Cargos em estatais chegam a pagar R$ 20 mil por reunião

A maioria dos brasileiros tem uma rotina bastante parecida: todos os dias, saem cedo de casa e, ao chegarem ao trabalho, registram a entrada no cartão de ponto. Da mesma forma, ao fim do expediente, voltam para casa depois de cumprirem a carga horária estabelecida. Após 30 dias, ficam, enfim, aptos a receber seus salários.

Para outra parcela da população, a coisa não funciona bem assim. Os contracheques generosos de uma minoria de brasileiros nem sempre dependem de uma rotina de tantas tarefas.

Oferecidos como moeda de troca nas negociações políticas, os cargos em conselhos de grandes estatais são distribuídos como forma de engordar salários de aliados e de contemplar aqueles que não tiveram a generosidade das urnas.

No Banco Nacional de Desenvolvimento Econômico e Social (BNDES), que é uma empresa pública federal e atua como principal canal para financiamentos em diversas áreas da economia, uma única participação em reunião trimestral do colegiado é a garantia de R$ 20 mil.

Em Minas, as oito principais estatais gastam, todos os anos, R$ 4,9 milhões para manter seus conselhos administrativo e fiscal. O montante equivale a 110 contracheques. Dinheiro suficiente para construir uma escola de grande porte para 500 alunos ou duas Unidades de Pronto-Atendimento (UPA).

Na Companhia Energética de Minas Gerais (Cemig), membros do Conselho Administrativo recebem R$ 7.102 para uma média mensal de três reuniões, enquanto no Banco de Desenvolvimento de Minas (BDMG), onde os encontros do colegiado acontecem a cada 30 dias, os vencimentos chegam a R$ 5.800.

“Em Minas, alguns secretários ocupam conselhos para complementar o salário, que na iniciativa privada seria muito maior. Essa é a forma de atrair nomes técnicos de peso. Mas no governo federal essa divisão política também acontece”, diz um tucano, que só aceitou comentar o assunto sob a condição de anonimato.

Para se chegar às cobiçadas cadeiras nos conselhos, não são necessários testes ou provas de competência. A indicação e seleção são feitas por assembleias gerais. Da mesma forma, os membros não têm que cumprir carga horária fixa desde que assumam o compromisso de comparecer às reuniões. “Os conselhos entram na cota das divisões políticas. Em todo governo de coalizão é assim”, conta outro político, do PT.

O professor de administração pública da Universidade de Brasília (UnB) José Matias-Pereira explica que, na teoria, os conselhos são fundamentais. Mas, na prática, ao contrário do universo privado, têm pouca autonomia.

“Os presidentes dos conselhos chegam com uma orientação da pauta. Os conselheiros só o acompanham. Os conselhos deveriam ter os melhores quadros, pois estão acima da diretoria, mas se transformaram em cabides de empregos”.

Fonte: O Tempo

Maurílio Fontes

Proprietário, jornalista, diretor e responsável pelo Portal Alagoinhas Hoje

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