Câmbio eleva ganhos da indústria com exportação e aumenta competitividade

A indústria está ganhando mais com as suas exportações. A alta do dólar permitiu às empresas reduzir seus preços de venda para recuperar mercados, sem comprometer o retorno da operação.

A rentabilidade das exportações da indústria de transformação subiu 12,6% em julho, ante o mesmo mês de 2014, conforme índice da Funcex (Fundação Centro de Estudos do Comércio Exterior).

Segundo Daiane Santos, economista da Funcex, a valorização do dólar compensou a queda dos preços de venda e a alta dos custos de produção —o cálculo do índice considera os três fatores. “O câmbio já permite aumento da competitividade das exportações da indústria”, diz.

Mesmo com a alta de 10,3% nos custos de produção e da redução de 14,2% no preço das exportações, a rentabilidade das operações subiu 12,6% —graças à taxa de câmbio, que variou 44,9%.

O novo patamar do dólar, no entanto, ainda não foi suficiente para recuperar a receita com as exportações de manufaturados, que caíram 24% em agosto, ante igual período de 2014. A maioria das indústrias enfrenta dificuldades para elevar os volumes.

REAÇÃO

Em alguns segmentos, no entanto, a queda no preço de venda se transformou em aumento dos embarques.

“Estamos acreditando muito”, afirma o diretor-executivo da siderúrgica AVG, Fernando Coura, que contratou 180 funcionários este ano.

Os novos trabalhadores atenderão a um aumento de 45% nas vendas de gusa, derivado do minério de ferro.

Em setores como os de siderurgia e de vidros, o volume de vendas para fora reagiu no primeiro semestre, com aumentos de até 40%.

Segundo Coura, a fábrica de Sete Lagoas (MG) ganhou um terceiro forno e 75% da produção está sendo direcionada ao mercado externo.

O aumento nas exportações também ajuda as empresas a enfrentar a crise no país.

É o caso do setor de vidro. O mercado interno, que absorvia a grande maioria da produção, teve queda de mais de 30% neste ano, segundo Lucien Belmonte, superintendente da Abividro (Associação Técnica Brasileira das Indústrias de Vidro).

“Todas as empresas estão analisando o que conseguem exportar”, diz Belmonte, lembrando que o fechamento de uma fábrica na Argentina abriu espaço para crescimento de 48% nas exportações.

O semestre em que esses setores aumentaram as vendas terminou com o dólar cotado por volta dos R$ 3,10. Nesta sexta (4), fechou a R$ 3,86. Mas a contínua valorização da moeda, que deveria animar ainda mais a indústria, começa a preocupar.

Segundo Belmonte, parte da produção necessita de produtos importados ou tem custos atrelados ao dólar. Se o preço da moeda americana aumentar rápido demais, poderá levar a novos problemas.

Entre os segmentos analisados pela Funcex, a indústria de transformação apresentou o maior aumento nos custos de produção em julho, devido à maior participação de insumos importados.

Para compensar o efeito do câmbio na linha de custos, a indústria busca reduzir seus gastos com transporte, o que beneficia outros setores.

Na MRS, operadora de ferrovias, o volume de transporte de cargas em contêineres subiu 29% no primeiro semestre. “Dobramos o número de clientes fixos atendidos este ano, alcançando 40. Em julho, fizemos mais 11 testes com clientes novos”, diz Elisa Figueiredo, gerente comercial da empresa. Ela atribui o movimento ao custo mais competitivo das ferrovias, em comparação com as rodovias.

As exportações também ajudaram a compensar queda de até 20% no setor portuário. Segundo dados da Antaq (Agência Nacional de Transporte Aquaviário), o movimento de saída de produtos industrializados cresceu entre 10% e 19% no primeiro semestre deste ano.

O QUE DETERMINA A RENTABILIDADE DA EXPORTAÇÃO?

Taxa de câmbio
A desvalorização cambial aumenta os ganhos do exportador em reais

> 44,9%
foi a alta da taxa de câmbio nominal entre julho de 2014 e julho de 2015

Preço das exportações
Com a alta da taxa de câmbio, o exportador consegue reduzir o preço de venda e ainda aumentar a sua rentabilidade

> -14,2%
foi a variação do preço das exportações da indústria entre julho de 2014 e julho de 2015

Custos de produção
Crescem devido a fatores como aumento no preço da energia, da mão de obra e dos insumos (inclusive importados)

> 10,3%
foi o aumento nos custos de produção da indústria entre julho e 2014 e julho de 2015

Fonte: Folha de São Paulo

Maurílio Fontes

Proprietário, jornalista, diretor e responsável pelo Portal Alagoinhas Hoje

Menu de Topo