Buenos Aires supera SP como centro financeiro

Mesmo enfrentando a pior crise desde 2001, quando a Argentina anunciou moratória em sua dívida externa, Buenos Aires avançou 21 posições e ultrapassou São Paulo como centro financeiro global, segundo executivos do setor financeiro ouvidos pela consultoria britânica Z/Yen Group.

Os critérios da pesquisa são ambiente de negócios, taxação, profissionais especializados, infraestrutura, reputação (inclui qualidade de vida e segurança) e acesso ao mercado.

Em uma lista de 83 cidades, a capital argentina ficou na 25ª colocação. São Paulo se manteve estável na 38ª posição. O Rio de Janeiro ficou em 45º, 14 posições abaixo do levantamento anterior, feito em setembro de 2013.

Buenos Aires também está mais bem colocada do que Paris (França), Munique (Alemanha) e Dubai (Emirados Árabes Unidos).

De acordo com Mark Yeandle, diretor e coordenador da pesquisa, o ranking considera o sentimento de especialistas sobre cada centro financeiro, e não os fundamentos econômicos das regiões, o que, em sua avaliação, pode explicar a boa performance da capital argentina.

“Profissionais do mercado financeiro claramente indicaram que consideram que Buenos Aires está mais competitiva”, afirma.

A analista Jill Hedges, responsável pela mesa de análise de Mercosul na consultoria Oxford Analytica, diz que o custo também tem impacto sobre a percepção dos economistas consultados.

“Para profissionais financeiros, Buenos Aires é mais barata do que São Paulo -especialmente após a desvalorização do peso para aqueles que trabalham em empresas estrangeiras- e mais acessível em termos de tamanho e infraestrutura.”

O contexto histórico, afirma, também ajuda. Isso porque, após a moratória declarada em 2001, o setor financeiro na Argentina e o número de entidades participantes do mercado encolheram. Com isso, as empresas que emergiram se tornaram mais enxutas e mais competitivas.

O ranking reflete tanto respostas dadas por 3.246 executivos do setor a perguntas feitas pela consultoria quanto diversos indicadores, entre eles medidas de competitividade, condições do setor de infraestrutura, corrupção e qualidade da mão de obra.

CALOTE

O impasse na semana passada em relação ao não pagamento a credores por decisão da Justiça dos EUA, que bloqueou o dinheiro argentino após queixa de outro grupo de credores, pode afetar a competitividade de Buenos Aires, diz Hedges.

“A incerteza vai aumentar e haverá pouco investimento e crédito. O acesso do país a dólares vai se tornar ainda mais difícil. Com isso, financiar o deficit público ficará cada vez mais complicado.”

“Apesar de o impacto não ser nada comparado ao do calote de 2001, certamente terá implicações negativas ao setor financeiro. Mesmo que a reestruturação se dê relativamente rápido, irá reacender dúvidas sobre a estabilidade econômica do país.”

Maurílio Fontes

Proprietário, jornalista, diretor e responsável pelo Portal Alagoinhas Hoje

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