A queda de braço entre a campanha e o Planalto pela agenda de Bolsonaro

Em uma longa reunião na tarde de segunda-feira, o núcleo político que coordena a campanha do presidente Jair Bolsonaro à reeleição tomou a decisão: de agora até o pleito, eles é que vão ditar a agenda do presidente da República, levando em conta as prioridades estabelecidas pela estratégia eleitoral.

A proposta foi em seguida comunicada ao próprio Bolsonaro – que segundo integrantes do núcleo político, deu seu aval. A ideia é fazer uma transição até a convenção que vai chancelar a candidatura do presidente, em 24 de julho, para que a partir daí a campanha controle completamente os movimentos do presidente.

O núcleo político da campanha se queixa de que os assessores mais próximos de Bolsonaro no Palácio do Planalto escolhem mal os compromissos a que o presidente vai comparecer, não abrem a agenda para campanha com antecedência, para que possam afinar o discurso  criar oportunidades de arrebanhar votos, seja presencialmente, na mídia tradicional ou nas redes sociais.

A realidade, porém, sugere que a “tomada do Planalto” vai ser mais difícil do que parece. Nesta mesma semana, o presidente está fazendo duas viagens sobre as quais a coordenação de campanha não foi consultada: uma ao Maranhão, para um encontro com um 5 mil mulheres da Assembléia de Deus; e uma visita a Juiz de Fora, onde fará motociata e outro encontro com evangélicos, como parte da campanha do candidato bolsonarista ao governo de Minas Gerais, senador Carlos Viana (PL).

A ligação que Jair Bolsonaro fez à família do militante petista assassinado em Foz do Iguaçu, na tarde de ontem, tampouco foi comunicada à campanha. Foi inciativa do deputado federal Otoni de Paula. O núcleo político só soube dela quando já estava acontecendo.

Não que tenham sido eventos mal recebidos. O encontro com mulheres evangélicas e a ligação foram aprovados pelos estrategistas da campanha, mas eles preferiam ter tido mais oportunidades para controlar o conteúdo do que foi dito .

No núcleo político, formado pelo ministro Ciro Nogueira, o senador Flávio Bolsonaro, o general e candidato a vice Walter Braga Netto, o presidente do PL, Valdemar da Costa Netto, e os marqueteiros Fabio Wajngarten e Duda Lima, as recomendações a Bolsonaro tem sido as de parar de atacar as urnas eletrônicas, fazer acenos mais enfáticos ao eleitorado feminino e concentrar o discurso na propaganda do Auxílio Brasil.

Bolsonaro, porém, não costuma cumprir as recomendações. Segundo se queixam os interlocutores do presidente na campanha, na maior parte das vezes prefere seguir o palpite dos assessores mais próximos – os ministros palacianos Célio de Faria Junior (da Secretaria de Governo), o assessor especial Max Guilherme Machado de Moura e o secretário Pedro de Souza, de assuntos judiciários.

Considerado mais radical e inflexível pelo grupo do Centrão, o trio costuma se preocupar mais com os seguidores e aliados ideológicos de Bolsonaro. E deve ter sentido as orelhas arderem na tarde em que o núcleo político se reuniu no QG de campanha.

O que as agendas de Bolsonaro indicam, porém, é que eles ainda não perderam a sua influência sobre as agendas e as prioridades do presidente da República. E que esse embate entre núcleo político e núcleo ideológico ainda deve causar bastante ruído nos bastidores da campanha para a reeleição.

Fonte: Malu Gaspar – O Globo

Maurílio Fontes

Proprietário, jornalista, diretor e responsável pelo Portal Alagoinhas Hoje

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