Eleição dividiu o país e futuro presidente governará em cenário de radicalidade – Maurílio Fontes

A eleição presidencial dividiu o país, senão ao meio (as urnas dirão isso mais tarde), mas em grande porcentual, estabelecendo um cenário político e social de radicalidade para o próximo quadriênio, certamente distantes dos conteúdos dos embates entre Carlos Lacerda (O Corvo) x Getúlio Vargas e entre o mesmo Lacerda x Jango, que resultaram, com outros ingredientes, no golpe de 1964, de triste memória para os brasileiros democratas.

A dicotomia PT x PSDB, ao invés de ser oxigênio para a democracia, é, ao contrário, um desserviço à modernidade política de um Brasil ainda arraigado a posições ideológicas vencidas pelo tempo, desgastadas pela sofreguidão das siglas em direção ao erário e pela falta de projetos capazes de assegurar um desenvolvimento compatível com aquilo que precisamos. Esta dicotomia é mais do mesmo, por excelência, impeditiva da renovação dos quadros políticos, como demonstrou a quinta campanha em que as duas siglas disputaram a cadeira principal do Palácio do Planalto.

Mudam os personagens, mas o discurso enfadonho é o mesmo, incapaz de renovar-se, de estabelecer novos padrões na condução da res pública, sem que os cofres da Nação sejam dilapidados, e de construir alternativas viáveis para o Brasil de hoje e de amanhã.

A radicalidade está posta, fruto da visão egocêntrica daqueles que mandam e comandam as duas siglas, e espraiou-se para segmentos sociais, que ao fazerem suas opções eleitorais, entendem que o oponente é o diabo em pessoa, com seu tridente pronto a espetar aqueles que não rezarem em suas cartilhas, confrontando seus decálogos, originários dos bons, com outros, oriundos de malfeitores que querem destruir o Brasil.

Posições maniqueístas foram assumidas desde o início da campanha eleitoral e bobagens, baboseiras, mentiras, aleivosias foram assacadas de lado a lado, para ferir de morte os contendores.

O “fechamento” das urnas e a declaração do vitorioso não terão o condão de curar as feridas, como se bálsamos fossem. Muito pelo contrário: na noite de hoje, emergirá da vontade popular um país dividido quase ao meio, com ânimos à flor da pele e um nível de radicalidade experimentado apenas em momentos de grande conturbação política, que marcaram negativamente a história do Brasil no século passado.

Reeleita,a presidenta Dilma Rousseff terá que satisfazer parte das demandas da esquerda petista, a exemplo da regulação da mídia, algo tão ao gosto de segmentos identificados com o bolivarianismo inaugurado pelo comandante Chavez. Este cenário colocará contra ela grupos econômicos de tradicionais veículos de comunicação do Brasil, mais voltados para o início do século XX do que preparados para os desafios contemporâneos. 

Eleito, Aécio Neves terá uma oposição sem tréguas do Partido dos Trabalhadores.

Os próximos anos serão desafiadores, tensos, complexos e eivados de entrechoques, colocando em posições ainda mais diametralmente opostas as duas siglas principais do cardápio político brasileiro. E mais grave: dividindo a sociedade brasileira. 

Quem viver, verá. 

Maurílio Lopes Fontes é editor do site Alagoinhas Hoje

 

Maurílio Fontes

Proprietário, jornalista, diretor e responsável pelo Portal Alagoinhas Hoje

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