Crise da Petrobras atinge perfuradoras no exterior

A proximidade da data de divulgação do novo plano de negócios da Petrobras aumenta a pressão sobre as gigantes globais do mercado de sondas de perfuração. Uma série de relatórios divulgados nos últimos dias apontam o segmento como um dos principais afetados com a revisão dos investimentos, que deve cortar gastos em exploração e produção de petróleo. Na esteira da queda das cotações internacionais do petróleo, as ações das companhias já amargam desvalorização superior a 40% em um ano. Empresa estrangeira mais exposta à Petrobras, a Seadrill perdeu 60% do valor no período.

“O risco enfrentado pelas empresas de perfuração que têm sondas contratadas pela Petrobras é aparente”, escreveram ontem, em relatório, especialistas da casa de análises independente Zack’s, citando especificamente as companhias Diamond Offshore, Paragon e Ensco — que têm, respectivamente, 20%, 25% e 15% de suas frotas atreladas a contratos com a estatal brasileira. “É bastante óbvio para a Petrobras reduzir seu plano de investimentos”, explica o documento.

Os analistas J.B. Lowen e Roland Morris, da Cowen’s, preveem que o novo plano de negócios virá com orçamento de até US$ 160 bilhões para os próximos cinco anos, bem abaixo dos US$ 220,6 bilhões previstos no plano anterior. O documento deve ser anunciado até o mês que vem, com indicações sobre a estratégia da companhia para enfrentar a crise provocada por anos de subsídio aos preços dos combustíveis e agravada pela descoberta do esquema de corrupção investigado pela Operação Lava Jato. No mercado, espera-se revisão das metas de produção e, consequentemente, da previsão de poços perfurados.

“Como um dos maiores operadores de sondas de perfuração marítimas, a Petrobras tem um impacto significante na saúde do mercado”, escreveram os analistas da Cowen’s, lembrando que a estatal brasileira já vem reduzindo o número de equipamentos contratados, da casa dos 70 em meados de 2013 para cerca de 50 atualmente. Segundo o site especializado Rigzone, a Petrobras opera hoje 59 sondas, sendo que 50 são adaptadas para águas profundas. Entre os fornecedores, oito empresas estão listadas em bolsa nos Estados Unidos.

Levantamento feito pelo site Seeking Alpha mostra que a Seadrill é a empresa listada nos EUA com maior número de contratos com a estatal (seis sondas), seguida de Transocean e Ensco (com cinco cada uma). Depois, aparecem na lista a Diamond Offshore (quatro sondas) e a Paragon (três). No Brasil, a Odebrecht Oil & Gas tem o maior número de contratos, com sete sondas dedicadas a operações da Petrobras. O setor já vem sofrendo com a queda nas taxas de aluguel, diante da redução dos preços do petróleo e, consequentemente, da atividade exploratória em águas profundas.

O cenário tem influenciado a cotação das ações das empresas do setor. Os papéis da norueguesa Seadrill, por exemplo, já acumulam queda de 60% em um ano. A Ensco perdeu 54% de seu valor e a Diamond Offshore, 40%. No Brasil, as filiais das empresas têm enfrentado a situação com redução de pessoal em suas bases de operação. A cidade de Macaé, no Norte fluminense, onde estão concentradas as atividades da Petrobras, é uma das que mais perdeu postos de trabalho no setor extrativista nos últimos meses, segundo dados do Ministério do Trabalho.

“A indústria está aposentando sondas flutuantes, mas sem o crescimento da demanda, a estratégia não resolverá o problema: o mercado terá 280 sondas ao final de 2015 (…), dos quais 235 estão contratadas (84%) e 209 (74%) realmente operando”, comentou, na semana passada, o analista Waqar Syed, do Goldman Sachs. “No nosso caso base, esperamos que a demanda caia 8% até 2017, o que manterá a taxa de utilização em 77%”, completou Syed, lembrando que 61 unidades estão em construção para entrega daqui a dois anos. A recomendação é cuidado com investimentos no setor neste momento. “Nós mantemos a recomendação aos investidores que evitem ações de perfuradoras com exposição significativa à estatal brasileira”, reforça o relatório da Cowen’s.

Fonte: Brasil Econômico

Maurílio Fontes

Proprietário, jornalista, diretor e responsável pelo Portal Alagoinhas Hoje

Menu de Topo