Apagão desta semana foi apenas o primeiro do ano, afirmam especialistas

O apagão que fez as luzes se apagarem em dez Estados e no Distrito Federal na última segunda (19) foi apenas o primeiro de 2015. Até dezembro, dizem os especialistas, o País terá outras interrupções no sistema de energia. A previsão vai contra o que diz o governo. Um dia após o apagão, o ministro-chefe da Secretaria de Relações Institucionais, Pepe Vargas, afirmou em coletiva de imprensa que o Brasil não corre risco de apagão. 

“É um filme anunciado. Já era previsto que isto aconteceria e os sinais agora estão cada vez mais claros”, comenta Gilberto de Martino Jannuzzi, do Núcleo Interdisciplinar de Planejamento Energético (Nipe) da Unicamp. Ele explica que o que aconteceu foi um problema de transmissão. Como os fios não comportam o volume de energia demandada, houve um desligamento preventivo para que o sistema não entrasse em colapso – medida padrão nestes casos.

E é exatamente por ser um problema de demanda – e a demanda não vai parar de crescer – que os apagões devem se repetir, afirma Marcos Freitas, do Programa de Planejamento Energético da COPPE/UFRJ. 

“O sonho de toda a empresa é que aumente o consumo daquilo que ela produz. No caso das empresas de energia, o consumo cresceu e os lucros também. Porém, nos anos em que as empresas tiveram vacas gordas, priorizaram o lucro dos acionistas em vez de investir no aumento da estrutura. Agora, o modelo está fazendo água e todo mundo sabe disso”, afirma.

Resolver a situação não é tarefa fácil, muito menos rápida. “É um problema de gestão e de planejamento mal feito. Uma questão técnica que se tornou política. Era preciso ser otimista demais para achar que estaríamos sem risco energético”, diz Claudio Sales, presidente do Instituto Acende Brasil. 

Com a situação dada, as medidas paliativas vão exigir sacrifício de todos, “inclusive do consumidor”.

“Em 2001, quando também houve crise energética, a grande estratégia era trocar as lâmpadas por modelos mais econômicos. Hoje, quase todo mundo já fez a troca. A estratégia vai ser, por exemplo, interferir no conforto térmico, nos aparelhos de ar condicionado”, diz Freitas.

Bom exemplo

O ideal era que se fizesse aqui no Brasil como já ocorre nos EUA e em países da Europa. Neles, de modo automatizado, é possível gerenciar o consumo. “Os aparelhos de ar condicionado, por exemplo, podem ser desligados pela concessionária em períodos críticos, e o consumidor paga menos por isso”, explica Jannuzzi. A estratégia permite que o sistema gerencie o uso da carga, sem ter como única solução ampliar a produção e transmissão de energia. 

Mesmo que o País opte por um processo semelhante, a implementação é demorada. Enquanto isso, apagões ou apaguinhos vão continuar acontecendo, seja pelo excesso da demanda, seja pelo baixo nível dos reservatórios das usinas hidrelétricas (que reduz a geração de energia), ou como consequência dos temporais de verão. Em São Paulo, no início do ano, mais de 800 mil pessoas ficaram sem energia após um temporal derrubar mais de 400 árvores – na queda, muitas delas romperam a fiação das ruas.

“Estamos num verão muito quente, com demanda de pico mais elevado. Todo o recurso de geração de energia já está sendo usado e o nível dos reservatórios está baixo. Vem mais problema por aí”, conclui Sales.

Fonte: iG

 

Maurílio Fontes

Proprietário, jornalista, diretor e responsável pelo Portal Alagoinhas Hoje

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