‘Coibir a ambição é como diminuir a potência da vida’, afirma o rabino Nilton Bonder

A ambição não é uma coisa ruim. Ao contrário. A ambição pode ser extremamente positiva. O rabino, escritor (membro da Academia Carioca de Letras) e dramaturgo Nilton Bonder quer nos levar para uma jornada de aprendizado sobre os aspectos mais naturais do poder e da ambição. “A alegria, o sexo e a ambição são elementos que compõe o Eros – que é a nossa pulsão vital. Como uma ambição pode ser algo negativo?”.

Na próxima quarta-feira, às 19h, Bonder lança o livro “Cabala e a arte de investimento do poder” – na Livraria da Vila, na Vila Madalena, em São Paulo. Nesta entrevista, entre outras coisas, ele fala sobre como as ideologias e a subjetividade enfraquecem o poder. “Se você tem fundamentos que não podem ser questionados, você está fragilizado”, explicou. Aliás, tudo pode ser questionado, até a forma como o rabino consome café quando quer evitar excessos. “Eu ritualizo o café. Às vezes, apenas o cheiro dele me basta”, falou. Leia a entrevista a seguir:

Não é comum a gente ouvir termos como ‘poder’ e ‘ambição’ de forma positiva…

Quando falo em poder e ambição, tento trazer uma compreensão destes atributos de forma pura. A ambição, por exemplo, é extremamente positiva. A alegria, o sexo e a ambição são elementos que compõe o Eros – que é a nossa pulsão vital. Como uma ambição pode ser algo negativo? Quando ela é descomedida ela se transforma em ganância, mas em sua forma pura ela é o que é. Os julgamentos existem porque a gente vê os excessos.

A ambição não é algo que deve nos envergonhar?

Se você coibir a alegria, a sexualidade e a ambição, você diminui a potência da vida. O que o ser humano precisa fazer com a ambição? Reconhecer que ela é uma disposição natural.

O que é então o poder?

O poder é um ímpeto. Você não quer diminuir o ímpeto da alegria ou o ímpeto sexual. O que você quer é canalizá-los. Vou dar um exemplo: um raio é destrutivo, mas você pode canalizá-lo para que ele aqueça a incubadora de uma criança que está em um hospital. O poder destrutivo pode ser transformado em algo do bem.

E onde está o poder?

O poder está na objetividade. O que é difícil – já que o ser humano tem a tendência de subjetivar tudo. Mas a natureza do poder demanda que você seja objetivo.

No livro, você escreve que “qualquer tentativa de manipular ou maquiar a realidade resulta no contrário do poder”. Maquiar a realidade não é uma forma de exercer o poder?

A pessoa que usa os ardis da mentira ou da subjetividade pode enganar alguns por algum tempo, mas não engana sempre. Personagens que perduram no poder têm alguma grandeza, algo sólido e objetivo. Se ‘subjetivar’ demais não sobrevive. Olhe para os personagens poderosos e os impérios que não conseguiram se segurar no poder. Quando os personagens perdem a objetividade, eles perdem as guerras, as disputas e as discussões.

Como entender a relação das tiranias com o poder?

Nas tiranias, encontramos um processo personalista. São líderes que não conseguem mais entender que eles perderam a consciência de seus objetivos. Esses líderes tentam suprir a falta de objetividade com mentiras e ilusões.

E as ideologias favorecem o exercício do poder?

A ideologia não favorece o poder. Ideologia é uma subjetivação. Se você tem fundamentos que não podem ser questionados, você está fragilizado. A ideologia propõe limites. E essa barreira é uma fraqueza. Com ideologia perde-se a objetividade. E a subjetividade é a criptonita do poder.

Em tempos de eleição, acompanhamos muitas alianças políticas. Como essas alianças se encaixam nesta visão de poder.

A cooperação em relação ao poder nasce da necessidade de se opor a um inimigo em comum. Isso não tem a ver com afetos. Pessoas com projetos diferentes podem se aliar. Sem simbiose. É juvenil cobrar de determinado político ou partido que não façam alianças.

O eleitor que entende a natureza do poder é um eleitor mais consciente?

O eleitor empoderado não é aquele de esquerda de direita ou do centro. O eleitor maduro e empoderado busca nos seus candidatos aquele que melhor vai investir o poder.

Como não se corromper?

Sem uma auditoria nenhum político sobrevive ao poder sem ser corrompido. Mas, claro, não cabe ao próprio executor do poder se auditar.

Fonte: O Estado de São Paulo

Maurílio Fontes

Proprietário, jornalista, diretor e responsável pelo Portal Alagoinhas Hoje

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