Bahia: Contra invasão sertaneja, 'lei da zabumba' cria cota para artistas

Nas principais festas de São João do recôncavo baiano, eles serão protagonistas: Paula Fernandes tocará em Cruz das Almas, Fernando e Sorocaba em Santo Antônio de Jesus e Zezé Di Camargo e Luciano em Amargosa.

Mas o reinado dos artistas sertanejos nas festas juninas da Bahia está ameaçado. A Assembleia Legislativa aprovou na terça (16) um projeto de cotas que ficou conhecido como “lei da zabumba”.

Baseado num projeto semelhante aprovado em Pernambuco, a proposta fixa uma cota de 60% do total de recursos destinados a artistas para aqueles que expressam e valorizam a cultura regional em festas como o São João e o Carnaval, além de festejos religiosos.

“É um projeto importante para dar uma freada nesses sertanejos enlatados que tomaram conta das festas de São João. Temos que olhar mais para a cultura que é a nossa identidade”, afirma o deputado Zé Neto (PT), líder do governo na Assembleia.

As cotas valerão para festas com recursos dos cofres estaduais, incluindo as feitas por meio de convênios com as prefeituras.

Com isso, artistas de forró terão cotas nas festas de São João, assim como as bandas de axé durante o Carnaval ou nas micaretas –os Carnavais fora de época.

Aprovado após acordo entre governo e oposição, o projeto seguiu para a mesa do governador Rui Costa (PT), que deve sancionar a proposta.

A regulamentação ocorrerá em 180 dias, e os contratos firmados até a promulgação da lei não serão afetados.

João Alvarez – 1º.fev.2014/UOL
Cantor sertanejo Luan Santana se apresenta em Salvador; artistas locais terão cota na BA
Cantor sertanejo Luan Santana se apresenta em Salvador; artistas locais terão cota na BA

A proposta de cotas para artistas foi aprovada por unanimidade na Assembleia Legislativa após forte lobby dos artistas e bandas de forró da Bahia, que comemoraram a aprovação do projeto fazendo um arrasta-pé no plenário junto com os deputados.

Originalmente, o projeto previa que 70% dos recursos pagos a artistas no São João fossem destinados àqueles cujas empresas têm sede na Bahia. Contudo, os deputados avaliaram que a proposta seria inconstitucional.

No texto final, entrará na cota o artista que representa a “cultura tradicional” da Bahia, o que pode incluir bandas de forró de outros Estados, por exemplo.

Outra mudança é que a lei não será restrita à música: projetos que patrocinem outras manifestações culturais, como dança, literatura e gastronomia também terão de abrir espaço para a cultura regional nos períodos de Carnaval e São João.

Um dos principais “forrozeiros” da Bahia, o cantor Adelmário Coelho classificou o projeto como “justo” para os artistas que tocam o forró tradicional das festas juninas no Nordeste.

“Não sou contra nenhum ritmo, o sertanejo tem seu espaço. Mas a gente sabe que alguns cachês são exorbitantes e acaba sobrando pouco para investir em artistas comprometidos com a cultura do São João”, afirmou.

O cachê de um sertanejo de primeira linha durante o São João pode chegar a R$ 450 mil, segundo prefeitos ouvidos pela Folha.

Artistas baianos que tocam música sertaneja temem ser excluídos das cotas, já que não representam a cultura tradicional do São João.

“Abrir espaço para a tradição é importante e eu concordo. Mas não adianta excluir outros ritmos e não levar o público para as praças”, diz o cantor sertanejo baiano Danniel Vieira, que há cinco anos tem agenda cheia durante as festas juninas.

Fonte: Folha de São Paulo

Maurílio Fontes

Proprietário, jornalista, diretor e responsável pelo Portal Alagoinhas Hoje

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