Oposição admite votar contra apenas para tirar proveito do desgaste do governo

Diante de pautas conservadoras, parte da oposição assume que mais importante que votar pensando no mérito das questões em debate, pode ser se posicionar mirando no desgaste político que a votação dessas matérias pode gerar ao PT. Isso porque a oposição não descarta se juntar ao grupo político do presidente da Câmara Eduardo Cunha (PMDB), isolando o partido de Dilma Rousseff que, via de regra e pelo seu histórico de esquerda, irá se posicionar contrário a temas mais conservadores.

Foi assim o comportamento de alguns deputados da minoria diante da redução da maioridade penal que votaram favoravelmente ao texto. A postura deve se repetir em outros temas igualmente polêmicos, mas que podem encontrar apelo na sociedade.

Na lista dos futuros embates estão as propostas como transformar o aborto em crime hediondo e a criação do Estatuto da Família, que reconhece como núcleo familiar somente aqueles formados por um homem e uma mulher.

O PSDB não esconde a estratégia de embarcar em polêmicas, avalizadas por Eduardo Cunha, para enfraquecer o governo. No entanto, alguns textos são tão espinhosos que dividem até os oposicionistas.

Segundo o tucano Bruno Araújo, líder da minoria (que engloba PSDB, PPS, DEM e Solidariedade), não há uma preocupação de se ter uma unidade em votações deste tipo. Para o tucano, como não há consenso sobre temas que para ele são de comportamento, a bancada libera seus deputados para votar de acordo com suas convicções.

“Quando se tem uma posição mais hegemônica das pautas, é possível tirar proveito e isolar o governo”, diz Araújo. Para ele, é possível explorar o discurso de que o governo está descolado das demandas da população. Ele cita o exemplo da redução da maioridade penal. “Segundo as pesquisas, 90% da sociedade aprovava, destoando do governo”.

Com um pensamento diferente e em tom de crítica, o vice-líder da minoria Raul Jungmann (PPS-PE) afirma que “é um equívoco” apoiar projetos conservadores. “Uma parte de nós entende que é uma forma de acelerar a derrota do PT. É um equívoco. Nesta segunda, se chega ao poder, terá que lidar com essa pauta antidemocrática”.

A cientista política Sandra Starling analisa que caminhar a reboque do “oba-oba” é um risco. “A impressão que fica quando se encampa bandeiras que você já foi contra um dia é de que são todos farinha do mesmo saco”, avalia.

O cientista político e professor da PUC-SP e da Unesp Antônio Mazzeo avalia que falta à oposição uma postura “responsável” diante, segundo ele, do fortalecimento de “pensamentos retrógrados”. “São pautas políticas. Alguns projetos, como o da maioridade, extrapolam os limites da constitucionalidade. São pautas articuladas por um projeto político reacionário, em descompasso com o pensamento contemporâneo”, afirma. Bruno Araújo (PSDB-PE) discorda.

Para ele, o que une a oposição são assuntos da política macroeconômica e de oposição ao governo. “Estes temas (Estatuto da Família, desarmamento e aborto) são comportamentais. Liberamos a bancada”. Para o deputado federal mineiro Reginaldo Lopes (PT), “a oposição não tem sido feita ao governo, mas ao próprio Brasil”.

Fonte: O Tempo

Maurílio Fontes

Proprietário, jornalista, diretor e responsável pelo Portal Alagoinhas Hoje

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