Medíocre – Max Gehringer

Vamos começar pelo meio. ‘Meio’ é uma palavrinha que surgiu sem muitas ambições há dois mil anos (o latim ‘medium’, o ponto central). Mas ela cresceu, evoluiu, e ganhou aplicações nos mais variados campos da atividade humana. E, em alguns dos casos, já nem reconhecemos mais a palavra original. É o caso de ‘medalha’, uma antiga moeda dos romanos, que valia meio denário.

Mas há também derivações mais modernas do meio. Por exemplo, a mídia. Ou seja, os diferentes meios de fazer uma mensagem chegar ao consumidor. A palavra latina ‘media’ era a forma plural de ‘medium’. Mas os norte-americanos, quando a adotaram na publicidade, pronunciaram ‘media’ à inglesa, trocando o som do ‘e’ pelo som do ‘i’. E nós não apenas copiamos o som, como ainda trocamos a letra na grafia. Evidentemente, como mídia é plural, deveríamos dizer ‘as mídia’. Mas isso não é recomendável, porque aí seríamos confundidos com ‘os mano’, que falam ‘as mina’.

Médium, diretamente do latim, ganhou uma conotação espiritual, o da pessoa capaz de servir como meio de comunicação entre dois mundos, o dos mortos e o dos vivos. Chico Xavier foi o mais famoso de nossos médiuns. O meio também deu origem ao ‘intermediário’, o que se coloca entre duas situações para tentar resolvê-las. E à palavra ‘imediato’, com o sentido de encontrar rapidamente um meio de solucionar um problema. No campo das Ciências, a Matemática criou a média, a Geometria criou a mediana, e os botequins criaram a média de café com leite.

Finalmente, de meio em meio, chegamos ao medíocre. Em sua origem, essa palavra significava apenas ‘normal’. Uma pessoa de estatura média, por exemplo, que não se diferenciava das demais por sua altura, era considerada medíocre, e não se sentia ofendida com isso, muito pelo contrário. Com o passar do tempo, entretanto, a mediocridade começou a ganhar uma conotação pejorativa. Principalmente a partir do século XX, saber e fazer o básico, o indispensável, o que todo mundo também sabe e também faz, lentamente foi deixando de ser algo positivo, para se tornar uma deficiência.

Agora, o importante é ter um diferencial. Ironicamente, isso fez com o medíocre de ontem, o que estava confortavelmente ‘na média’, se tornasse o medíocre de hoje, o que está abaixo da média. Como conseqüência, os padrões de avaliação aumentaram. Dizer que um funcionário é ‘apenas esforçado’ significa depreciá-lo, como se o mero esforço já não tivesse valor algum. E é exatamente por isso que as pessoas normais sofrem tanto no mercado de trabalho. Elas sabem que, na média, desempenham direitinho suas funções. Mas as empresas querem mais. Muito mais. Na visão da empresa, o funcionário normal está muito mais próximo do desemprego do que de um aumento de salário.

Eu tinha um sábio chefe que dizia: “Invista em você. Não pare de estudar. Não perca nenhuma chance de fazer propaganda de seus méritos. Costure alianças políticas. Crie um sólido círculo de relacionamentos. No mercado de trabalho, não há mais meio-termo. Se você se sobressair, sofrerá com a inveja alheia. Se não se sobressair, sofrerá com as cobranças. Portanto”, recomendava meu chefe, “Já que é para sofrer, sofra por ser diferente, e não por ser igual”.

*Max Gehringer é autor de diversos livros sobre carreiras e gestão empresarial, tornou-se conhecido por suas colunas na rádio CBN e no programa Fantástico, da TV Globo

Maurílio Fontes

Proprietário, jornalista, diretor e responsável pelo Portal Alagoinhas Hoje

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