Delação de Youssef ampliará danos a políticos e empresas
O doleiro Alberto Youssef, um dos réus da Operação Lava Jato, decidiu seguir o exemplo do ex-diretor da Petrobras, Paulo Roberto Costa, e fez acordo de delação premiada com o Ministério Público Federal. Youssef já assinou um acordo dessa natureza em 2004. Recebeu os benefícios legais, mas descumpriu o trato, voltando a operar como doleiro.
A diferença agora é que há um volume maior de acusações. Existem outros réus em processo de delação premiada. O doleiro certamente está sendo implicado nessas revelações. Faz sentido que tente se defender e também delate. Ele é acusado de liderar um esquema que pode ter lavado até 10 bilhões de reais. Tem munição para atingir políticos e empresários poderosos.
A dez dias do primeiro turno das eleições, as delações da Operação Lava Jato dificilmente vão alterar o desempenho dos políticos que estão na disputa. Mas poderão gerar instabilidade no Congresso e em alguns governos estaduais. Dependendo do que for revelado sobre o PT, Dilma Rousseff, se reeleita, pode iniciar seu segundo mandato tendo que conviver com um escândalo. O mesmo vale para Marina Silva, porque podem ser feitas revelações sobre o PSB e a refinaria de Abreu e Lima.
A extensão das revelações pode ter um efeito benéfico também: forçar alguma mudança ou limitação ao sistema de financiamento eleitoral atual. Há um escândalo contratado para explodir depois das eleições. Uma bomba-relógio que poderá comprometer políticos importantes em diversos partidos.
Em investigação em São Paulo, empresas do setor imobiliário alegaram que pagaram propina sob chantagem. Para tentar amenizar o dano político e jurídico, empreiteiras envolvidas na Operação Lava Jato ensaiam usar a mesma justificativa perante a Justiça. É uma tática que já deu certo em outros escândalos.
No entanto, é importante que corruptores também sejam punidos. Será uma pena que Paulo Roberto Costa e Alberto Youssef façam delação premiada e apenas os corruptos acabem em maus lençóis. Grandes empresas e grandes empresários se acostumaram no Brasil a escapar dos escândalos de corrupção. Também se acostumaram a comprar o poder político.
Seria pedagógico que corruptores respondessem por seus crimes na mesma intensidade dos corruptos. Não existe corrupto sem corruptor.
Fonte: Blog do Kennedy