Empresária reestrutura fábrica e supera crise

ANDRÉIA KONZ

Após um acidente que matou sua filha pequena e a subsequente perda do marido, a empresária Andréia Konz investiu toda a energia em sua empresa do setor de beleza.

Na contramão da crise e das expectativas dos fornecedores e funcionários, que chegavam perguntando pelo “homem do negócio”, a AK Acessórios cresceu 7% em 2015 e chegou a um faturamento de R$ 25 milhões

Leia o depoimento abaixo.

Comecei a trabalhar escondida aos 13 anos, entregando panfletos. Um tio me viu e contou para meu pai. Foi terrível. Mas a vontade de trabalhar foi maior e ele deu apoio.

Fiz estágio em banco e depois em metalúrgica, onde aprendi sobre finanças e marketing. Estudava engenharia química e sonhava em trabalhar com cosméticos.

Troquei o curso para administração, à noite, e trabalhava de dia. Fiz seis entrevistas de emprego, passei em cinco e escolhi a de salário menor, mas na área que eu almejava: uma indústria de acessórios e móveis para salão de beleza, ainda pequena.

Em pouco tempo avancei de vendas para diretora e comprei uma parte da empresa. A divisão de acessórios foi transformada na atual AK.

Hoje são cem funcionários, dois pavilhões, um crescimento de 7% em 2015 e faturamento de R$ 25 milhões.

Em 2008, conheci meu marido e, em 2009, ganhei a Rafaela. Morava em uma cidade, trabalhava em outra e enfrentei dificuldades na empresa. Meu marido tratava mal os funcionários e brigou com meu sócio; precisamos comprar a parte dele.

Foi difícil colocar a empresa nos trilhos de volta.

No final de 2013 pensei em me separar, mas nos reconciliamos. No início de 2014, meu marido comprou uma moto infantil para os cinco anos da Rafaela, quase uma miniatura da moto dele. Não achei adequado e brigamos.

Ele prometeu levá-la para andar. Eu fiquei paranoica, briguei para que ela vestisse capacete, joelheiras, cotoveleiras, mas ele não tinha comprado nada disso. “Vamos na loja depois, só vamos andar um pouquinho”, disse.

A Rafaela queria passar um batom e fui buscar no carro. Quando vi, ela estava muito rápido na moto. Voltei correndo e gritando. Ela bateu no canteiro, foi arremessada e bateu a cabecinha no meio-fio. Foi horrível. Meu marido veio com ela no colo, saía sangue pelo nariz, boca, ouvido. Ela aguentou por uma hora.

Hoje falo a respeito, estou escrevendo um livro e dou palestras. A culpa do meu marido não era possível medir. Tive que ser forte e dar apoio a ele. Oito meses depois, ouvi um barulho. Procurei em toda a casa. No jardim de inverno, ficavam as bonecas e o balanço da Rafaela. Ele havia se enforcado ali.

Minha primeira reação foi segurá-lo por baixo. Gritei por socorro. Quase 30 minutos depois, chegaram os policiais. Ele ainda estava vivo, mas morreu após cinco dias.

Eu fiz o luto efetivo da Rafaela depois que ele morreu. Não podia nem chorar na frente dele. Quando a crise começou, eu já estava reagindo, por causa de tudo isso.

Demiti funcionários envolvidos com fofoca, trabalhei com transparência. Fornecedores achavam que a empresa ia fechar porque o “homem do negócio” morreu. Mas a empresa era minha, era minha história de trabalho.

Tudo ainda é muito difícil, mas, se o país está em crise, o que fazem os empresários bem-sucedidos? Tentei entender os pilares da empresa, os diferenciais. Identifiquei que a hora do maquinário noturno custava R$ 56 e reduzi para R$ 36, terceirizando.

Tinha um setor de brindes, que ocupava espaço e era caro. O líder do setor resolveu abrir a própria empresa para me prestar o serviço. Coloquei uma bandeira do Brasil nas embalagens: é o nosso diferencial; os concorrentes importam tudo da China.

Às vezes fico triste, assisto aos vídeos da Rafaela dizendo que queria trabalhar na AK. Ela brincava de vender os produtos. Se esse era o sonho da minha filha, uma criança que me deu muita alegria, eu preciso honrar a memória dela e fazer dar certo.

Fonte: Folha de São Paulo

Maurílio Fontes

Proprietário, jornalista, diretor e responsável pelo Portal Alagoinhas Hoje

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