Colégios militares obtêm melhores índices da capital

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Antes mesmo de chegar ao ensino médio, o estudante Luís Santana, 15, já projeta o futuro além da escola. Ele estuda no Colégio Militar de Salvador (CMS), na Pituba, instituição federal com a mais alta nota da capital (7,5) para o 9º ano, no Índice de Desenvolvimento da Educação Básica (Ideb) 2015.

Divulgado na quinta-feira, 8, o levantamento do Ideb aponta que, para além do colégio mantido pelo Exército Brasileiro, a educação com viés militar em nível estadual ocupa as quatro primeiras colocações nos anos iniciais e a primeira posição nas séries finais do ensino fundamental.

Nas séries iniciais, equivalentes ao 5º ano (antiga 4ª série), as escolas mantidas pela Polícia Militar (PM) que se destacaram foram: o Colégio Estadual CPM Luiz Tarquínio (6,5), o Colégio Unidade I Dendezeiros (5,9), o Colégio Unidade II Lobato (5,5) e o Colégio João Florêncio Gomes (5,3).

Já no quesito séries finais do ensino fundamental, na categoria 9º ano (equivalente à 8ª série), a melhor escola da rede pública de ensino do estado foi o Colégio da PM Unidade II CPM Lobato, posicionado no Ideb com a nota 4,7.

Luís ingressou no colégio do Exército aos 11 anos, por meio de um concorrido concurso, em 2013, após ser incentivado pela mãe professora. Aplicado, costuma participar de olimpíadas de matemática, física e química, como preparação para o Exame Nacional do Ensino Médio (Enem).

Ainda não tem certeza se pretende seguir a carreira militar, incentivada no ambiente escolar, ou seguir a vida rumo à universidade. Alheio às discussões de especialistas em educação, o garoto de fala serena diz não ver problemas em receber uma instrução mais rígida.

“A escola tem uma excelente estrutura, com professores dedicados, apoio psicopedagógico para assuntos extraclasse, educação física”, pontua. “A questão da disciplina não acho que seja prejudicial ao aluno que, em certo ponto, precisa conviver com as regras”, avalia.

Colega com a mesma preparação dele, o estudante do 2º ano do ensino médio Guilherme Hohenfeld, 17 anos, chegou a ser aprovado pela Universidade Federal Tecnológica do Paraná, mas quis ficar em Salvador, para alçar voo direto para o Instituto Tecnológico da Aeronáutica (ITA).

“A ideia de estudar aqui veio de meus pais, que queriam um ensino de qualidade. No início, não queria, por conta de alguns boatos sobre a rigidez. Mas não é nada disso”, conta. “Aqui, a gente pode usar a própria estrutura da escola para atividades no turno oposto ao das aulas”, completa.

Chefe da divisão de ensino do CMS, o tenente-coronel Leandro de Moraes Ramos diz que não há segredo para manter o nível de desempenho dos alunos.

“O Ideb não é nosso foco, mas consequência de um trabalho sério e com profissionais qualificados”, observa ele.

Ramos sustenta que o colégio busca formar cidadãos com base nos valores cultuados pelo Exército, mas argumenta que a instituição fomenta o ensino em conformidade com a Lei de Diretrizes e Bases do Ministério da Educação.

“Não usamos o termo militarização do ensino. Além de seguir o que está na lei, no nosso currículo, buscamos passar os valores do Exército, que estão calcados na disciplina, como tudo na vida, quando se deseja alcançar um objetivo, seja na faculdade, no trabalho”, argumenta o tenente-coronel.

Polêmica

A “militarização” do ensino nas escolas de ensino fundamental e médio é um tema polêmico entre pesquisadores da área de educação. Enquanto alguns apontam a excelência do ensino como fator predominante, outros questionam a rigidez e exigências na maneira de vestir-se e  comportar-se.

“É inegável que o currículo escolar nas colégios militares é cumprido de forma mais rígida, o que possibilita que o aluno veja os assuntos em uma sequência que não é interrompida por problemas de falta de estrutura física da escola, por exemplo”, afirma Basilon Carvalho, especialista em educação e  tecnologia da informação pela Universidade Federal da Bahia (Ufba).

Ele pondera, no entanto, que a “pressão” sobre os alunos para um bom comportamento e um desempenho escolar de excelência pode aumentar o nível de estresse dos estudantes. “O fator rigidez pode ocasionar níveis de estresse nos alunos – que são adolescentes e estão na fase de apreensão do conhecimento sistematizado”, completa.

Especialista em educação e pedagoga, Jane Barros Leite afirma que as regras impostas pelas escolas militares não desenvolvem o senso crítico dos alunos. “Muitos estudantes se limitam a obedecem as regras impostas e não são estimulados a pensar a respeito da vida escolar, que vai muito além dos títulos e medalhas. O aprendizado deve ser livre, sem limitações”, diz.

Fonte: A Tarde

Maurílio Fontes

Proprietário, jornalista, diretor e responsável pelo Portal Alagoinhas Hoje

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