As várias batalhas de Dilma – Murillo de Aragão
No amanhecer de 2014, Dilma Rousseff parece aqueles lutadores de videogame: cercado de muitos adversários e tendo que combater todos ao mesmo tempo.
A lista de seus incômodos adversários é grande e de tipos variados. Existem adversários internos e externos ao seu governo. Existem adversários conjunturais, políticos e mediáticos. Vamos fazer um inventário.
Comecemos pelos adversários internos. Dilma luta contra quatro tipos de adversários: aqueles no PT que querem a volta de Lula; os dissidentes da base governista em geral e, em especial, no PMDB, que está rachado e deve marchar para a campanha assim; e, por fim, a própria incompetência do governo em entregar resultados e/ou fazer trapalhadas.
O PMDB é o que mais preocupa pelo fato de ter uma das melhores estruturas partidárias do país.
No âmbito externo, Dilma enfrenta os dois polos da oposição: PSDB e PSB; a má vontade de setores da grande imprensa; a má vontade dos empresários; e a desconfiança do mercado financeiro.
Para piorar, enfrenta uma conjuntura adversa com incertezas nos campos econômico e social. Em particular, no que se relaciona com o crescimento econômico, o câmbio, o emprego e a inflação, além das incertezas da Copa do Mundo.
Olhando o quadro estadual, as dificuldades de Dilma são muitas. No Rio Grande do Sul, Tarso Genro (PT) terá uma campanha difícil. Mesmo que a senadora Ana Amélia Lemos (PP) venha a apoiar Dilma (hipótese pouco provável), não deverá ser um apoio forte e apaixonado.
A partir do Paraná e até o Pará, passando por São Paulo, Minas Gerais, Goiás e Tocantins, o PSDB terá estruturas de campanha fortes. No Rio de Janeiro, onde Dilma foi muito forte, a situação já não é tão boa. Em Pernambuco também, onde Eduardo Campos pontifica.
Na Bahia e no Ceará, Dilma pode enfrentar dificuldades. Na Bahia, o candidato do governo Jaques Wagner (PT), Rui Costa (PT), terá pela frente o candidato da aliança DEM, PSDB e PMDB, que poderá ser o ex-governador Paulo Souto (DEM) ou então o ex-ministro Geddel Vieira Lima (PMDB).
No Ceará, por conta da resistência do PT a apoiar a candidatura do senador Eunício Oliveira (PMDB) a governador, pode ocorrer um entendimento entre PMDB e PSDB. Os tucanos poderiam apoiar Eunício em troca do apoio do PMDB à candidatura de Tasso Jereissati (PSDB) ao Senado.
Além dos problemas políticos dos palanques estaduais, Dilma terá que conviver com a ameaça de um racionamento energético. O governo, que antes havia descartado a possibilidade de apagão, agora já admite essa possibilidade, mesmo dizendo que ela é “baixíssima”. Sem falar nos problemas de infraestrutura (aeroportos, portos, estradas), que poderão se tornar mais visíveis em função da Copa.
Com tantos adversários e dificuldades, Dilma será exigida ao máximo para manter o seu favoritismo rumo à reeleição. Não será o passeio que muitos, inclusive de seu time, achavam. Dilma terá muitas frentes e adversários para combater. Considerando a qualidade inconsistente de seu grupo, a dificuldade de dialogar e o fato de que o PT anda dividido com relação à direção da campanha, não será tarefa fácil.
Em especial, porque uma campanha necessita de vetores de agregação e não de confronto. Parece que o PT está se orientando na direção oposta aos rumos tomados para a construção do “lulismo”. Parece, também, que Dilma percebe isso, mas não reage como deveria para se estabelecer como líder inconteste do atual momento político do país.
A mais recente pesquisa CNT/MDA mostra que a recuperação da popularidade da presidente está estagnada. Mas, de qualquer forma, a pesquisa mostra que ela ainda é favorita.
Murillo de Aragão é cientista político
Fonte: Blog do Noblat