A facão não dá, doutor – Maurílio Fontes

Não há dúvida quanto à fleuma do prefeito eleito Joaquim Neto. Ele não é raivoso e nem se contrapõe ferozmente às críticas da imprensa.

Mas estas qualidades são muito pequenas para quem vai governar Alagoinhas.

A cidade é complexa, exige planejamento, decisões no timming correto, equipe de assessoramento de alto nível, comunicação governamental eficiente e articulações políticas/administrativas capazes de assegurar vantagens competitivas para Alagoinhas.

Tenho escutado muitas reclamações de aliados de primeira hora sobre as deliberações (e também acerca da falta de deliberações) de Joaquim Neto.

“Alguns secretários anunciados não têm competência para gerir as áreas nas quais atuarão”. “Onde estão os técnicos?”. “As decisões estão sendo tomadas sem ouvir os grupos/partidos que apoiaram Joaquim”. “Qual é o seu planejamento governamental?” “Ele faz e desfaz a cabeça muito rápido”. “Está sem estratégia”.

Não referendo enfaticamente as afirmações e nem as indagações. Mas se são quase gerais, mesmo antes da posse, é preciso considerar a pertinência de algumas delas.

Para um político, com o qual mantenho permanente interlocução, Joaquim Neto não sabe o tamanho da prefeitura que vai administrar.

São várias prefeituras de Sátiro Dias dentro de uma única engrenagem chamada Prefeitura de Alagoinhas. O automatismo, neste caso comparativo, será um grave erro de gestão.

Está mais do que na hora de Joaquim se concentrar exclusivamente nas questões da gestão pública alagoinhense.

A Prefeitura de Alagoinhas exige dedicação total e absoluta. A medicina, enquanto atividade empresarial, deve ser secundarizada.

A declaração sobre a existência de muitas consultorias na máquina pública (desmentida pelo governo municipal), segundo alguns correligionários, e até mesmo um futuro secretário, demonstra que Joaquim Neto ainda não fez a necessária imersão nos problemas que herdará da atual administração.

Que são muitos. E precisarão ser enfrentados.

A esta altura, sem pestanejar, o prefeito eleito já deveria conhecer profundamente todas as áreas, como pressuposto básico para a definição de ações estratégicas.

Pedir prazo de 100 dias é mais do mesmo, facilitado pela lua de mel inicial entre o governo e a comunidade.

Os cortes de cargos de confiança, a extinção de secretarias e a não ocupação de percentual elevado de funções de confiança estariam mais na linha do voluntarismo e das generalidades, tão ao gosto dos políticos, do que oriundos de estudos técnicos de especialistas em gestão pública.

Em política, não basta dizer o que será feito, mas como será realizado, quais as vantagens de implementar as ações propostas, onde se quer chegar, qual a economia planejada, onde os recursos serão investidos.

Joaquim Neto saberia dizer, de pronto, em quanto é estimada a economia que a prefeitura faria com a extinção de secretaria, subsecretarias, diretorias e coordenações?

É bom lembrar que especular é uma coisa. Mostrar números reais é algo completamente diferente.

Sem arcabouço técnico, imprescindível à consecução do planejamento estratégico do governo (está em processo de elaboração?), tudo ficará no campo da fantasia e os resultados alcançados serão modestos, muito aquém do planificado.

As marchas e contramarchas que antecedem à sua posse indicam certo desprovimento de convicções, que são fundamentais aos líderes políticos.

Sem elas, a tendência é que uns poucos manipulem o chefe do Executivo, levando a administração para o caminho que lhes aprouver, muitas vezes em completa dissonância das reivindicações da população.

Várias pessoas que militam na política de Alagoinhas afirmam que o prefeito eleito é melhor no exercício da medicina do que administrador público.

Na medicina, Joaquim está acostumado ao bisturi.

Na política, tem proximidade com o facão?

A facão não dá, doutor.

Alagoinhas é grande, complexa e importante demais para que o facão seja o instrumento administrativo.

É necessária precisão cirúrgica para governá-la.

PS. “A facão” é termo usado na Bahia para dizer que algo não está sendo realizado corretamente. Que é feito sem zelo. 

 

Maurílio Fontes

Proprietário, jornalista, diretor e responsável pelo Portal Alagoinhas Hoje

Menu de Topo