Governo Temer pode trazer 3 milhões de empregos até 2018

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A poucos dias da votação da aceitação do processo de impeachment da presidente Dilma Rousseff no Senado, Brasília vive uma situação insólita de quase duplo governo. No Palácio do Planalto, a presidente e sua equipe armam novos gastos para angariar apoio popular.

As medidas mais recentes foram o reajuste de 9% nos benefícios do programa Bolsa Família e de 5% na tabela do imposto de renda, anunciadas nas comemorações do 1o de maio.

Enquanto isso, a apenas 1,6 quilômetro do Planalto, no Palácio do Jaburu, o vice-presidente Michel Temer planeja como absorver o pacote de bondades de Dilma num cenário de escassez severa de recursos que ele herdará caso a presidente seja afastada do poder.

Com a possibilidade cada vez mais concreta de Dilma ser suspensa do cargo em 11 de maio, o vice já monta uma equipe que deverá controlar as despesas da União e tentará reduzir o déficit fiscal previsto para 1,5% do produto interno bruto neste ano — providências consideradas urgentes para barrar a trajetória de aumento da dívida pública e abrir espaço para a economia reagir.

Alguns nomes são dados como certos. Henrique Meirelles, ex-titular do Banco Central na gestão Luiz Inácio Lula da Silva, iria para o Ministério da Fazenda. Para o Banco Central, economistas como Carlos Kawall, do banco Safra, e Ilan Gold­fajn, do banco Itaú, são cotados. O senador Romero Jucá (PMDB-RR) iria para o Planejamento, e o senador José Serra (PSDB-SP) ocuparia o Itamaraty.

“Todos têm credenciais e podem fazer uma boa interlocução com o Congresso”, diz Murillo de Aragão, presidente da consultoria política Arko Advice. Uma coisa é certa: o governo Temer em gestação já está mudando para melhor as previsões para o desempenho da economia.

“Com a equipe de bons nomes que vem sendo cogitada e propostas na direção certa, a confiança no país está voltando”, diz Sergio Vale, eco­nomista-chefe da consultoria MB Associados e colunista de Exame Hoje, novo serviço digital de informações exclusivo do assinante de Exame. “Se Temer conseguir executar o plano, o país poderá ter um ganho de 6 pontos percentuais no PIB até 2018.”

Vale elaborou um estudo para projetar a diferença positiva que o país­ poderá ter com o governo Temer — se ele, claro, tiver êxito em suas proposições. A primeira sinalização é de que o novo governo seria capaz de reanimar rapidamente a atividade econômica. Com Temer, o crescimento voltaria no ano que vem.

Assim, até o final de 2018, o país geraria 350 bilhões de reais a mais de riqueza e pouparia 3 milhões de postos de trabalho que, caso contrário, seriam cortados pelas empresas. As famílias brasileiras teriam acesso a um adicional de 55 bilhões de reais em crédito em 2018. E a dívida pública deixaria de crescer num volume de meio trilhão de reais. Já com Dilma o PIB só voltaria a crescer em 2019, após sua saída.

A taxa de desemprego alcançaria 13% até o fim deste ano — essa é uma das principais preocupações da população, segundo uma pesquisa do instituto Ipsos. No mundo empresarial, muitos negócios seriam cancelados e mais empresas quebrariam.

De acordo com a consultoria Jequitibá Investimen­tos, que acompanha processos de fusão e aquisição com valor de até 400 milhões de reais, perto de 9 bilhões de reais em operações podem ocorrer caso a presidente deixe o cargo. Se ela ficar, apenas um terço disso deve se concretizar.

E mais: os dados ainda mostram que, num grupo de 63 empresas com algum tipo de dificuldade financeira monitorado pela consultoria, 17 entrariam automaticamente em recuperação judicial ou falência em até 90 dias após o arquivamento do impeachment.

O mercado financeiro, sempre um dos primeiros a reagir a qualquer sinal de mudança, há semanas vem alimentando um otimismo com a perspectiva de Temer no Planalto. A visão positiva só cresceu quando começaram a surgir os nomes de seu possível ministério. A gestora americana BlackRock decidiu ampliar os investimentos no Brasil.

O fundo dedicado à América Latina, de 2  bilhões de dólares, ampliou a fatia do Brasil de 43% para 54%. “O país precisa de um recomeço político que só o impeachment poderá trazer”, diz Will Lan­ders, gestor do fundo. A crença de que o pior passou parece ter chegado à economia real. A rede Óticas Carol, que fatura 780 milhões de reais por ano, é exemplo disso.

Em janeiro de 2015, os sócios da rede — os fundos estrangeiros 3i, Neuberger Berman e Siguler Guff — planejavam captar 150 milhões de reais para abrir 100 lojas até o fim de 2016. Mas a severidade da crise elevou a aversão dos bancos ao risco, restringin­do o crédito e as ambições dos sócios. Do plano original, foram emprestados apenas 20 milhões de reais e só 40 lojas foram abertas.

Agora a situa­ção mudou. “Os fundos não estão mais com medo do futuro do país”, diz Ronaldo Pereira Junior, sócio da rede Carol. “Passados dois meses de um novo governo, devemos retomar a abertura de lojas.”

Perto do fim

Aqui e ali, a impressão é que o país está mais perto do fim da crise. Há empresas repensando os planos de corte de pessoal. A Fadel, uma transportadora de cargas que fatura 300 milhões de reais ao ano e atende clientes como Danone e Bunge, cogitava demitir 600 dos 2 400 empregados no segundo semestre — 600 já tinham sido cortados no início do ano.

