Contratado por Aécio, ‘antimarqueteiro’ diz que não vende ilusões
“Não sou vendedor de ilusões. Não sou marqueteiro.” A frase é de Renato Pereira, 52, o homem que cuidará da imagem do senador tucano Aécio Neves até a disputa presidencial de 2014.
Ele rejeita a alcunha de guru; tampouco gosta da associação inevitável com publicitários que fizeram nome vendendo a ideia de que podiam, do nada, inventar candidatos e vitórias.
Pereira, aliás, foge à outra regra: é antropólogo. “Fazemos algo coletivo. Não é trabalho de uma estrela”, costuma dizer.
Filho de diplomata, nasceu na Suíça, mas criou-se no Rio.
Foi a antropologia e a paixão pelo cinema que o levaram a morar no Xingu no fim da década de 1980. Tarefa: ensinar aos índios técnicas de filmagem.
Tornou-se amigo do cacique Raoni, que rodou o mundo para preservar a Amazônia com uma câmera portátil a tiracolo.
Agora, assume nova missão: virar a sorte do PSDB após três derrotas nacionais para o PT. Sua escolha, a propósito, interrompe a “era Luiz González”, autor das três últimas campanhas presidenciais para o partido.
Há cerca de um mês, Renato Pereira soube por um amigo do interesse do ex-presidente Fernando Henrique Cardoso em seu nome.
Duas semanas depois, encontrava-se com Aécio Neves. “Ele chegou com um capacete na mão. Gostei logo”, disse à Folha o senador mineiro, entusiasmado com o “estilo jovem” do auxiliar.
Além do motociclismo, descobriram outro interesse em comum: esportes radicais.
Aécio tem dito que disputará a eleição vendendo a ideia do “pós-Lula”. Pereira fez recentemente algo próximo a isso na Venezuela.
Indicado por um colega norte-americano, assumiu em 2012 a candidatura de Henrique Capriles, o opositor que deu trabalho à reeleição de Hugo Chávez.
Fez isso apostando na versão “light” do candidato, um governador popular que apontava o dedo contra falhas da gestão bolivariana, nunca contra o popular presidente da República.
No Brasil, produziu filmes como “Bruna Surfistinha” e videoclipes para bandas. Na política, executou as duas campanhas de Eduardo Paes (PMDB) a prefeito do Rio e todas as candidaturas do atual governador Sérgio Cabral (PMDB-RJ) desde 1998.
“Olha, aposto uma garrafa de vinho que o Capriles vai ganhar a eleição”, lançou um confiante Cabral à presidente da República dias antes da votação no país vizinho.
Dilma Rousseff ganhou o desafio. Ali, ela torcia por Chávez –um aliado– e por seu próprio marqueteiro, o jornalista João Santana.
Foi lá, em Caracas, que os dois estrategistas se enfrentaram pela primeira vez numa disputa nacional. Em 2014, PT e PSDB viabilizarão um novo encontro –ou duelo, como preferem alguns.
Fonte: Folha de São Paulo