Campanha mobiliza mulheres em favor de ajuda mútua
Na contramão dos estímulos ao individualismo na vida moderna, uma rede de oferta de serviços gratuitos entre mulheres vem conquistando cada vez mais adeptas. Com base no altruísmo, a campanha Mais Amor Entre Nós, em pouco mais de um mês criou núcleos em seis estados brasileiros e seis países em uma corrente do bem.
Na ponta da iniciativa, a jornalista baiana Sueide Kintê, 30 anos, pensava em uma forma de otimizar uma prática comum. “A ajuda mútua é intrínseca ao universo feminino. É gratificante e não deixei de fazer nada que fazia antes. E estou com agenda até maio”, disse a idealizadora.
Ela disponibilizou uma hora do seu dia para atuar como babá, ensinar a nadar, a andar de bicicleta, projetar site, fazer um release, trançar cabelo, meditar, cozinhar, escrever projetos culturais, tirar uma ideia do papel ou emprestar um ombro amigo.
A sensibilização da postagem no Facebook, no último dia 12 de março, foi instantânea. A postagem foi lida por, pelo menos, 200 pessoas em uma hora. Até esta sexta-feira, 29, a comunidade estava com quase 14 mil curtidas. O crescimento constante desses índices tornou impossível a precisão do número de participantes.
“O objetivo é mostrar a revolução que pode ser feita a partir da ajuda mútua, nas relações baseadas na generosidade. Mulher é como água, sempre encontra um caminho. A gente pode fazer o que quiser quebrando dogmas imprestáveis e crenças limitantes que impedem nosso desenvolvimento”, afirma Sueide Kintê.
E foi assim que Lorena Morais, 27 anos, conseguiu concretizar o projeto Encrespando, que mantém um blog sobre empoderamento e empreendedorismo negro por meio da estética e uma loja virtual com turbantes, roupas e acessórios.
“Estava aflita, sozinha e queria refazer após a maternidade. Precisava de motivação, e Sueide me proporcionou isso. Fui ganhando apoio de outras mulheres e estou me realizando como mulher e empresária”, contou Lorena.
Retorno
O fortalecimento da autoestima de Hilda Gomes Lopes, 63 anos, foi a recompensa da manicure Naty Lima, 30 anos, com o alongamento de unhas artificiais. “Estava com as unhas ruins e receber isso no mês de aniversário parece simples, mas me deixou muito feliz”, disse Hilda.
Para Naty, é um estímulo a mais: “Realizar o sonho de uma mulher contribuindo para deixá-la mais segura e plena é sempre comovente e gratificante”.
Ir de encontro ao imaginário de rivalidade é outra barreira a ser derrubada pela campanha Mais amor entre nós. “A solidariedade feminina é importante para combater o machismo, superar dificuldades do cotidiano, valorizar as questões das mulheres e desconstruir a ideia de que não conseguem se unir. Uma ação que promova isso fortalece o movimento e as mulheres que participam da ação”, disse a pesquisadora no Núcleo de Estudos Interdisciplinares sobre a Mulher (Neim) da Ufba, Darlane Andrade.
Resultado
Com a demanda, veio a necessidade de criar o site www.maisamorentrenosbrasil.com.br e a fanpage. Ela e mais seis voluntárias administram a campanha e trabalham no desenvolvimento do aplicativo que irá fazer a ponte entre quem quer ajudar e quem precisa de auxílio, cujo lançamento deve ocorrer até o final de maio. No site, há a possibilidade de doar objetos.
Partindo do princípio de que todo mundo pode se doar, a rede de generosidade tem uma lista de serviços diversificada e extensa.
Vai desde a oferta de uma faxina e o acompanhamento jurídico de mulheres vítimas de violência até companhia para ir ao cinema, hospedagem, massagem, consultoria em publicidade e marketing pessoal, aulas de redação, edição de vídeo, inglês e outros.
Os critérios para participar são simples. Dar sem esperar um favor em troca é a essência da campanha. E quem recebe o benefício não tem obrigação de doar. A partir daí, cada uma oferece o que quer, dentre suas habilidades, e estabelece tempo e periodicidade que irá dedicar para a execução.
A proposta é oferecer algo que seja, também, prazeroso para quem doa e fomentar a soridade – termo recorrente em conversas sobre o feminismo que traduz o sentimento de irmandade entre as mulheres na conquista de objetivos comuns.
Fonte: A Tarde