Feiras agropecuárias expõem abismo entre agro e governo Lula


As principais e mais recentes feiras agropecuárias realizadas no país expuseram o abismo vivido entre o agronegócio e o governo do presidente Luiz Inácio Lula da Silva (PT).

Que o agro em sua maioria esteve –e ainda está– mais próximo do ex-presidente Jair Bolsonaro (PL) já era sabido, mas as recentes ausências do governo em grandes eventos e o impasse envolvendo a Agrishow (Feira Internacional de Tecnologia Agrícola em Ação) deixaram mais clara essa relação –ou a falta dela.

No principal evento do agro no Centro-Oeste, em Rio Verde (GO), em março, quando foram vendidos mais de R$ 11 bilhões em máquinas e implementos agrícolas, nenhum representante do governo federal esteve nem no palanque da abertura.

Foram feitos 15 discursos, muitos deles criticando o governo e temas como reforma tributária, taxas de juros, falta de informações sobre como será o próximo Plano Safra e invasões de terra.

Lula nem sequer teve o nome citado, assim como aconteceu na abertura da Expozebu, em Uberaba, no Triângulo Mineiro, neste sábado (29), na maior feira de gado zebu do mundo, que prevê movimentar R$ 350 milhões em negócios até o dia 7.

Sem também contar com representantes do governo federal, somente o nome do ministro Carlos Fávaro (Agricultura) foi citado uma vez, e por Gabriel Garcia Cid, presidente da ABCZ (Associação Brasileira dos Criadores de Zebu), organizadora da exposição.

No ano passado, Bolsonaro participou, assim como o ex-ministro Marcos Montes (Agricultura) e a ex-ministra Tereza Cristina (ambos Agricultura) –ela também esteve em 2019, última feira antes da pandemia de Covid-19.

O ápice desse desgaste, porém, está em andamento em Ribeirão Preto, cidade paulista que sedia a principal feira de tecnologia para o agronegócio na América Latina, a Agrishow.

Após o desgaste envolvendo a não participação do ministro Fávaro, que disse ter se sentido “desconvidado” ao ser avisado pelo presidente da feira, Francisco Matturro, que Bolsonaro participaria da abertura, nesta segunda-feira (1º), o governo federal ameaçou, nesta sexta-feira (28), cancelar o patrocínio do Banco do Brasil à Agrishow.

Fávaro recebeu a sugestão de participar da feira na terça (2), quando haverá um evento reunindo a frente parlamentar do agronegócio em Ribeirão, com o objetivo de evitar desconforto com a presença de Bolsonaro na abertura.

O assunto desagradou membros do governo, como o ministro Márcio França (Portos e Aeroportos), que disse numa rede social que “não sabia” se o Banco do Brasil deveria seguir patrocinando o evento.

“Na medida em que o evento perde sua característica institucional e na medida em que houve essa descortesia com o ministro [da Agricultura, Carlos Fávaro] e com o Banco do Brasil, que iria acompanhá-lo no evento, não se justifica mais o patrocínio”, afirmou o ministro da Secretaria de Comunicação, Paulo Pimenta.

Com esse cenário, é muito pouco provável que alguma autoridade do primeiro escalão do governo Lula visite a feira, segundo relatos ouvidos pela Folha de expositores e integrantes das associações organizadoras.

A ausência de Fávaro frustrará o setor, já que havia a expectativa de que ele anunciasse linhas de crédito para o agronegócio e desse detalhes da elaboração do Plano Safra 2023/24, que deve ser anunciado em junho.

Lula já não era aguardado, mas havia a expectativa de que ele fosse representado também pelo seu vice, Geraldo Alckmin (PSB), ex-governador paulista e que era visita habitual ao evento.

O Banco do Brasil informou, neste sábado, que estará presente na Agrishow por meio de sua atuação comercial para realização de negócios e atendimento aos seus clientes. A instituição afirma que tomará as medidas cabíveis se, durante a feira, houver qualquer desvio das finalidades negociais previstas.

Já a Agrishow repetiu neste sábado que ainda não houve manifestação oficial do banco sobre a retirada do patrocínio. Informou ainda que a instituição financeira seguirá operando na Agrishow –o banco, um dos principais fomentadores do crédito agrícola no país, pretende captar R$ 1,5 bilhão em recursos até o dia 5, quando termina a feira agrícola.

Fonte: Folha de São Paulo

Maurílio Fontes

Proprietário, jornalista, diretor e responsável pelo Portal Alagoinhas Hoje

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