Clubes sociais se reinventam e sobrevivem

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Às sextas-feiras, os tão concorridos bailes de 15 anos. Aos sábados, as matinês. Aos domingos, tobogã, piscina  e futebol. A programação típica dos fins de semana dos anos 1960 e 1970 ficou no passado, mas os clubes sociais de Salvador – hoje reduzidos a praticamente um terço dos daquela época – reinventam negócios para sobreviver na capital.

Atualmente, restam apenas 12 dos 36 clubes inscritos no Sindicato dos Clubes da Bahia (Sindiclubes) em 1980. Para vencer o cenário de decadência, muitos venderam terrenos, alugaram os restaurantes para empresários e piscinas e áreas esportivas para academias.

No ano passado, eles também foram beneficiados com a isenção de juros da dívida com Imposto Predial e Territorial Urbano – IPTU e investiram em reformas estruturais para atrair não só associados, mas também o público externo.

Espaços tradicionais que continuam em atividade, como a Associação Atlética da Bahia (AAB) e do Banco do Brasil (AABB) e clubes Espanhol, Bahiano de Tênis, Costa Verde, Yacht Clube da Bahia e Campomar, são exemplos de agremiações que apostam em serviços especializados e em inovações para atrair o público.

O espaço do Campomar, em Piatã, por exemplo, não é o mesmo de 20 anos atrás. Para conseguir sobreviver nesses 53 anos, foi necessário vender parte da estrutura física a uma construtora e alugar espaços para eventos externos.

Mas a venda de parte da área não comprometeu o funcionamento do espaço, que conta hoje com 500 membros pagantes – 600 a menos do que o clube registrava nos anos 1980.

Com a verba arrecadada, a presidência do clube planeja uma grande reforma, que inclui a climatização de banheiros, salões de festas, a recuperação total do ginásio de esporte, além de reparos nas piscinas e demais áreas e equipamentos.

Parte dos recursos é resultado, ainda que em menor escala, das mensalidades dos associados, que são chamados carinhosamente de “amigos” pelo presidente do Campomar e do Sindiclubes, Alfredo Vasconcelos.

“Graças aos parceiros e à venda do espaço, poderemos iniciar, este ano, uma grande reforma para recuperar as piscinas, os restaurantes, o salão de festas e o complexo esportivo. Queremos inovar. Vamos, ainda, adequar as instalações às normas de acessibilidade”, conta.

A direção do clube também decidiu abrir a utilização da piscina, restaurantes e quadra de esportes aos não associados indicados por membros do clube. Para tanto, é cobrada uma taxa diária de R$ 15.

“As pessoas costumam cortar o lazer da lista de despesas nos momentos de crise. Abrir nossas dependências para o público externo é uma forma de manter o clube em funcionamento”, afirma.

Modernização

Embora tenha mantido a média de associados em 81 anos de funcionamento – cerca de quatro mil -, o Yacht Clube da Bahia, na Barra,  também precisou acompanhar as mudanças e fazer modernizações necessárias na estrutura física.

Uma delas foi a instalação de um restaurante aberto ao público externo. A cessão do espaço, no entanto, não é fundamental para o custeio dos gastos. O Yacht Clube hoje é mantido, principalmente, pelas mensalidades pagas pelos associados, que custam R$ 429.

Apesar das mudanças, o clube manteve o perfil: “Jamais mudaremos nosso perfil. Nosso clube é náutico,  nasceu para isso, mesmo tendo uma forte vertente para o lazer. A essência da existência é a náutica”, explica o comodoro Marcelo Sacramento.

Frequentadora há mais de 40 anos, a aposentada Maria José Siqueira, 62 anos, vê a modernização do espaço como uma forma de preservar a cultura do clube para as próximas gerações. “Hoje, meus filhos e netos frequentam o mesmo lugar onde passei minha juventude e se divertem tanto quanto eu”, afirma.

Ribeira perde um espaço-referência de regatas

Enquanto alguns clubes sociais conseguiram driblar a crise e seguiram na luta para se reinventar, outros não tiveram o mesmo sucesso. Na última década, foi o caso do Clube Português – demolido em 2007 – e do Clube de Regatas Itapagipe, que fechou as portas há cerca de três anos.

Com o encerramento das atividades, a avenida Beira-mar, na Ribeira, perdeu o maior ponto de referência. Fundado em 1912, o Itapagipe foi um dos clubes sociais e desportivos mais tradicionais. Hoje, a fachada em cerâmica vermelha desbotada contrasta com a memória ainda viva dos antigos frequentadores.

A trajetória da família do salva-vidas Gabriel Argôlo, 34,  confunde-se com a história do clube, situado ao lado da casa onde vive. Atualmente em ruínas, o espaço foi palco de momentos importantes da infância dele, que foi apresentado ao clube pela mãe, também frequentadora assídua desde a juventude.

Foi na piscina do clube Itapagipe que ele aprendeu a nadar. O lugar, que foi determinante para a escolha da profissão, está aterrado e colabora para a situação de decadência.

“É uma tristeza ver um lugar tão presente na nossa memória afetiva degradado. O que antes era só um sentimento de carinho hoje também nos causa dor de cabeça. O abandono trouxe  problemas para a vizinhança, como a proliferação de mosquitos”, lamentou.

Fonte: A Tarde

Maurílio Fontes

Proprietário, jornalista, diretor e responsável pelo Portal Alagoinhas Hoje

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