Felipe González e o desafio das redes sociais na política – Luis Nassif

FG 2

Felipe González pertence à estirpe dos estadistas que, de alguma maneira, ajudaram a moldar o mundo nas últimas décadas. E, de certa forma, foram tragados pelas mudanças ocorridas.

Deu-me entrevista de uma hora para o programa Brasilianas.org, dissecando os novos tempos.

Um dos maiores desafios é a maneira de trabalhar as redes sociais. Tem que se acompanhar o debate e de forma alguma partir para a confrontação, identificar as melhores iniciativas.

A velocidade do parlamento é infinitamente menor do que das redes sociais, criando frustrações no atendimento das demandas. Por outro lado, há enorme dificuldade de sair respostas através da política. Na Espanha, diz ele, cada cidadão em rede é praticamente um partido político.

Segundo ele, a melhor política de rede foi a implementada pelo governo Obama. Uma equipe de jovens assessores acompanha permanentemente as redes. Qualquer proposta com mais de dez mil seguidores no Facebook é atendida. Se a proposta é viável, trata-se de incorporá-la à política pública. Se inviável, receberá uma resposta com todas as explicações. Tudo sem pedir voto ou apoio.

Segundo ele, a revolução da Internet produziu dois fenômenos simultâneos.

O primeiro, o fato da comunicação ter abolido o tempo e o espaço. O segundo, o fato de, pela primeira vez na história, os jovens estarem ensinando os velhos. O terceiro, a hiperinformação.

A grande maravilha da revolução da informação é que ela deixa de ser patrimônio do poderoso: está disponível para todos. Mas o excesso de informação não conduz à verdade no sentido alemão, de constituição de um patrimônio, diz ele. A dificuldade maior não é entender a informação, mas coordená-la de forma inteligente.

Nesse mundo complexo, qual deveria ser o papel do governo?

O espaço do Estado-Nação se alterou definitivamente por um fenômeno supranacional nacional, global, que nasce do impacto da revolução tecnológica e da globalização.

Com a globalização, fora das fronteiras nacionais tomam-se decisões que impedem a capacidade dos países de decidirem soberanamente. Segundo ele, trata-se de uma realidade irreversível, que precisa ser enfrentada.

Não há saída fora da democracia, diz ele. Colocam-se muitos adjetivos na palavra democracia. Diz-se que ela está em crise, que é dominada por uma aristocracia, inclusive nos Estados Unidos. Mas quem tenta alternativas não democráticas, fracassa. Mesmo a China é um capitalismo de Estado, diz ele. O motor da economia é a economia privada, com direção forte dada pelo capitalismo de Estado.

González defende o Estado forte e enxuto, forte na regulação e na previsibilidade das políticas públicas, e enxuto na operação, apelando para a parceria com o setor privado.

No plano social, a intolerância manifestada na Europa, especialmente em relação aos imigrantes, vai arrefecer, diz ele. A migração é uma questão de sobrevivência para o continente, por conta da pirâmide populacional europeia, envelhecida.

Mesmo assim, levará algum tempo para que os eleitores caiam na real. A xenofobia continuará crescente nos próximos anos, ao contrário do Brasil, que é um país essencialmente de convivência, diz ele.

Maurílio Fontes

Proprietário, jornalista, diretor e responsável pelo Portal Alagoinhas Hoje

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