Empreender é opção contra desemprego

Durante 20 anos, Vautier Szebini, de 47 anos, foi responsável pela área de tecnologia de uma editora. Mas em março deste ano ele foi demitido. “Estava me preparando para este momento desde 2013. Fazer MBA era um desejo antigo e pressentindo que a crise estava chegando, iniciei a especialização em gestão da informação e segurança em tecnologia”, conta.

Szebini diz que ainda não formalizou a sua empresa de consultoria, porque surgiu uma demanda urgente para prestação de serviço. “Como o projeto exigia fidelização com a empresa, firmamos um contrato de terceirizado com duração de três meses, que pode ser prorrogado. Mas o meu caminho como autônomo já está traçado. Há muito tempo venho estudando a parte teórica do empreendedorismo”, diz.

O consultor afirma que o sentimento de ser o próprio patrão é novo e duplo. “Passei 25 anos de minha vida atuando em um modelo de trabalho. Claro que dá um friozinho na barriga, mas a sensação de poder gerenciar o meu tempo e ter muito mais flexibilidade é boa”, diz. Ele ressalta que a educação é um caminho seguro. “A formação sempre agrega positivamente. É um investimento que vale à pena.”

Assim como Szebini, trabalhar por conta própria tem sido a saída para muitas pessoas que estão perdendo o emprego. Conforme a Pesquisa Nacional por Amostra de Domicílios Contínua (Pnad), realizada pelo IBGE, no final do primeiro trimestre de 2015 o Brasil tinha 21,7 milhões de trabalhadores autônomos. Um aumento de 4% em relação ao mesmo período do ano passado. O que representa 23,7% do total da população ocupada, que é de 92 milhões.

Procurar empreender de alguma forma é um reflexo da atual condição da economia brasileira. E mesmo diante do cenário de crise e incertezas, o empreendedorismo continua avançando. Segundo a Serasa Experian, mais de 800 mil empresas foram abertas no País entre janeiro e maio deste ano, especialmente no setor de serviços.

Um dos novos negócios que chegou ao mercado em abril é a empresa de comunicação visual do microempreendedor individual (MEI) Thiago Silva Souza, que foi demitido em janeiro deste ano. Ele trabalhava havia dois anos em uma agência de propaganda, na área de criação e arte final. “Antes, já tinha trabalhado em outras agências e às vezes fazia trabalhos de freelancer.”

Ao ser demitido, Souza resolveu partir para voo solo. “Faço de tudo na área de comunicação visual. Desde sites, passando por cartão de visitas e adesivos, até produção em 3D.”

Com o dinheiro da rescisão, ele comprou uma máquina de corte de adesivos e alguns materiais. “Montei o negócio dentro de um galpão onde um amigo tem uma loja de rodas. Uso um cantinho e pago parte do aluguel”, conta.

Souza afirma que apesar da crise, o negócio vai indo bem. “Estou gostando muito de ter me tornado MEI. Agora, quando tenho de trabalhar de madrugada, sei que é um esforço que estou fazendo pelo meu negócio. Além disso, minha qualidade de vida melhorou bastante, estou bem menos estressado.”

Ele conta que já assistiu a vídeos do Sebrae sobre empreendedorismo e pretende buscar mais capacitação na área de gestão. Para divulgar o negócio e atrair clientes, usa o Facebook.

O dono da Impacta Treinamentos, Célio Antunes, conta que neste segundo semestre a demanda por cursos cresceu 10% em relação ao primeiro.

“Como a Impacta é muito forte na área de tecnologia, na qual existem muitas oportunidades para a prestação de serviços, a demanda por cursos é crescente. Percebemos que o desejo de trabalhar por conta própria está se acentuando.”

Segundo ele, diferentemente de crises ocorridas em outras décadas, nesta, as empresas estão mantendo investimento em capacitação dos funcionários. “O fato de todas serem totalmente dependentes de tecnologia, as impede de cortar esse tipo de investimento”, avalia.

Ele conta que no site da instituição há diversas palestras sobre empreendedorismo disponíveis para quem pensa em empreender. “Oferecemos mais de 300 tipos de cursos.”

Segundo o CEO da agência de contabilidade online Contabilizei, Vitor Torres, apesar da crise, este pode ser um bom momento para abrir o próprio negócio. “Depois do movimento de crise vem um ciclo de crescimento. Agora é hora de armar o negócio para usufruir da boa maré quando ela vier.

Ele lembra, ainda, que MEIs e microempresários têm direito a aposentadoria mediante contribuição mínima ao INSS. Ele afirma que durante a crise, alguns mercados continuam bem aquecidos, como é o caso do setor de serviços, responsável por 75% dos empregos formais no País e por mais de 60% do PIB nacional, de acordo com o Serasa Experian.

Torres conta que a Contabilizei realizou levantamento interno que identificou que, em um ano, o setor de TI representou a maioria (13%) dos negócios abertos pelo escritório de contabilidade online. “Portanto, é estratégico oferecer serviços que acompanham as atuais necessidades do mercado, especialmente com vista a atender as grandes empresas que procuram alternativas viáveis para reduzirem seus custos”.

Com a crise, cresce o número de autônomos?

Quando a economia vai bem, muita gente arruma emprego no mercado formal e o número de pessoas trabalhando como autônomos diminui. Em momentos de desaceleração da economia como o de agora, ocorre o contrário. A renda cai e faz aumentar o número de desempregados, assim como o número de pessoas disputando a renda como trabalhador autônomo, ou pequeno empreendedor. O que torna a disputa muito mais acirrada.
Quais os riscos?
Nos anos 50, 60 e 70 a ascensão da classe média foi enorme e os proprietários de pequenos negócios tiveram muitas oportunidades porque o País estava crescendo e abrindo espaços. Agora, quando o País vive uma recessão, investir o dinheiro da rescisão do contrato de trabalho em um negócio é bem arriscado. A pessoa não tem experiência, tem pouco capital e vai começar a empreender em um momento no qual a economia está encolhendo e a inadimplência aumentando. Por todos esses motivos, este pode ser o pior momento. Mas, ao mesmo tempo, também pode ser a sua única alternativa.
Como se precaver para não perder o investimento?
A crise não está afetando todos os setores. Dependendo da área, pode não ser tão arriscado. Mesmo com o País crescendo menos, a agricultura, por exemplo, teve um bom desempenho, assim como os setor de serviços. Então, é bom ver se o setor no qual vai entrar está em expansão ou não. Se a atividade estiver em retração, ele tem de ficar atento porque vai competir com pessoas mais experientes, capitalizadas, que já tem relação com os clientes.
Como competir com quem já está estabelecido?
Se a atividade for muito competitiva, ele terá de ter algumas vantagens em relação a quem já está estabelecido. Precisa ter uma ideia nova, ou muita qualificação. Também pode ter alguma estratégia, ou uma boa rede de contatos para formar a sua carteira de clientes. No fundo, a pessoa que vai entrar no mercado neste momento está procurando ter alguma renda e não ficar parado, por isso, tem de olhar todos esses aspectos. A chance é menor, mas não é impossível. O melhor é que ela tenha capital e não precise recorrer a empréstimos que estão com juros altos.

Fonte: O Estado de São Paulo –

Maurílio Fontes

Proprietário, jornalista, diretor e responsável pelo Portal Alagoinhas Hoje

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