É difícil não pensar em uma conexão com a China, diz dono da Mundo Verde

O empresário Carlos Wizard Martins fundou a rede de idiomas Wizard em 1987 e abriu milhares de escolas, até na China, antes de vender seu império (que incluía bandeiras como Yázigi e Skill) para a britânica Pearson no fim do ano passado por R$ 2 bilhões.

Prometeu descansar e voltar ao mercado só em 2015, mas surpreendeu a concorrência no mês passado ao anunciar a compra da rede Mundo Verde, focada em alimentos naturais e bem estar.

Aficionado pelo mercado chinês, Martins recebeu a Folha para uma entrevista no intervalo de suas aulas de mandarim, acompanhado de sua professora particular.

“É difícil pensar que não vai ter alguma conexão ou comprando ou vendendo para a China”, diz.

Por ora, ele nega planos de abrir unidades no exterior antes de concluir a expansão da rede no Brasil. No curto prazo, a ideia é elevar a participação de produtos chineses, que atualmente é de 10%, no fornecimento da Mundo Verde. Ele ainda não revela que itens buscará no Oriente.

Folha – O senhor continua estudando chinês? Tem interesse em negócios no país?
Carlos Wizard Martins – A China é a segunda potência mundial. É difícil pensar que não terá alguma conexão comprando ou vendendo para a China. Além disso, meu livro “Desperte o Milionário que existe em Você” foi traduzido lá e será vendido até o fim do ano.

E com a Mundo Verde?
Temos na rede mais de 5.000 produtos. Hoje, 10% deles vêm da China. Temos interesse em negociações para ter ótimo fornecimento com qualidade e preço justo.

Pretende elevar a participação de fornecimento chinês?
A princípio estamos estudando os produtos.

Vai abrir lojas lá?
Não. Nosso foco é Brasil. A meta é chegar a 2018 com 650 lojas. Hoje são 335 nas principais cidades, mas há cidades entre 100 mil e 200 mil habitantes que ainda desconhecem a Mundo Verde. Seria insensato investir no exterior se temos condições de ter lucratividade maior dentro de casa. Mas quando se atinge essa maturidade, aí é natural expandir no exterior.

Quem é o seu público-alvo?
O conceito de produto saudável e orgânico não é modismo. É tendência internacional. O varejo de alimentação no país cresce 5% ao ano. O produto natural cresce acima de 10%. Não é só para classe AB. Abrimos nossa primeira loja na comunidade da Rocinha, no Rio. A demanda se deve a bem estar, estética e saúde. Muitas pessoas têm resistência a lactose e glúten.

Intolerância a lactose é moda?
Infelizmente, a indústria de alimentação está cada vez produzindo mais alimentos geneticamente modificados, com consequências imprevisíveis para a saúde. Não quero ser alarmista, mas há tantas pessoas com câncer que aparentemente levaram vida saudável… A maior parte do trigo produzido no mundo já foi geneticamente transformada. Só 5% do trigo é original, aquele que Deus criou.

Sua rede só vende trigo que Deus criou?
Temos o produto que o mercado consome e temos o produto original, não transformado geneticamente. Com consciência e informação, as pessoas têm escolha.

O cliente sabe diferenciar?
Tem a identificação do produto. A tendência é que 100% dos nossos produtos sejam naturais. Hoje ainda existe um mix. Vai ser gradual. À medida em que a população toma consciência dos benefícios da alimentação equilibrada, nós ganhamos escala e, consequentemente, temos condições melhores de negociação e preços acessíveis.

O consumidor se dispõe a pagar mais?
Ele paga. Essa é nossa percepção como investidores. Por isso investimos na aquisição da rede. Além de ser um negócio promissor no aspecto financeiro, é uma tendência irreversível. McDonald’s acrescentou salada ao cardápio. Na Pizza Hut, vi uma pizza com massa de grãos integrais. Para mudar cadeias alimentares mundiais como essas é porque o consumidor já está exigindo. O fornecedor precisa atender.

Será capaz de atender toda a população?
Nossos fornecedores são tanto do país como de fora. A chia, por exemplo, é uma semente dos Andes. Como não temos produção no Brasil, vamos ao exterior buscar.

O senhor também vai atender a classe média, que já começa a mostrar fragilidade.
Nossa visão não é de curto prazo. Vivemos a década de 80, enfrentamos diversos planos econômicos, inflação, confisco de contas bancárias. Saímos de uma condição extremamente fragilizada para estabilidade. Agora estamos com um pibinho, mas nossa visão não é para esse ano nem para o ano que vem. Acreditamos no Brasil. Sabemos do potencial econômico.

Quando o senhor vendeu o negócio anterior, disse que só voltaria em 2015. Por que abreviou o sabático?
Preparei minha empresa de educação por vários anos para abrir capital. Mas tivemos crise nos EUA, na Grécia, na zona do euro. No Brasil, a bolsa começou a ficar insegura. Então passei a me interessar por parceiros internacionais. Jamais pensei que cederia 100%, o controle da empresa, mas a negociação evoluiu. Meu DNA é empreendedor, eu ia voltar. Enquanto estava no sabático, viajando pelo mundo, meus dois filhos buscavam oportunidade. E se aproximaram do grupo Axxon, ao qual pertencia a Mundo Verde. Uma negociação que leva até um ano foi fechada em quatro meses.

O senhor colocou Wizard no seu nome, que era só Carlos Martins. Agora vai tirar? Vai colocar Mundo Verde?
No meu túmulo vai estar Carlos Wizard Martins. Tem no meu RG, passaporte, documentos dos filhos. Wizard tem valor emocional, foi a primeira empresa que criei e acabou virando líder mundial. Mas neste mês comemoro meu aniversario e já falei aos amigos que só vou aceitar presentes Mundo Verde.

Esse novo setor tem mais riscos do que educação? Agora vai ter de lidar com fornecedor, fica dependente de logística…
Nem vou citar o risco. Cito a concorrência. Em educação, no mesmo quarteirão, eu encontrava dez escolas de inglês com marcas diferentes. Em produtos naturais, o Mundo Verde é líder. O segundo colocado tem hoje 30 lojas, 10% das nossas. Certamente vamos ter de fazer altos investimentos [em lógística] e temos planos de fortalecer a marca, qualificar os colaboradores.

E qual será o investimento?
Não posso quantificar neste momento.

Maurílio Fontes

Proprietário, jornalista, diretor e responsável pelo Portal Alagoinhas Hoje

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