Dólar dispara para R$ 3,260 e chega ao maior valor desde abril de 2003

Dolar

 

Numa sessão bastante tensa nesta sexta-feira, 13, o dólar voltou a disparar ante o real e atingiu o maior valor em quase 12 anos. As preocupações com a economia brasileira e com a crise política somou-se hoje ao firme avanço do dólar no exterior, em meio à avaliação de que o Federal Reserve (Fed, o banco central americano) está próximo de elevar sua taxa de juros. No pior momento do dia, o dólar chegou a se aproximar dos R$ 3,28, para depois encerrar em patamar um pouco menor, aos R$ 3,260, com alta de 3,36% no balcão. Este é o maior valor para a moeda desde 2 de abril de 2003.

Fontes do governo se movimentaram após o encerramento dos negócios à vista, citando inclusive “claro exagero” na alta do dólar. Isso impactou a moeda para abril, que subia um pouco menos no final da tarde (+2,34%, aos R$ 3,2605). Pela manhã, as tensões internas, amplificadas pelo retorno das manifestações em várias cidades do País, já abriam espaço para a busca de dólares.

No exterior, a moeda americana também subia ante várias divisas, com investidores se posicionando antes da reunião do Fed, na semana que vem. A leitura era de que o Fed tende a dar sinais de que a alta de juros está próxima. O movimento foi intensificado no início da tarde, após notícias publicadas na imprensa de que o governo vê parte da alta do dólar como especulação e que não queimará reservas para conter o avanço. Em meio a leitura de que o BC não entrará nos negócios, o dólar chegou a se aproximar dos R$$ 3,28 no balcão, para depois se acomodar, em patamares mais baixos.

Na máxima, vista às 12h47, a moeda de balcão marcou R$ 3,2790 (+3,96%). Mais cedo, às 9h27, a moeda havia marcado a mínima de R$ 3,1820 (+0,89%). A pressão foi tão forte que, no meio da tarde, o dólar para janeiro de 2016 era precificado acima dos R$ 3,53. Os contratos futuros de dólar para prazos mais distantes não são líquidos na BM&FBovespa, mas operadores precificam a moeda com base na variação do dólar para abril, da curva de DI e da curva de cupom cambial.

Com isso, players que tentassem fechar negócios nesta tarde no mercado de opções cambiais, por exemplo, encontrariam cotações próximas dos R$ 3,53 somadas ao spread dos bancos. No mercado spot (à vista) de Forex (câmbio internacional), o real era a moeda que acumulava a maior perda de valor, em 2015, ante o dólar. Durante a tarde, o avanço acumulado este ano do dólar ante o real neste mercado estava acima de 22% – bem mais que os cerca de 15% que a divisa dos EUA tinha acumulado ante a coroa dinamarquesa (segunda que mais perdeu no ano até agora).

Pouco depois do fechamento da moeda de balcão, perto das 16h30, fontes do governo falaram ao Broadcast, serviço de notícias em tempo real da Agência Estado. Elas disseram que o BC tem procurado mostrar que o ajuste no câmbio tem que se dar de maneira suave e que a instituição vê claro exagero na alta do dólar no Brasil. Ainda segundo as fontes, a autoridade monetária avalia que o movimento do dólar hoje reflete olhar de curto prazo, devido à reunião do Federal Reserve na próxima semana.

As declarações levaram o dólar para abril a desacelerar a alta, mas a moeda se fortaleceu novamente com comentários de outra fonte da equipe econômica, de que o governo não vai intervir no câmbio. Taxas de juros – As taxas dos contratos futuros de juros acompanharam hoje a disparada do dólar e subiram de forma consistente. Do meio da tarde para frente, as taxas futuras até desaceleraram um pouco, com os agentes reconhecendo os exageros vistos mais cedo e também diante da possibilidade limitada de um choque de juros diante da situação da atividade. Ainda assim, as notícias – depois desmentidas – de que Petrobras adiaria a divulgação de seu balanço auditado, a não atuação direta do Banco Central no câmbio e as tensões sobre as manifestações contra e a favor do governo Dilma Rousseff acabaram pesando nos negócios.

Ao término da negociação regular na BM&FBovespa, o DI para julho de 2015 marcava 13,17%, de 13,129% no ajuste anterior. O DI para janeiro de 2016 apontava 13,86%, ante 13,78% ontem. O DI para janeiro de 2017 mostrava taxa de 13,79%, de 13,78% no ajuste anterior. E o DI para janeiro de 2021 indicava 13,28%, ante 13,27% na véspera. Bolsa de valores – A crise política voltou a justificar o nervosismo na Bovespa nesta sexta-feira.

Com os receios de que o País possa até perder o grau de investimento, o movimento vendedor ganhou força por causa de duas notícias. A primeira de que Joaquim Levy, ministro da Fazenda, teria ameaçado se demitir na quinta-feira se não fosse aprovado no Senado o veto da presidente Dilma Rousseff à prorrogação até 2042 dos subsídios sobre a energia elétrica para grandes empresas do Nordeste. O governo venceu o embate no Senado e Levy teria negado a possibilidade de demissão.

A outra informação, depois desmentida, foi a de que a Petrobras estaria conversando com credores para adiar seis meses a divulgação de seu balanço auditado. Os papéis chegaram a aliviar as perdas exibidas mais cedo, com a ON caindo 1,57% e a PN, 2,35%. No pior momento do dia, o Ibovespa chegou a perder pontualmente o patamar de 48 mil pontos, recuperado mais tarde quando o noticiário se esvaziou. O Ibovespa terminou em baixa de 0,58%, aos 48.595,81 pontos. Na mínima, marcou 47.905 pontos (-2%) e, na máxima, registrou 48.858 pontos (-0,05%). Pela segunda semana consecutiva terminou com perdas, de 2,77%. No mês, já cai 5,79% e, no ano, 2,82%. O giro financeiro totalizou R$ 7,358 bilhões.

Fonte: Estadão

 

Maurílio Fontes

Proprietário, jornalista, diretor e responsável pelo Portal Alagoinhas Hoje

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