Disputa do tráfico entre ‘Terror do Subúrbio’ e ex-comparsa deixa rastro de mortes na região

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Se o bairro de Plataforma fosse um ringue, teríamos,  de um lado, o traficante mais procurado de Salvador na atualidade, Ednelson Nascimento da Conceição, 28 anos, o Terror do Subúrbio, e,  do outro, Leudemar Paixão Filho, o Leozinho, um ex-comparsa. Durante os embates para o obter o cinturão do tráfico na região, Leozinho deu um golpe que desequilibrou o rival.

O braço braço-direito de Ednelson foi morto e, no atentado, ocorrido há duas semanas, ficou ferida a companheira do traficante mais temido do Subúrbio.  Apesar do impacto, Ednelson, que mantém o controle da maioria das bocas de fumo de Plataforma, ainda busca o controle da localidade do Boiadeiro, sob as rédeas de Leozinho, e eliminar o ex-comparsa, que fez parte do Bonde do Maluco (BDM).

Para tal façanha, o Mágico, como também é conhecido Ednelson, vem tentando, à base da violência, estabelecer pontos de vendas na região do arquirrival.

Aqueles que se opõem têm o mesmo fim do baleiro Leandro de Jesus Santos, 17 anos,assassinado com mais de 10 tiros, na noite de anteontem, no Boiadeiro. Segundo vizinhos da vítima, por se recusar a vender drogas, Leandro vinha recebendo ameaças de morte de Siso, que atualmente ocupa a função que era de Leozinho.

Traição

Líder do BDM no Subúrbio, Ednelson foi surpreendido pela traição de Leozinho, que tem 23 anos, passagens por tráfico de drogas e  é procurado por homicídio – há contra ele um mandado de prisão preventiva pela morte de Luis Henrique Silva dos Santos, em 2012, na localidade do Boaideiro. E é essa a região cobiçada pelos rivais. Ednelson não quer abrir mão do território para o ex-comparsa.

O BDM era uma extensão da facção Caveira, mas hoje atua por conta própria. Segundo a polícia, desde o início de março  que os dois traficantes tornaram-se rivais. A situação entre eles estava estremecida, pois  já havia a intenção da Caveira de romper com o BDM, o que não agradava Ednelson.

Ele pretendia, junto com Leozinho, espalhar o domínio do BDM no Subúrbio. Com o racha, Leozinho passou a atuar de forma independente e assumiu o controle dos pontos de venda de drogas no Boiadeiro, localidade entre o Parque São Bartolomeu e Ilha Amarela.

Guerra

A consequência desse embate é uma guerra constante com mortos e feridos, além de uma população acuada. Desde o início do ano, até o dia 22 deste mês, foram registrados 14 homicídios e 11 tentativas de homicídios no bairro de Plataforma. A maioria dos casos está relacionada com o tráfico de drogas. “Há uma grande possibilidade que a maioria das ocorrências esteja ligada ao tráfico de drogas”, declarou a delegada Celina Santos, titular da 29ª Delegacia (Lobato).

Para o  delegado Jamal Amad, do Departamento de Homicídios e Proteção à Pessoa (DHPP) e responsável pela apuração dos assassinatos em Plataforma, a identificação e prisão dos autores é “questão de tempo”.  “É uma questão de tempo e informações que possam nos levar aos autores dos homicídios na região”.

A polícia acredita que a disputa entre Ednelson e Leozinho tem relação com os casos recentes de violência em Plataforma. “É provável que a rivalidade tenha aumentado a violência, mas logo a situação será controlada porque a Polícia não permite isso”, declarou o comandante da 14ª Companhia Independente da Polícia Militar (CIPM/Lobato), major Carlos Humberto da Silva Moreira.

Execuções

De acordo com a comunidade do Boiadeiro, o baleiro Leandro, 17, estava na porta de casa, quando foi abordado por três homens, na noite de segunda-feira.

“Ele tinha acabado de jantar e estava sentado na porta de casa, quando o pessoal de Ednelson, sob o comando de Siso, chegou e atirou nele”, contou um vizinho da vítima que não quis se identificar.