Mas a decisão está suspensa até que o cenário político se resolva. “Se Dilma sair, o setor de alimentos tem a chance de se recuperar rapidamente, porque é o primeiro a sair da crise”, diz Ramon Alcaraz, sócio da Fadel. “Nesse caso, contrataríamos 300 pessoas até dezembro.”

A mudança rápida de cenário pode ser o fim do martírio para setores como o automotivo — as montadoras tiveram queda na produção de 22% em 2015. Toda a cadeia sofreu. A Falcare, uma pequena fabricante de máquinas para a linha de montagem de carros situada no ABC paulista, só neste ano demitiu 14 funcionários — hoje tem 58 — após a queda de um terço em seu faturamento desde 2013.

Uma eventual troca de presidente da República dá esperança de estancar as perdas. “Conseguiríamos manter o mesmo nível de vendas e não demitiríamos mais pes­soas”, diz o sócio Nivaldo Falcare. Por que haveria tanta diferença? Para começar, um governo Temer chegaria com uma nova visão em relação ao setor privado.

Em vez da rejeição ideo­lógica ao lucro, deve entrar uma agenda para melhorar o ambiente de negócios. Parte dela seria para dar impulso às concessões e às privatizações.

Calcula-se que haja 69 bilhões de reais em investimentos em estradas, portos e aeroportos que podem ser destravados porque já existem projetos prontos e investidores interessados — é espantoso como o governo Dilma não pôs esse bloco na rua até hoje.

Outra expectativa é que Temer tenha uma nova postura em relação aos gastos públicos. A gastança esteve no DNA da gestão Dilma desde que ela assumiu o primeiro mandato em 2011. Mesmo em meio à crise fiscal, a presidente mantém os cofres abertos. As despesas do governo continuam a crescer acima da inflação: no primeiro trimestre, o aumento real foi de 5%.

Dessa forma, se Dilma ficar até 2018, estima-se que a dívida bruta alcance o equivalente a 86% do PIB, ante 54% em 2011. Essa trajetória de gastos soltos está na base da desconfiança dos investidores e dos empresários, que aos poucos foram deixando de apostar no país. Com os investimentos em queda desde 2013, o retrato do Brasil atual é o das obras paralisadas, equipamentos desligados e máquinas encostadas.

A receita proposta por Dilma e sua equipe é fazer o governo gastar ainda mais para estimular a economia. Já Temer tem lançado ideias para um ajuste fiscal — ou seja, pode adotar medidas de austeridade para frear o crescimento da dívida. Deve rever, por exemplo, as desonerações concedidas a alguns setores, que subiram de 100 bilhões para 250 bilhões de reais por ano de 2007 a 2014.

Um nó que precisa ser desatado depressa é o da dívida dos estados — dez deles, entre os quais Rio Grande do Sul e Minas Gerais, conseguiram uma liminar do Supremo Tribunal Federal para corrigir as dívidas com a União por juros simples, e não por juros compostos.

Se adotada por todos os estados, a medida poderá causar um rombo de 313 bilhões de reais para o governo federal, segundo estima a assessoria econômica do Senado. No final de abril, o STF determinou que as partes resolvam entre si — o que exigirá que Temer empenhe seu capital político para chegar a um acordo. Problemas estruturais estão à espera de solução.

“Há uma agenda de flexibilização do orçamento, de mudança da regra de reajuste real do mínimo e de colocar uma idade mínima para a aposentadoria”, diz Gustavo Loyola, ex-presidente do Banco Central e sócio da Tendências Consultoria. “Não vai ser fácil, mas só a sinalização de que isso será encaminhado já mudará as expectativas.”

Além de uma oposição estridente nas ruas — do PT e de partidos aliados, mais alguns movimentos sociais —, Temer terá o tempo como adversário. Contará com uma janela de 60 dias para passar propostas no Congresso. Em julho, há recesso parlamentar e, em agosto, a Olimpíada. Depois disso, as atividades em Brasília deverão seguir em ritmo lento até as eleições municipais em outubro.

“A sociedade se solidariza com quem assume numa crise como a que o Brasil enfrenta”, diz o cientista político Ricardo Sennes, sócio da consultoria Prospectiva. “Temer precisa aproveitar o momento.” A interrupção de um governo representa a possibilidade de um recomeço.

Segundo um levantamento feito por Reinaldo Gonçalves, professor de economia internacional na Universidade Federal do Rio de Janeiro, analisando 15 casos de interrupção de mandato presidencial em nove países da América Latina de 1982 a 2012, o PIB dos paí­ses saiu de um crescimento médio de 2% no momento crítico do impedimento para 4% três anos depois, e o saldo das contas públicas passou de -4% para 0,3% do PIB no mesmo período.

“A taxa de sucesso de um novo governo após a interrupção da gestão do antecessor é de 60%”, diz Gonçalves. No caso de um possível governo Temer, parte do risco de insucesso é associada ao avanço da Operação Lava-Jato — pelo menos, cinco ministeriáveis são citados nas investigações e o próprio Temer é alvo de acusações.

Apesar do compromisso de Temer com um ajuste fiscal, os governos estaduais conduzidos pelo PMDB também não dão bom exemplo nas contas públicas.

Uma análise da consultoria Prospectiva, com 51 administrações estaduais de 2003 a 2014, mostra que os governos peemedebistas diminuíram, em média, 11% a relação da dívida com a receita de seus estados, abaixo dos 25% alcançados pelos tucanos e dos 17% dos petistas.

Mesmo diante de dúvidas que envolvam um futuro governo, é tempo de pragmatismo. “Michel Temer pode não ser o presidente dos sonhos”, diz Sergio Vale, da MB. “Mas é bem melhor do que temos hoje.”

Fonte: Exame

Maurílio Fontes

Proprietário, jornalista, diretor e responsável pelo Portal Alagoinhas Hoje

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