PT: A DEMOCRACIA COMO VALOR – Edinaldo Oliveira

Entre as tantas ideias de Platão que forjaram boa parte do pensamento ocidental, uma pode causar estranheza a quem se inicia nos estudos do filósofo: a democracia não constitui a melhor forma de condução da política. A aristocracia, segundo Platão, seria o caminho ideal. Não entrarei na discussão filosófica, pois estou seguro que os leitores do Alagoinhas Hoje dominam bem essa matéria e entendem o pensamento de Platão. Ainda que a democracia defendida por Aristóteles contemplasse apenas os “cidadãos”, ao longo da história política moderna não se construiu um caminho que se mostrasse mais capaz de conciliar a díade justiça x liberdade.

O Partido dos Trabalhadores nasceu empunhando a bandeira do socialismo com democracia, outra díade conflituosa, ao menos nas experiências do leste europeu. Ao longo da sua trajetória construiu experiências de democracia direta como o orçamento participativo e os tantos conselhos nacionais que produzem políticas públicas que foram implantadas pelo governo nos últimos anos. A atual crise política atesta a caducidade da velha democracia representativa e aponta a democracia direta como passo necessário para o avanço da humanidade.

A democracia, entretanto, tem preço! E riscos! Nem todos, aliás, poucos têm a coragem de levá-la às últimas consequências. Dispor do poder de decidir a vida ou a morte, a opressão ou a benevolência, o investimento em esgoto ou asfalto, o candidato A ou candidato B, e se dispor a escutar, refletir e partilhar a autoridade (uma vez que a responsabilidade é indelegável) é atitude que só assume quem tem a democracia como valor inegociável. Mesmo correndo o risco de adotar um caminho que não se convencera ser o mais adequado.

Essa atitude pode ser vista como desvario e ser digna de divã, como sugeriu o respeitável jornalista do Alagoinhas Hoje, que, diga-se de passagem, inaugura uma postura jornalística que coloca Alagoinhas no rumo da imprensa qualificada e independente. O caminho mais curto e mais tradicional seguiria o pensamento platônico, cuja capacidade de decisão é atinente aos “sábios”.

O Diretório Municipal do Partido dos Trabalhadores prefere o divã ao decreto do autocrata que confia no chicote e no saco de dinheiro. Prefere ouvir a população (pesquisas), que são os árbitros por excelência, mas também os seus militantes que são os que “carregam piano” na campanha. Não há nenhum lacerdismo e nem pressões de qualquer natureza. Muito menos acirramento – quem participou dos três debates e viu o clima de tranquilidade da consulta pode atestar isso (a participação atingiu 80% da presença observada na eleição do diretório). Há sim, torcida (e incentivo) forte dos adversários para que o irracionalismo e jogo rasteiro contaminem o processo. Quem governou o município e deixou marcas positivas que estão sendo destruídas pela incompetência saberá construir o caminho do diálogo e do equilíbrio. Adotar a democracia como valor onde o caudilhismo político impera, realmente, pode suscitar a presença de um psiquiatra, mas como afirmou Aristóteles “não houve grande engenho sem uma mescla de insânia”[i].

[i] Citado em “A Tranquilidade da Alma”, de Sêneca.

Edinaldo Oliveira é o atual presidente do Partido dos Trabalhadores em Alagoinhas

Maurílio Fontes

Proprietário, jornalista, diretor e responsável pelo Portal Alagoinhas Hoje

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