“Ele já vinha comentado que vinha sendo ameaçado por Siso, porque não queria vender droga pra Ednelson. Ele queria até deixar o bairro, mas não tinha para onde ir, pois morava com a mãe e irmãos”, disse outro vizinho.

“É o que eles estão fazendo aqui com os nossos jovens. Quem não cola com a firma, cola com as balas”, contou o morador. Leandro trabalhava na Estação da Lapa e dentro de ônibus. Nas segundas, quartas e sextas ainda descarregava caminhões na Ceasinha de Simões Filho.

Ele seria usuário de maconha. Mas, segundo amigos da vítima, não tinha dívidas com o tráfico. “Ele trabalhava para sustentar o vício”, conta o amigo. Leandro era o caçula de uma família com seis filhos. O enterro ocorrerá hoje, às 14h, no Cemitério Municipal de Plataforma.

Os moradores do Boiadeiro disseram que os três irmãos executados em Plataforma, no dia 17 de fevereiro, também se recusaram a vender drogas para o bando de Ednelson. “Só que, ao contrário de Leandro, que apenas era usuário, os três irmãos mantinham uma boca de fumo independente. Por não quererem trabalhar para a quadrilha, foram mortos daquela forma”, contou um morador da região.

Os irmãos Elias Nascimento Brito dos Santos, 19, João Mateus Brito dos Santos, 17, e Tiago Nascimento Brito dos Santos, 16, foram surpreendidos dentro da casa onde viviam com o pai, e baleados, lado a lado, diversas vezes. O crime aconteceu na Travessa Noroeste. Testemunhas informaram à polícia que pelo menos oito homens chegaram ao local e cercaram a casa.
Segundo a Central de Polícia, apenas o adolescente de 16 anos tinha envolvimento com o tráfico de drogas. Nenhum deles, porém, tinha registro de passagem por delegacias.

Namorada de Ednelson
No último dia 17, um homem morreu e outras duas pessoas ficaram feridas durante um tiroteio na região do Boiadeiro. O confronto aconteceu na Travessa São Lázaro, por volta das 22h. Glaydson Silva Prado, 19, foi atingido diversas vezes e morreu no local. Deivdison Silva Campos, 21, e uma mulher, identificada apenas como Priscila, foram socorridos para o Hospital do Subúrbio.

De acordo com as investigações da Polícia Civil, as vítimas tinham ligação com Ednelson e foram baleadas por integrantes do grupo de Leozinho. “A moça é namorada de Ednelson. Uma das nossas linhas de investigação é de que Leozinho tenha ordenado o ataque. Estamos investigando e, se for comprovado, vamos pedir a prisão de todos”, declarou o delegado Jamal Amad, do DHPP.

No mesmo dia, outras duas pessoas foram baleadas em Plataforma. Iuri Bispo Santos, 25, e Átila Borges Silva, 27, também  foram levados ao Hospital do Subúrbio. Não há informação da polícia sobre a circunstância do crime.

No dia anterior, Rafael Felipe Sales de Freitas, 18 anos, foi morto a tiros em São João do Cabrito, localidade de Plataforma. De acordo com a Central de Polícia, o crime aconteceu, por volta das 13h, na Rua Araçás I, próximo ao fim de linha. Ele foi socorrido por PMs para o Hospital do Subúrbio, mas não resistiu aos ferimentos.

Dois primos foram baleados em circunstâncias ainda não esclarecidas pela Polícia, no último dia 20, na localidade de Mabaço de Baixo, em Plataforma. David Jesus Salvador, 24, foi baleado de raspão na cabeça. Já Isaac Salvador Rocha, 36, atingido na perna esquerda e no peito. Ambos foram atendidos também no Hospital do Subúrbio.

Em depoimento à Polícia Civil, David contou que estava na porta do beco que dá acesso à sua casa quando ouviu os disparos e, assustado, correu. Foi então que percebeu que estava com a cabeça sangrando e foi socorrido para o hospital, ainda sem saber que seu primo, Isaac, também havia sido ferido.  Isaac chegou logo depois no Hospital do Subúrbio.

Fonte: Correio 24h

Maurílio Fontes

Proprietário, jornalista, diretor e responsável pelo Portal Alagoinhas Hoje

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