“Caos” no Brasil não preocupa tanto investidor estrangeiro

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O Brasil é um caos, dizem economistas. A iminente votação sobre o impeachment da presidente Dilma Rousseff no Senado aviva as tensões em um país com grandes desigualdades. Então, por que empresas estrangeiras mostram tanto entusiasmo?

Os fundos de cobertura internacionais, fabricantes de automóveis e empresas de mineração veem no Brasil, a maior economia da América Latina, um mercado que abrange 200 milhões de consumidores, uma oportunidade que não podem ignorar.

O “caos” brasileiro

Este ano a tensão política foi aumentando à medida que avançava o processo de impeachment de Dilma, acusada de ter maquiado as contas públicas.

Os seguidores do presidente interino, o conservador Michel Temer, afirmam que ele ocupa o cargo legitimamente, por ter sido o vice-presidente de Dilma. Mas alguns brasileiros se queixam das suas políticas de austeridade ou do fato de nunca terem votado nele.

“É um caos”, opina Mark Weisbrot, codiretor do Centro para Pesquisa Econômica e Política, com sede em Washington.

“Há um governo de legitimidade duvidosa que redobra a aposta por políticas econômicas que fracassaram completamente, sem que se possa vislumbrar um fim” para a situação, afirma.

A corrupção

Analistas advertem que Temer poderia ser o próximo de uma longa lista de políticos brasileiros a ser envolvido no escândalo de corrupção da Petrobras.

Três ministros do seu governo renunciaram após serem acusados de estar implicados na rede de corrupção.

Mas seus partidários insistem em que Temer é o homem adequado para solucionar os problemas econômicos que Dilma não conseguiu.

“A crise política é efetivamente um caos”, afirma a analista Jimena Blanco, diretora das Américas da consultora de riscos britânica Verisk Maplecroft.

“O governo atual também está muito manchado pelas acusações de corrupção. A diferença é que a coalizão que apoia Michel Temer funciona na prática”, completa.

A confiança dos investidores

Apesar do caos, a confiança dos investidores foi aumentando desde o início do governo pró-mercado de Temer, com seus planos de cortes de gastos públicos, principalmente nas aposentadorias.

Desde o final de janeiro, a Bolsa de Valores de São Paulo acumulou ganho de 37%. O rendimento de um bônus estatal brasileiro em 10 anos caiu cerca de 30%.

A baixa popularidade do presidente interino, que tem a aprovação de apenas 13% da população, segundo uma pesquisa recente, não parece preocupar os investidores.

“Não acredito que se preocupem com isso. Para eles o que importa são os lucros a curto prazo”, afirma Weisbrot.

Da prosperidade à recessão

A economia brasileira se expandiu durante o mandato do ex-presidente Luiz Inacio Lula da Silva, antecessor e aliado de Dilma no Partido dos Trabalhadores (PT). Mas a bonança terminou durante o segundo mandato de Dilma, com uma recessão em 2014.

“Os governos do PT, especialmente sob o mandato de Dilma, eram muito a favor de culpar o setor privado por muitos dos problemas que correspondiam a limitações estruturais da economia brasileira”, afirma Blanco.

“É uma tensão habitual na América Latina. Muitos dos governos de esquerda tomam medidas para favorecer as empresas nacionais em detrimento das estrangeiras”, acrescenta.

No entanto, durante seus 13 anos no poder, o PT foi reconhecido por defender direitos trabalhistas e tirar milhões de brasileiros da pobreza.

“Os mercados querem se desfazer do Partido dos Trabalhadores. Nunca gostaram dele”, diz.

Repercussões regionais

O Brasil sofre sua pior recessão em décadas. A economia do país encolheu 3,8% no ano passado. O Fundo Monetário Internacional (FMI) prognostica uma contração de outros 3,3% neste ano, e a volta do crescimento em 2017.

“A América Latina precisa que o Brasil volte a crescer”, afirma Ramón Aracena, economista-chefe do Institute of International Finance, uma associação internacional bancária e de investimento.

“Há uma grande interconexão na região. Se o Brasil for bem, vai levantar o resto das economias”, acrescenta.

A China foi o principal investidor no Brasil neste ano, com cerca de quatro bilhões de dólares investidos em ativos, segundo a agência de notícias financeiras Bloomberg.

“Apesar dos seus problemas, é um país que é grande demais para ignorar”, observa João Augusto Neves de Castro, diretor encarregado das Américas da consultora Eurasia Group.

“O custo de fazer negócios é muito alto, mas uma vez que se aposta no longo prazo, se ganha muito dinheiro”, completa.

Fonte: AFP

Maurílio Fontes

Proprietário, jornalista, diretor e responsável pelo Portal Alagoinhas Hoje

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