Todos querem Lula – Ascânio Seleme

Antes da leitura da coluna de Ascânio Seleme, publicada em O Globo neste sábado (5), julgo conveniente informar às leitoras e aos leitores que o jornalista é um dos principais porta-vozes da família Marinho, proprietária do matutino fluminense/carioca. Portanto, a coluna “Todos querem Lula” pode demonstrar mudança de rota do conglomerado de comunicação e a tentativa de aproximação com o petista, líder absoluto em todas as pesquisas publicadas até agora. Maurílio Fontes. Editor do site Alagoinhas Hoje.

Cada vez mais, grandes e distintos contingentes da sociedade brasileira parecem ter optado por Lula em 2023. Até dois meses atrás, ainda se ouvia aplausos a Bolsonaro em escritórios e auditórios da Faria Lima, em São Paulo. Antes do ano passado terminar, era possível identificar apoios sinceros ao presidente em alguns nichos do agronegócio mais moderno. No Congresso, os suportes ideológicos que obteve foram estridentes até o sete de setembro. Mesmo no Judiciário, Bolsonaro contou com alguns simpatizantes declarados. Hoje, iniciado o ano eleitoral, o silêncio é dominante. Mais do que isto, há claros indícios de que a opção é manter Bolsonaro no páreo para que a vitória seja de Lula.

A blindagem em torno de Bolsonaro nos tribunais superiores e mesmo no Congresso é o mais evidente sinal de que preservar o mandato do presidente significa ajudar a consolidar a candidatura de Lula. Explico. Entre os parlamentares, todos sabem muito bem como é fácil e vantajoso trabalhar com Lula. O ex-presidente sabe dividir poder e compartilhar responsabilidades. Com Bolsonaro foi um parto. Ele só cedeu quando a casa já estava caindo. E, mais, o presidente não é confiável. Nunca foi, e os parlamentares que conviveram com ele por 30 anos sabem disso. Se fosse reeleito, poderia facilmente trair sua base. Para o Congresso, Ciro mete medo, Moro é uma incógnita e a terceira via não existe. Por isso, o melhor mesmo e o viável é Lula.

No Supremo Tribunal Federal, pelo menos sete ministros também trabalham com a certeza que o melhor a fazer é deixar este ano escorrer, com Bolsonaro na cadeira, mesmo que seja sofrido e cause ainda alguns danos à sociedade. Dois deles, André Mendonça e Nunes Marques, foram indicados por Bolsonaro e ainda vivem o período de lua de mel com o presidente e vão defendê-lo com a tranquilidade dada pela boa vontade dos demais. Os outros cinco expressam esta opinião com alguma reserva, mas nos bastidores admitem que a blindagem que os tribunais fazem em torno de Bolsonaro não significa respeito ou apoio ao presidente. O que se quer é manter Bolsonaro no cargo para que ele enfrente e seja derrotado por Lula em outubro.

Fora Luiz Fux, que preside o tribunal, e desta posição o melhor é não fazer muito barulho; Rosa Weber, que se ampara sempre em seu dogmatismo; Alexandre de Moraes, relator dos casos que envolvem o presidente e sua família; e Cármen Lúcia, que não gosta e não participa de conversas paralelas, os demais estão convencidos de que Lula vence a eleição talvez ainda no primeiro turno se a candidatura de Bolsonaro for mantida. Para isso, seu mandato não pode ser interrompido e seus direitos políticos devem ser por ora preservados. O ajuste de contas virá depois, quando o capitão voltar para a planície.

Mesmo o procurador-geral Augusto Aras, conhecido por seu reiterado protagonismo na blindagem do presidente, sabe agora que é melhor mesmo segurar Bolsonaro no cargo até a eleição. Não porque descobriu isso de repente, mas sim porque gosta de fazer política e vem conversando com gente do PT. Um de seus interlocutores é o senador pela Bahia Jaques Wagner. Aras é baiano, conviveu muito com Wagner ao longo dos anos e mantém com ele uma relação cordial. Quando o PT era governo, Aras já estava na PGR. Segundo um procurador que o conhece bem, Aras é um “bolsonarista fingido”. Ele é governista, não importa o matiz ideológico.

Este é o cenário do momento. A blindagem do presidente deve ser avaliada levando-se em conta este contexto. Verdade que tudo pode desmoronar se o inesperado ocorrer, como observou Merval Pereira na sua coluna de volta das férias, e Bolsonaro renunciar para concorrer a um mandato legislativo e manter o foro privilegiado. Aí a história será outra. E até mesmo o vice Mourão, que hoje procura um cargo para disputar no Rio, será relevante porque então estará ocupando a principal cadeira do Planalto. A hipótese é difícil, até porque foro não dará a Bolsonaro segurança. Muita gente, em todas as instâncias da Justiça, espera com ansiedade a hora de lhe entregar a fatura.

 

Maurílio Fontes

Proprietário, jornalista, diretor e responsável pelo Portal Alagoinhas Hoje

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