Este é o real objetivo do perfil dos ministérios de Temer

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A composição da equipe de ministros do governo interino de Michel Temer (PMDB) revela um objetivo claro da atual gestão: garantir uma base de apoio sólida no Congresso.

Estudo da Pulso Público revela que, ao lado da equipe do governo de Fernando Henrique Cardoso (PSDB), o novo arranjo ministerial é o mais equilibrado em termos partidários desde a redemocratização.

A consultoria chegou a essa conclusão após calcular a taxa de coalescência do gabinete de Temer. Essa é a que mede a proporção entre a importância dos partidos da base aliada no Congresso e a quantidade de ministérios recebidos por cada legenda. O indicador vai de 0 a 1. Quanto mais próximo de 1, mais proporcional é a repartição do poder entre as siglas da coalizão.

No caso do governo Temer, a taxa está em 0,805. Durante o segundo mandato da presidente afastada Dilma Rousseff (PT), o indicador não passou de 0,714 – o pior desempenho neste quesito desde o governo Collor.

Para analistas, esse foi um dos erros que contribuíram para o enfraquecimento da petista. No segundo arranjo de seu governo, Dilma privilegiou petista e peemedebistas e deixou para o segundo plano outras legendas importantes da sua base, cujo papel no ministério não correspondia ao seu peso no parlamento.

Neste primeiro momento, o desenho de Temer para sua equipe de ministros parece corrigir esse equívoco estrutural do governo anterior.

“A grande preocupação de Temer parece ser a de estabelecer um governo sintonizado com o Congresso”, afirma Marcelo Issa, sócio-diretor da Pulso Público. “Essa é principal medida que poderia ser adotada para garantir governabilidade”.

No total, 11 partidos estão representados na linha de frente do governo peemedebista. Juntos eles somam quase 70% da Câmara dos Deputados.

No total, Temer extnguiu nove pastas – boa parte delas  era ocupada por ministros sem filiação partidária. Ao desmantelar esses espaços, o governo interino elevou também o grau de partidarização de sua equipe. Hoje, 87% dos membros da equipe ministerial são ligados à legendas.

Faz sentido que, no momento atual, o presidente interino tenha se atentado a criar um governo coerente com as forças do Legislativo. Ele tem pouco tempo – bem menos do que os 180 dias de julgamento do impeachment – para mostrar a que veio. Sem apoio, dificilmente, conseguirá tirar medidas impopulares do papel, muitas delas necessárias para que a economia volte aos trilhos.

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Isso explica, em partes, porque o peemedebista não considerou a repercussão na opinião pública de montar o primeiro gabinete sem representação feminina desde o  governo de Ernesto Geisel, durante a ditadura militar.

“Quem tem alguma abertura a apoiar o governo Temer, em princípio, seria tolerante a essa ausência de mulheres e negros. Esse público nos parece muito mais preocupado com os resultados objetivos dessa gestão”, diz Issa.

O mesmo não se pode dizer sobre a inclusão no time de ministros de políticos citados na Lava Jato.

Na visão do consultor, essa pode ser uma fragilidade e uma contradição em um contexto em que as ruas clamam por moralidade na política. Por enquanto, contudo, apenas os movimentos contrários ao impeachment parecem se incomodar com isso.

Fonte: Exame

Maurílio Fontes

Proprietário, jornalista, diretor e responsável pelo Portal Alagoinhas Hoje

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