Mulheres de menor renda podem definir eleição

A menos de quatro meses da disputa presidencial, um terço do eleitorado brasileiro não tem candidato. A atual rejeição aos nomes que tentam consolidar sua candidatura, porém, não é uniforme: a indefinição do voto feminino hoje é muito superior a do masculino, indicando que a escolha delas terá um peso importante para definir o quadro eleitoral daqui para frente. As mulheres representam 52% do eleitorado brasileiro, segundo dados do TSE (Tribunal Superior Eleitoral).

E a incerteza delas se intensifica ainda mais com a saída do ex-presidente Luiz Inácio Lula da Silva (PT) da disputa, cenário hoje mais provável devido à sua condenação em segunda instância por corrupção passiva e lavagem de dinheiro. Segundo a última pesquisa do Instituto Datafolha, se a eleição presidencial tivesse ocorrido no início de junho com outro petista na disputa (Fernando Haddad ou Jaques Wagner), 41% das eleitoras brasileiras não teriam escolhido qualquer candidato. Essa é a soma das que responderam que não sabiam ainda em quem votar ou que votariam em branco ou nulo. Já no caso dos homens, esse percentual cai para 25%.

Quatro anos atrás, em junho de 2014, quando Dilma Rousseff (PT) concorria à reeleição contra Aécio Neves (PSDB) e Eduardo Campos (PSB), a indefinição entre os homens era parecida (24%), mas entre as mulheres menor do que agora (34%). Cruzamentos das respostas de intenção voto disponibilizados pelo Datafolha a pedido da BBC News Brasil mostram que o percentual de indecisão das eleitoras é ainda maior entre as de menor renda (45% das que ganham até dois salário mínimos) e supera metade do eleitorado feminino no Nordeste (52% das moradoras daquele região estão sem candidato).

Em meio a essa indefinição, o deputado Jair Bolsonaro (PSL) desponta como líder nas pesquisas com até 19% de intenção de voto, apoiado principalmente pelo eleitorado masculino, seguido dos outros pré-candidatos Marina Silva (Rede, com até 15%), Ciro Gomes (PDT, até 11%) e Geraldo Alckmin (PSDB, máximo de 7%). Se considerado apenas o eleitorado feminino, a líder é Marina, com 17%, contra 12% de Bolsonaro, aponta o Datafolha – entre os homens, a situação se inverte, com os dois recebendo 12% e 26%, respectivamente. Quando analisada a renda, a ex-senadora é líder apenas entre as pessoas com até dois salários mínimos, enquanto o deputado aparece na ponta em todas as outras faixas. O mesmo acontece regionalmente: ela está à frente no Nordeste, e ele, em todas as outras regiões.

Diante do alto número de indecisas, o candidato que conseguir atrair o eleitorado feminino de menor renda, em boa parte órfão de Lula, terá mais chances de passar ao segundo turno, afirma Rafael Cortez, cientista político da consultoria Tendências. “A definição do cenário deve vir mais da redução dos indecisos do que da mudança de quem já escolheu um candidato. Nesse sentido, a mulher da baixa renda do Nordeste é o primeiro eleitor que pode mudar a cara da campanha”, avalia Cortez. “Difícil saber como o eleitorado feminino vai se comportar, mas sem dúvida elas vão ser importantes para definir (a eleição) porque os votos brancos e nulos vão ser disputados a tapa”, acredita também a cientista social e antropóloga Rosana Pinheiro-Machado, professora na Universidade Federal de Santa Maria (UFSM), no Rio Grande do Sul, que estuda o eleitor de Bolsonaro ao lado da antropóloga Lúcia Scalco.

Fonte: BBC Brasil 

Maurílio Fontes

Proprietário, jornalista, diretor e responsável pelo Portal Alagoinhas Hoje

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