Após erro na Pnad, IBGE redobra atenção com dados do desemprego

Ainda em meio à crise provocada pelo erro na principal pesquisa socioeconômica do país –a Pnad (Pesquisa Nacional por Amostra de Domicílios)-, o IBGE divulga nesta quinta-feira (25) a taxa de desemprego nacional após meses de atraso.

Os dados do desemprego estão congelados desde abril, quando a taxa ficou em 4,9%. Ela foi afetada por problemas na coleta de dados em duas regiões metropolitanas, Salvador e Porto Alegre, em razão da greve dos funcionários do instituto. A paralisação de 79 dias acabou em agosto.

Nos últimos três meses, o IBGE só divulgou taxas de quatro regiões: São Paulo, Rio, Belo Horizonte e Recife.

Os dados que saem agora tentam recompor o atraso, mas trazem marcas incontornáveis do período de greve.

Em Porto Alegre e Salvador, parte das entrevistas foi feita com duas ou três semanas de atraso.

Editoria de Arte/Folhapress

No questionário, os pesquisadores perguntam se a pessoa estava empregada em uma semana específica do mês e quanto ganhavam.

Com o atraso, os próprios técnicos do IBGE admitem que elas podem ter esquecido informações importantes, o que poderia deformar o resultado final.

Isso já acendeu o alerta internamente, e os analistas desses dados, que ficam na sede do IBGE, no Rio, passaram uma lupa nos dados.

Também no mercado, economistas de consultorias pretendem separar informações das duas regiões “problema” das que não foram interrompidas para verificar se houve algum desvio que possa ter interferido na taxa nacional.

O trabalho para colocar em dia a taxa de desemprego começou ainda durante a greve. Técnicos do IBGE que trabalham no Rio e em outras capitais reforçaram as equipes nos Estados em que a paralisação prejudicou a supervisão da coleta de dados.

O próprio coordenador de Emprego e Rendimento, Cimar Azeredo, foi a Salvador. Ele também foi a João Pessoa, na Paraíba, outro Estado onde a coleta de informações –
dessa vez para a Pnad Contínua- foi afetada pela greve.

A Pnad Contínua, versão da pesquisa-mãe que tem como objetivo apresentar informações em intervalos mais curtos (três meses) sobre o mercado de trabalho, também foi afetada pela greve.

Ela é mais completa do que a pesquisa que produz a taxa de desemprego nacional oficial e reúne dados de 3.500 cidades do país.

Além da Paraíba, a coleta da Pnad Contínua foi prejudicada no Amapá e no Rio Grande do Norte. A divulgação dos dados no período de abril a junho dessa pesquisa, que era prevista para agosto, foi adiada para novembro. Assim, os dados mais completos sobre o desemprego no país só serão conhecidos após as eleições presidenciais, em outubro.

TEMPERATURA

Azeredo e parte de sua equipe também trabalharam, durante esse mesmo período, na análise dos dados da Pnad, pesquisa anual divulgada na semana passada e que foi corrigida no dia seguinte.

O sindicato dos funcionários do IBGE diz que as equipes do instituto estão sobrecarregadas e que os funcionários são mal remunerados.

A taxa de desemprego é importante para que economistas, e o próprio Banco Central, possam aferir a “temperatura” da economia. Se a geração de empregos é forte demais, pode sancionar aumentos de salários e de preços, alimentando a inflação.

O Banco Central subiu a taxa de juros de 7,25% para 11% ao ano, entre 2013 e o início deste ano, para conter a alta da inflação. Agora, economistas e a autoridade monetária monitoram a economia para saber se a dose foi acertada. Sem uma taxa nacional, esse trabalho fica mais difícil.

Diante do problema, desde junho, bancos e consultorias passaram a calcular aproximações da taxa de desemprego nacional, na tentativa de recompor o termômetro.

O objetivo era orientar decisões de investimento, principalmente no mercado financeiro, sobre o futuro da taxa de juros no país.

Fonte: Folha de São Paulo

Maurílio Fontes

Proprietário, jornalista, diretor e responsável pelo Portal Alagoinhas Hoje

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