Consumo perde força e vendas do comércio desaceleram em fevereiro
As vendas no varejo desaceleraram em fevereiro. Segundo pesquisa do IBGE, o comércio, no período, vendeu 0,2% a mais que no mês anterior, mostrando perda de força com moderação no consumo.
Em janeiro, a alta em relação a dezembro havia sido de 0,4%.
“A taxa vem próxima de zero nos últimos meses, reflexo, de certa forma, da perda de fôlego, que vinha mais intensa nos períodos anteriores”, diz Aleciana Gusmão, técnica da Coordenação de Serviços e Comércio do IBGE.
A última vez em que o indicador superou 1% foi em julho de 2013, quanto registrou alta de 2,1%.
O resultado é igual ao esperado por analistas. Segundo pesquisa da Reuters, a mediana de 25 expectativas apontava alta de 0,2%, com projeções variando de queda de 2,80% a alta de 0,90%.
De acordo com o IBGE, apenas três das oito atividades pesquisadas no varejo restrito mostraram alta na comparação mensal, com destaque para equipamentos e material para escritório, informática e comunicação (alta de 9% nas vendas) e combustíveis e lubrificantes (1,6%).
Por outro lado, outras três atividades registraram queda. Hipermercados, supermercados, produtos alimentícios, bebidas e fumo, tiveram retração de 0,3%.
Livros, jornais, revistas e papelaria, caíram 3,4%, e tecidos, vestuário e calçados, tiveram vendas 0,5% menores.
O restante registrou estabilidade nas vendas.
12 MESES
Nos 12 meses encerrados em fevereiro, o comércio acumula crescimento de 5%, índice superior aos 4,3% registrados nos 12 meses até janeiro.
Na comparação com fevereiro do ano passado, o setor teve alta de 8,5%.
Em relação ao mesmo mês do ano anterior, a expectativa de analistas era de avanço de 8,1% na mediana de 24 projeções, que foram de 4,1% a 10%.
Os destaques, nessa base de comparação, foram nos setores de supermercados e hipermercados, com alta de 5,1%, e de artigos de uso pessoal e doméstico, que cresceram 17,2%.
Esses dois setores representaram 32% e 19% do índice, respectivamente.
O segmento de combustíveis e lubrificantes, que cresceu 13,5% em relação a fevereiro de 2013, foi responsável pela terceira maior contribuição (16%).
A política do governo de segurar o preço dos combustíveis explica a alta das vendas desse item.
O IPCA, a inflação oficial do país, ficou em 5,7% nos 12 meses encerrados em fevereiro, enquanto os combustíveis tiveram alta de 3,1% no período.
O IBGE informou ainda que a receita nominal do varejo registrou avanço de 0,2% em fevereiro sobre janeiro e alta de 13,9% na comparação com o mesmo mês do ano anterior.
VAREJO AMPLIADO
Já o volume de vendas no varejo ampliado, que inclui veículos e material de construção, registrou queda de 1,6% em fevereiro na comparação mensal, após ter subido 2,8% em janeiro.
As vendas de material de construção subiram 2,2%.
A reposição parcial do IPI para a indústria automobilística, em janeiro, levou à queda de 7,6% na venda de veículos e motos de janeiro para fevereiro, informou a pesquisa.
Foi o pior resultado desde setembro de 2012, quando o setor enfrentou queda de 24,9% frente a agosto de 2012.
JUROS
O comércio varejista brasileiro vem convivendo com cenário de juros e inflação elevados, o que acaba afetando o consumo de forma geral por encarecer as operações de crédito.
Esse cenário afetou a confiança do consumidor no início do ano. Apesar de ter registrado ligeira melhora em março ao interromper três meses de queda, segundo a Fundação Getulio Vargas (FGV), ela ainda mostra desânimo em relação ao futuro.
Para os meses seguintes, as vendas devem continuar afetadas pelo mau humor do consumidor. O nível de confiança dos consumidores paulistanos atingiu, em abril, o menor nível desde novembro 2005.
Esse índice, medido pela Fecomercio-SP (Federação do Comércio de Bens, Serviços e Turismo de São Paulo), caiu 4,4% em relação a março. Na comparação com abril do ano passado, a queda é ainda maior: 22,7%.
O indicador, termômetro da percepção das pessoas sobre a situação econômica do país, vai de zero (pessimismo total) a 200 pontos (otimismo total). Em abril, ficou em 120,2 pontos.
Nesse patamar, mostra que os paulistanos estão pouco otimistas com o cenário atual e quanto as perspectivas de desempenho da economia para os próximos meses.
Para o assessor técnico da Fecomercio-SP, Fábio Pina, o maior desânimo estaria ligado às altas dos índices de preços ao consumidor, sobretudo de bens de consumo, como alimentos. Em março, a inflação subiu 0,92%, puxada pelo grupo alimentação, que cresceu 1,92%.
Também contribuiu para o pessimismo a maior dificuldade para obter crédito, o que aconteceu por prazos mais curtos de pagamento e taxas de juros mais altas.
A expectativa geral é que a economia brasileira desacelere o ritmo de expansão neste ano.
Após o PIB ter avançado 2,3% em 2013, pesquisa Focus do Banco Central aponta que a expectativa dos economistas consultados é de expansão de 1,65% em 2014.
Fonte: Folha de São Paulo