As esquerdas na economia de mercado – Ricardo Guedes
Nas democracias, somente resta às esquerdas a luta pela manutenção das economias de mercado, com a introdução de alguns programas sociais.
Nas teorias sobre a democracia está implícita a existência de um mercado, onde através da troca de bens e produtos entre os atores sociais obtém-se o lucro e o desenvolvimento social.
Os atores econômicos agem racionalmente, e no plano político são organizados os partidos que representam a população e que na competição eleitoral escolhem os mais capacitados para ocupar os cargos.
Assim prescreviam os estudos de Adam Smith, Rousseau, e outros tantos.
Mas o prescrito não ocorreu na prática.
As economias de mercado tenderam para formas mais oligopólicas de produção e de controle das economias, como no petróleo, finanças, comunicações, commodities e indústria de base.
Na política, os exemplos de Obama nos Estados Unidos, Hollande na França, e Putin na Rússia, dentre outros, não são os melhores exemplos da mais apta seleção de qualidade dos sistemas eleitorais. Para que rumo eles nos levam?
O socialismo real somente ocorreu em estruturas agrárias atrasadas e centralizadas, como na Rússia e na China, e não como decorrência do desenvolvimento do capitalismo avançado conforme previsto por Marx em sua teoria histórica do modo de produção.
Nos sistemas democráticos modernos a esquerda passa a se institucionalizar para participar do processo eleitoral, e a direita cede para programas sociais, com rotatividade de poder.
Importante observar que Marx na sua teoria econômica no Capital, diz que no sistema capitalista “os políticos podem fazer o que quiserem desde que não atrapalhem a reprodução do capital”.
Historicamente, a direita transformou o discurso democrático em prática de oligopólio, e à esquerda restou paradoxalmente apenas tentar manter a bandeira liberal das economias de mercado, com a alocação de pequenos percentuais do PIB em programas sociais, somente na amenização dos efeitos do mercado.
Assim foi no Brasil com Lula e Meirelles, com a economia de mercado em pleno desenvolvimento através de política interna de crédito bem alinhavada, e o bolsa família como programa social.
Com Dilma e Mantega, a economia perde o seu fôlego com o esgotamento do modelo de crescimento através da expansão de crédito, resultando no crescimento do PIB em 1% e inflação de demanda em 6% por dois anos consecutivos, com a diminuição do poder de compra do povo brasileiro.
Na sequência, Dilma Rousseff promove a maior privatização que o país já conheceu, do petróleo no campo de Libra.
Paradoxal o efeito das economias modernas sobre as esquerdas, do ideal da prática revolucionária à institucionalização da defesa da economia de mercado como única opção que restou.
Ricardo Guedes, Ph.D. em Ciências Políticas pela Universidade de Chicago, é Diretor-Presidente do Instituto de Pesquisa Sensus.
Fonte: Blog do Noblat