos de profissão.”
A atriz Drica Moraes completa a trinca central na pele de Alzira Vargas, filha e braço direito de Vargas. “Foram idas e vindas. Desde o início, eu queria Tony e Drica, mas ambos estavam em novelas. Para minha sorte, era a mesma trama. Quando acabou, começamos a gravar”, conta o diretor. A trilha sinfônica é uma personagem à parte. Responsável por induzir à tensão, quebra o tom do bom-mocismo de Vargas e justifica o thriller político ao qual se propôs. É uma das melhores produções nacionais dos últimos anos.
Fonte: Blog Estadão