Brasil tentou crescer rápido demais, diz líder do BC indiano

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“Pode parecer um paradoxo, mas o Brasil tentou crescer rápido demais”.

A frase é de Raghuram Rajan, presidente do Banco Central da Índia, em um discurso recente no Conselho Nacional de Pesquisa Econômica Aplicada em Nova Déli.

Ele já era um “rock star” do mundo econômico após despontar em 2008, quando um trabalho seu de 2005 sobre o sistema financeiro se mostrou premonitório sobre a crise.

Desde que assumiu o Banco Central da Índia, ele só fortaleceu sua reputação. No ano passado, ele foi escolhido como melhor presidente de Banco Central pela revista The Banker, do Financial Times.

A Índia é a grande economia que mais cresce no mundo sem descuidar do controle com a inflação, um raro ponto de esperança em um cenário internacional difícil.

Veja a seguir o que Rajan teve a dizer sobre o que seu país pode aprender com a crise brasileira (veja o discurso completo em inglês):

“O Brasil oferece uma lição salutar. Apenas alguns anos atrás, o mundo estava aplaudindo a democracia vibrante do país, seu crescimento econômico robusto e os enormes avanços que estava fazendo em reduzir a desigualdade.

Ele cresceu 7,6% em 2010 e havia descoberto grandes reservas de petróleo que o então presidente Lula comparou com ‘ganhar um título de loteria’. Mas o país encolheu 3,8% ano passado e sua dívida foi rebaixada para lixo. O crescimento não vai melhorar este ano. O que deu errado?

Por mais paradoxal que possa parecer, o Brasil tentou crescer rápido demais. O crescimento de 7,6% veio nas costas de estímulos substanciais depois de uma crise financeira global. Numa tentativa de manter o crescimento alto, o New York Times diz que o Banco Central foi forçado a reduzir taxas de juros, alimentando um surto de crédito que colocou um fardo muito grande sobre os consumidores que agora lutam para conseguir pagar.

Além disso, o banco de desenvolvimento financiado pelo governo [BNDES] aumentou muito os empréstimos subsidiados para corporações. Algumas indústrias foram favorecidas com impostos menores enquanto controles de preços foram impostos na gasolina e na eletricidade, causando enormes perdas nas empresas do setor público.

Petrobras, a empresa nacional de petróleo, que deveria ter feito enormes investimentos em perfuração, ao invés disso se viu tomada por um escândalo de corrupção. Mesmo com as pensões do governo queimando um buraco cada vez maior, o déficit do orçamento se expandiu e o consenso político para estreitá-lo se tornou indefinido. A inflação tocou os dois dígitos no último trimestre de 2015.

Apesar das autoridades brasileiras estarem trabalhando duro para corrigir a situação, não vamos ignorar as lições que essa experiência sugere. É possível crescer rápido demais com estímulos substanciais, como fizemos em 2010 e 2011, apenas para depois pagar o preço em inflação mais alta, déficits mais altos e crescimento mais baixo em 2013 e 2014.

É claro que a Índia não está na mesma situação hoje. Dado o ambiente inóspito da economia mundial e as duas secas sucessivas, nenhuma das quais jogou a economia num colapso no passado, é para o imenso crédito do governo que temos crescimento acima de 7%, inflação baixa e déficit em conta corrente baixo. Mas é nestes momentos que não devemos ser ambiciosos demais.

Como a experiência brasileira sugere, os enormes custos de se tornar um país instável superam de longe qualquer benefício de pequeno crescimento que pode ser obtido através de políticas agressivas. Devemos ser muito cuidadosos sobre não colocar em jogo a nossa força única mais importante neste período de turbulência global: a estabilidade macroeconômica”.

Fonte: Exame

Maurílio Fontes

Proprietário, jornalista, diretor e responsável pelo Portal Alagoinhas Hoje

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