Amor vem antes de democracia, ciência e religião, diz Satish Kumar – Eliane Trindade
Na juventude, ele peregrinou pelo mundo em protesto contra as armas nucleares em plena Guerra Fria. Aos 87 anos, Satish Kumar continua sua caminhada pela paz em viagens pelo planeta.
Neste mês, o indiano desembarcou no Brasil para uma série de eventos a convite da Escola Schumacher, criada para manter vivo o seu legado, cuja unidade brasileira está completando dez anos de existência em 2024.
Em uma agenda intensa, o ativista fez o lançamento do seu novo livro “Amor Radical” e participou do pré-lançamento do documentário dirigido por Julio Hey, uma produção da Café Royal para a plataforma brasileira Aquarius, streaming focado em bem-estar, meio ambiente, espiritualidade.
O indiano também foi a Ibitpoca (MG), onde fez uma imersão ecológica de três dias no Ibiti Projeto com 40 participantes.
Na quinta-feira (18), ele falou para uma plateia de convidados no Aya Earth em São Paulo. Ao final do encontro, com direito a meditação e pães em forma de coração no brunch, Satish conversou com a Folha sobre o conceito e a prática do amor radical, pregado em seu livro homônimo.
Como o senhor descreve o conceito de amor radical que discute em seu livro e no documentário? É fácil amar alguém que você gosta ou com quem concorda. E esperar que a pessoa te ame de volta. O amor radical é unilateral e incondicional. Você ama sem expectativas. Até mesmo alguém de quem discorde ou uma pessoa que não goste de você.
É como o amor de uma mãe pelo filho? Sim. A mãe ama seu filho, seja ele bom ou mau. No amor radical, você coloca o amor em primeiro lugar. O amor vem antes da democracia, vem antes da verdade, vem antes da ciência. Porque a democracia não é garantia de um bom governo, pois pode ser eleito um líder bom ou ruim. A ciência pode produzir armas nucleares. A tecnologia, o aquecimento global. A minha verdade pode não ser a sua verdade.
As pessoas discordam e brigam pelas suas verdades, mas o amor une. Por isso, eu digo que o o amor vem primeiro de todas essas questões que têm separado as pessoas. A humanidade está enfrentando um momento no qual o amor pode fazer toda a diferença. Amor primeiro, depois a verdade, a ciência e a democracia. Isso é amor radical.
No seu discurso, o amor também vem antes das religiões? Absolutamente, sim. O amor vem antes ou além da religião.
Como os três livros, Torá, Alcorão e Bíblia, ajudam ou dificultam a difusão deste amor radical que o senhor prega? O que eu digo é que o Alcorão, a Torá, a Bíblia ou qualquer grande livro sagrado são apenas uma porta. O amor não está nos livros, está na prática cotidiana, nas nossas ações diárias.
Embora os livros sagrados possam lembrar que você tem de amar, cabe a cada pessoa praticá-lo. O amor não está na igreja nem no templo. Está no coração. Cada palavra que você fala tem que vir do amor. Cada pensamento que você pensa tem que vir do amor. Cada ação que você faz tem que vir do amor.